Teerã e Caracas assinaram novos memorandos de entendimento para expandir a cooperação no setor de energia, em 14 de abril, em face das sanções econômicas impostas aos dois países, informou a Agência de Notícias da República Islâmica.
Os acordos sobre petróleo, gás, reconstrução e renovação de refinarias de petróleo foram assinados entre o ministro iraniano do Petróleo, Javad Owji, e seu homólogo venezuelano, Pedro Rafael Telleche, para aumentar a capacidade dessas instalações em Caracas, informou o site de notícias Iran Front Page.
Eles também incluem a reconstrução e modernização dos complexos petroquímicos venezuelanos por meio de serviços técnicos, engenharia e equipamentos iranianos, bem como a revisão e modernização de docas de carga e terminais de petróleo, comércio e exportação de petróleo, condensado de gás e produtos petrolíferos.
“A relação vai além dos interesses econômicos; é uma relação muito mais profunda que não transcende à opinião pública”, disse à Diálogo Juan Francisco Contreras, presidente do Colégio de Internacionalistas da Venezuela, em 9 de maio. “É uma relação baseada na opacidade.”
Embora a Venezuela desfrute do que se acredita que sejam os maiores depósitos de petróleo do mundo, anos de má administração, corrupção e problemas de manutenção prejudicam drasticamente sua capacidade de produção e refino, mostra a plataforma Iran International.
Relacionamento negativo
Teerã tem décadas de experiência na criação de esquemas de neutralização para romper sanções e está ajudando o regime de Nicolás Maduro a evadir as sanções dos EUA, ao estabelecer um esquema de ouro por gás, informa na internet o Centro para uma Sociedade Livre e Segura, com sede em Washington D.C.
“A questão da situação econômica […] é usada como propaganda pelo governo venezuelano”, disse Contreras. “Embora o Irã apoie a Venezuela em várias questões, ele tem pouco sucesso. A crise da gasolina e dos derivados de petróleo continua basicamente.”
Ele também detalhou que a gasolina iraniana distribuída pelo regime de Maduro é de má qualidade, o que causa avarias nos carros na Venezuela. Centenas de veículos foram danificados na região de Zulia por causa do combustível mal refinado distribuído pela estatal Petróleos de Venezuela, informou a plataforma Voz da América (VOA), em 26 de abril.
Os Estados Unidos consideram esses dois países como violadores dos direitos humanos e patrocinadores do terrorismo, além de acusá-los de outros comportamentos maléficos, disse a VOA. “São países antidemocráticos […]; eles não respeitam o direito internacional”, acrescentou Contreras.
Os dois países desenvolvem uma relação muito forte que é muito negativa para a democracia, os direitos humanos e os valores ocidentais, disse à VOA Julio Borges, exilado e membro do partido de oposição venezuelano Justiça Primeiro.
Propaganda aberta
O Irã e a Venezuela têm pouco a oferecer um ao outro. Esses Estados não têm acesso ao capital global. Ambos estão economicamente isolados do resto do mundo, não estão em posição de ajudar-se mutuamente, por isso é benéfico parecerem amigos, relata na internet o diário Asia Times.
“O regime [venezuelano] está cada vez mais sozinho, cada vez mais isolado da comunidade internacional, e está tentando vender o apoio do Irã, Rússia, Turquia, Cuba e Nicarágua como países que apoiam o país”, disse Contreras. “Isso faz parte da propaganda para mostrar que a Venezuela não está sozinha em nível internacional.”
Ele também disse que o benefício que Caracas oferece a Teerã é sua localização geopolítica geoestratégica. “Ela serve como um aliado na região para os interesses iranianos. Muitos iranianos vêm para a Venezuela. O que interessa a Maduro […] é a questão política e […] a questão militar”, acrescentou.
Os interesses iranianos na América Latina vão desde o aumento da influência internacional, a desestabilização dos EUA, a obtenção de moeda estrangeira por meio de lavagem e geração de ativos, até a apropriação de recursos naturais, relata na internet o Instituto Espanhol de Estudos Estratégicos (IEEE).
Nos últimos anos, Maduro estreitou os laços com países que também sofrem sanções e sabem como contorná-las, como a Rússia e Cuba, afirma na internet a plataforma argentina Infobae.
“A presença de iranianos e de pessoas de outros países que são diferentes de nossa cultura é algo estranho para os venezuelanos comuns, que não tem nada a ver com nossa tradição. É como uma ocupação política de nosso país e está tentando mudar nossos valores democráticos”, concluiu Borges na VOA.