O Almirante de Esquadra Alberto Alcalá Luna assumiu o comando da Marinha de Guerra do Peru em 3 de agosto de 2021. Desde então, sua missão tem sido assegurar a defesa marítima, fluvial e lacustre do Peru.
O Alte Esq Alcalá conversou com Diálogosobre os avanços institucionais na luta contra as organizações criminosas, a mineração ilegal, bem como seus avanços tecnológicos, entre outros tópicos.
Diálogo: Como a Marinha de Guerra contribui para o esforço nacional contra as organizações criminosas ilegais?
Almirante de Esquadra Alberto Alcalá Luna, comandante da Marinha de Guerra do Peru: A Marinha de Guerra do Peru, através da Diretoria Geral de Capitanias e Guarda-Costas (DICAPI), que é a autoridade marítima e a guarda costeira nacional, tem sido capaz de enfrentar as diferentes ameaças existentes, com abordagens prospectivas destinadas a maximizar os trabalhos de vigilância e controle, segurança da vida humana, proteção do meio ambiente e repressão de atividades ilegais, para as quais nosso pessoal e as unidades de guarda-costas estão em constante treinamento e destacamento operacional.
A tecnologia de satélite e as ferramentas digitais com as que se conta hoje em diatornam possível controlar o movimento marítimo comercial no ambiente aquático nacional. Neste sentido, a Autoridade Marítima Nacional monitora permanentemente o panorama marítimo nacional, com uma responsabilidade internacionalmente assumida para casos de busca e resgate até 3.000 milhas náuticas.
Da mesma forma, na Amazônia, participa do apoio à Polícia Nacional do Peru nas áreas declaradas em estado de emergência (províncias de Putumayo e Mariscal Ramón Castilla, da região de Loreto), em estrito cumprimento e respeito aos direitos humanos.
Da mesma forma, no Vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM), tem lutado para consolidar a paz nacional, contribuindo para o desenvolvimento social da comunidade, através de ações coordenadas com as autoridades locais, levando assim a presença do Estado às populações vulneráveis.
Diálogo: As operações da Marinha de Guerra deram duros golpes na luta contra a mineração ilegal. Como obtêm sucesso nessas operações?
Alte Esq Alcalá: O Ministério Público, a Polícia Nacional do Peru e o DICAPI, no âmbito de suas competências, realizam ações de interdição de forma independente e coordenada, com o objetivo de reduzir a presença de grupos que realizam essa atividade ilegal e afetam o ecossistema.
O DICAPI é responsável pelo Comando de Operações de Guarda-Costas, que é responsável pelo desenvolvimento das operações contra a mineração ilegal, em coordenação com os chefes dos distritos de capitanias e de capitanias portuárias.
A mineração ilegal tornou-se uma atividade muito lucrativa para esses grupos que operam fora da lei, razão pela qual é muito importante reforçar as operações de inteligência financeira que buscam controlar a lavagem de dinheiro, bem como a implementação contínua de uma legislação estrita que permita processar pessoas e organizações ligadas à mineração ilegal. O sucesso das operações é um reflexo do fortalecimento permanente do sistema de vigilância e controle nos rios onde essa atividade ilegal ocorre, o que representa um desafio diário para as ações de patrulhamento nas áreas da Amazônia peruana, onde se participa com representantes de outros setores. É muito importante proteger essas áreas com programas alternativos de desenvolvimento e recuperação dos ecossistemas que evitem que sejam afetadas por atividades extrativistas ilegais.
Diálogo: O Peru tem aproximadamente 14.000 quilômetros de rios navegáveis e quase 3.000 quilômetros de fronteira fluvial entre o Brasil e a Colômbia. Como o senhor patrulha essas fronteiras para evitar as ações de grupos ilegais?
Alte Esq Alcalá: Na Amazônia, a Marinha de Guerra do Peru efetua a patrulha e ocontrole fluvial da fronteira por meio de barcos de interdição fluvial designados aos quatro destacamentos navais, sob as ordens do Comando Geral de Operações daAmazônia; há também postos e unidades de controle fluvial sob as ordens da Autoridade Marítima Nacional, que controla e reprime as atividades ilegais. O Comando Conjunto das Forças Armadas, através do componente Naval do Comando Operacional da Amazônia, possui o Sistema de Vigilância de Fronteiras, que estabelece meios e medidas para o controle fluvial de embarcações e pessoas, permitindo a inspeção e identificando as atividades ilegais no rio Putumayo, rio Amazonas e afluentes.
Diálogo: Que tipo de treinamento e operações conjuntas realizam com os Estados Unidos?
Alte Esq Alcalá: Os principais exercícios conjuntos realizados com a Marinha dos EUA são:
– UNITAS: O mais antigo exercício naval contínuo do mundo, que reúne recursos e pessoal naval das marinhas das Américas, demonstrando suas capacidades de guerra naval.
IMPAC: O exercício é realizado de forma bienal, é de âmbito global e exige de seus participantes um alto nível de prontidão e capacidade de interoperabilidade.
SIFOREX: É um exercício que conta com a participação de unidades submarinas e plataformas navais com capacidade antissubmarina de ambos os países, no qual se enfatiza a interação dos meios na guerra antissubmarina.
SUBDIEX: Este é um exercício realizado com unidades da Marinha dos EUA e unidades da Força de Submarinos do Peru.
SOLIDAREX: Este é o Exercício Multinacional de Operações Anfíbias de Ajuda Humanitária, que conta adicionalmente com a participação de meiose pessoal das marinhas do Equador, Colômbia e México.
