O lançamento de uma linha marítima direta entre o Irã e a Venezuela faz parte de acordos conjuntos entre Teerã e Caracas, para contornar as sanções impostas pelos EUA aos dois países, de acordo com o site de notícias Iran Front Page.
Desde que a linha marítima foi lançada em fevereiro, dois navios transportando “produtos iranianos” chegaram aos portos venezuelanos, informou o site iraniano. O acordo estipula que um navio navegue das costas iranianas para a Venezuela a cada três meses. O terceiro navio partirá em maio, informou a Agência de Notícias da República Islâmica (IRNA).
“Nunca se sabe realmente se estes anúncios [iranianos] têm a ver com coisas muito concretas ou se têm simplesmente como único objetivo mostrar […] a nível global e à sua própria população que é um ator mundial”, disse à Diálogo Paulo Botta, diretor do programa executivo sobre o Oriente Médio Contemporâneo da Universidade Católica da Argentina, em 31 de março.
Até agora, os dois maiores fabricantes de automóveis do Irã, Iran Khodro e Saipa, usam a linha de navegação direta para enviar automóveis para Caracas, informou o canal baseado na Venezuela TeleSUR. Em junho de 2022, os dois países assinaram um acordo de parceria de 20 anos em áreas como mineração, petróleo, gás e energia.
“Tanto a Venezuela quanto o Irã não são economias relevantes no mundo. Além disso, eles têm uma quantidade enorme de problemas cada um, devido à má administração e níveis muito altos de corrupção”, afirmou Botta. “Quando o Irã vê países como a Venezuela, ele os vê em termos de fundos ou recursos […] para continuar a sobreviver.”

O embaixador do Irã na Venezuela, Hojatollah Soltani, descreveu a rota marítima direta em 2022 como um “elo perdido” nos laços entre os dois regimes, relata o site americano Safety4sea. O Irã está preparado para usar navios pesados para expandir os embarques para Caracas, observou IRNA.
“A mesma coisa aconteceu com a rota direta de voos entre Teerã e Caracas. Eles próprios o vendem como se fosse muito relevante”, comentou Botta. “O que o Irã está fazendo, especialmente com a Venezuela, é chegar a países da região que de outra forma não conseguiria alcançar.”
Maior complexidade
O Irã está contribuindo para o crescimento do crime organizado na América Latina. Por mais de duas décadas, o grupo terrorista Hezbollah, patrocinado pelo Irã, tem operado na região chamada Triple Fronteira, entre Argentina, Brasil e Paraguai, como parte de uma economia ilícita para financiar as operações do grupo em outras partes do mundo, informou o jornal mexicano El Heraldo.
A Organização de Segurança Externa do Hezbollah está ativa na Venezuela através de uma rede de apoio formada pela economia ilícita (drogas, ouro, armas, contrabando etc.) do regime de Nicolás Maduro, que fortalece o movimento global de fundos, pessoas, produtos e materiais ilícitos do grupo terrorista, mostra online o think tank de segurança Centro para uma Sociedade Livre e Segura, com sede em Washington, D.C.
“As mesmas redes que o Hezbollah usa para lavar ativos para grandes sindicatos do crime organizado são usadas para fornecer logística para outras atividades, como planejar atentados, disse Emmanuele Ottolenghi, pesquisadora da Fundação para a Defesa das Democracias, sediada nos EUA, à plataforma argentina Infobae.
“O problema não é apenas o Irã e o Hezbollah, mas todas aquelas estruturas que são muito permeáveis, corruptas, que são usadas por todos, incluindo o Hezbollah e o Irã, e alguns países como a Rússia”, ressaltou Botta. “Isto é muito mais complexo e muito mais difundido, em uma região onde as redes criminosas são tremendamente ativas.”
Fortalecimento dos laços
Para ganhar maior influência no mundo, o Irã está olhando para a América Latina. Entre 26 de fevereiro e 3 de março, dois navios de guerra da Força Naval do Exército Iraniano, sancionados pelos EUA, atracaram no porto do Rio de Janeiro, para mostrar o crescente poder militar e naval do Irã, informou a CNN.
Em janeiro, Teerã anunciou seu desejo de que sua Marinha passasse pelo Canal do Panamá pela primeira vez em 2023, em seu objetivo de ampliar seu alcance marítimo, informou o diário espanhol ABC. O Irã foi sancionado em várias ocasiões por seu comportamento maligno, como a promoção do terrorismo, indica em um relatório de final de 2022 o instituto de pesquisa Centro Wilson.
O regime bolivariano recebeu em junho de 2022 o segundo navio-tanque de fabricação iraniana para a frota da empresa estatal de energia da Venezuela, PDVSA. O petroleiro faz parte de um grupo de quatro petroleiros acordados entre os dois regimes, mostra na internet o regime venezuelano.
O eixo Irã-Caracas também promove todos os tipos de negócios transnacionais opacos, incluindo a mineração ilegal e o ouro de sangue, detalha Infobae. A presença iraniana não traz nada de positivo para os povos latino-americanos. Ela procura dar poder aos ditadores e se engajar na geopolítica de alta tensão, afirma.
“O que temos que fazer é fortalecer os laços entre os protagonistas responsáveis na região, tendo em mente que certos atores não vão mudar seu comportamento, como a Venezuela e a Nicarágua”, disse Botta. “Se os países da região estão realmente interessados em melhorar e colaborar para a segurança regional, eles devem fazê-lo juntos, é um ponto fundamental”, ressaltou.