PANAMAX: Este é um exercício planejado anualmente pelo Comando Sul dos EUA, que conta com a participação de países da região.
Diálogo: Que inovações tecnológicas apresenta o Centro de Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico?
Alte Esq Alcalá: A Marinha de Guerra do Peru vem promovendo a atividade científica; é por isso que desde 2020 está em funcionamento a Direção de Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico (DINCYDET), que gerencia essa atividade junto com as forças operacionais para incrementar suas capacidades, com base na modernização dos equipamentos e no desenvolvimento de novos sistemas que nos permitem reduzir a brecha tecnológica.
Entre os desenvolvimentos atuais dos projetos emblemáticos estão: a automação dos sistemas de engenharia das unidades de superfície, o desenvolvimento do sistema de ligação de dados táticos e a atualização contínua de nosso sistema de gerenciamento de combate. Também estamos realizando pesquisas científicas para futuros projetos destinados a incrementar nossa capacidade de mísseis e implementar técnicas de inteligência artificial.
Com relação a essas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, como projeto concluído, contamos com o Projeto Varayoc, um sistema de gerenciamento de combate que substituiu o sistema original das fragatas de mísseis da classe Lupo, permitindo o desenvolvimento de um sistema de Comando e Controle, que integra os sensores e armas de uma fragata de mísseis e permite o compartilhamento de recursos através de um link para a transmissão de informações entre unidades. Da mesma forma, como teste do projeto, durante o transcurso do UNITAS 2021, a Fragata de Mísseis B.A.P. Bolognesi (FM-57) disparou pela primeira vez e com sucesso rotundo nolançamento do míssil antinavio MBDA MM-40 Bloco III Exocet contra um alvo, neste caso o B.A.P. Callao (DT-143), antigo navio de desembarque localizado a cerca de 170 quilômetros de distância, a maior distância alcançada em exercícios similares na América.
Outro projeto concluído é o Projeto Kallpa, que se refere ao desenho e implementação de um sistema de combate integrado através do desenvolvimento de um sonar, sistema de controle de tiro, sistema de plotagem na mesa de comando e controle para unidades submarinas, recebendo informações dos diversos sensores e equipamentos elétricos, como parte da modernização de 209 navios;esse sistema funde os dados do sonar para apresentá-los no sistema de plotagem e fornece dados para o sistema de controle de tiro.
Diálogo: Que progressos a Marinha tem feito em termos de inclusão e equidade?
Alte Esq Alcalá: A Marinha peruana promove ações concretas com o objetivo de reduzir as lacunas e promover uma cultura de inclusão e equidade, de acordo com os regulamentos e políticas do Estado.
Historicamente, a incorporação da mulher na Marinha de Guerra do Peru começou com o serviço militar ativo sem quartel, estabelecido pelo Decreto Lei 20788 de 12 de novembro de 1974. Posteriormente, foi permitido o acesso das mulheres às Escolas de Oficiais e de Graduados das Forças Armadas, com a promulgação da Lei 26628 de 20 de junho de 1996; desde então, tem havido pessoal profissional e técnico feminino na instituição, assumindo posições com igualdade de oportunidades como opessoal masculino, promovendo assim o início de uma cultura de igualdade baseada na meritocracia.
Por outro lado, pela Resolução nº 0652-2020de 30 de outubro de 2020, o Comando Geral da Marinha criou o Comitê de Igualdade de Gênero.
Temos regras, disposições e procedimentos para a prevenção, investigação e punição do assédio sexual e existem regulamentos para a gestão das instalações de amamentação. Esses são regulamentos que contribuem para a consolidação da vida familiar e do trabalho de nosso pessoal feminino, incentivando sua contínua participação no local de trabalho.
Diálogo: Como a Marinha de Guerra está fortalecendo suas capacidades de operações de informação para combater a desinformação e as mensagens falsas que deslegitimam a força pública em suas ações?
Alte Esq Alcalá: A Marinha de Guerra do Peru, através de sua Diretoria de Informação, desenvolve permanentemente um conjunto de estratégias de comunicação visando projetar sua identidade (funções, papéis, valores, princípios, entre outros), o que gera confiança e mantém uma alta reputação entre a população, atores fundamentais que permitem salvaguardar a imagem institucional, quando se procura afetá-la.
Da mesma forma, combater a desinformação e mensagens falsas requer uma resposta oportuna e eficaz, e é por isso que a Marinha de Guerra concentra seus esforços em manter e incrementar as seguintes capacidades:
– Monitoramento permanente dos meios de comunicação e dos detratores para detectar possíveis publicações negativas que possam se transformar em uma crise.
– Análise de sentimentos em redes sociais para definir o público-alvo e sobre o qual será projetada a estratégia de comunicação da resposta.
– Gerenciamento de riscos (procedimentos e diretrizes) devidamente internalizados e treinados por todos os atores participantes.
– Porta-vozes previamente selecionados, de acordo com a área de conhecimento exigidoe as habilidades suaves requeridas, e capacitados para responder com assertividade à mídia e à opinião pública.
– Canais institucionais externos robustos (redes sociais, website, podcast), o que implica ter um número adequado de seguidores leais, capazes de ecoar a resposta institucional, em quantidade e qualidade.
– Estreito relacionamento com os meios de comunicação, os quais possam retransmitir, de acordo com a necessidade institucional, a mensagem de resposta requerida.
– Promotores corretamente identificados e atualizados, de modo que sejam convidados a participar do esforço institucional, como um vetor externo de resposta.