A empresa estatal Yacimientos de Litio Boliviano (YLB), juntamente com as empresas chinesas CATL, BRUNP e CMOC (CBC), construirá duas usinas de produção nas salinas bolivianas de Uyuni e Coipasa, usando a tecnologia EDL (extração direta de lítio), que estarão prontas em 2025, de acordo com o jornal espanhol El País.
Cada uma dessas usinas terá uma capacidade de produção direta de 25.000 toneladas por ano de carbonato de lítio com grau de bateria, ou seja, de alta pureza, segundo o acordo assinado entre a Bolívia e os consórcios chineses em janeiro, informou o jornal espanhol.
No entanto, “a Agência Internacional de Energia estabelece que, para alcançar a produção industrial de aproximadamente 8.000 toneladas de carbonato de lítio ou outro sal por ano, são necessários entre seis e 19 anos”, disse à Diálogo Gonzalo Mondaca, pesquisador associado do Centro de Documentação e Informação da Bolívia, em 3 de maio: “A mudança radical na tecnologia para explorar o lítio boliviano ocorre sem que as autoridades ouçam os cientistas que comentaram em 2014 que, devido às condições climáticas, o sistema de evaporação não funciona em Uyuni.”
A Bolívia tem as maiores reservas de lítio do mundo no salar de Uyuni. Cerca de 85 por cento das reservas de lítio estão localizadas no chamado triângulo do lítio, formado por Argentina, Bolívia e Chile, indica na internet o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais.
Pequim está em busca desse metal precioso. As empresas chinesas estão há anos procurando lugares para abastecer-se do chamado ouro branco em diferentes partes do mundo, especialmente na América Latina, para fabricar baterias usadas em carros elétricos, relata na internet o jornal guatemalteco Prensa Libre.
O salar de Uyuni tem uma concentração menor de íons de lítio, em comparação com os salares da Argentina e do Chile, o que significa custos de extração mais altos, informou a plataforma japonesa Nikkei Asia.
Mondaca destacou que o acordo entre a Bolívia e o consórcio chinês significa novas implicações de violações de direitos para as comunidades e o meio ambiente. O acordo não foi socializado e sua base não foi submetida à consideração de nenhum órgão acadêmico-científico independente, afirmou.
A CBC construirá a infraestrutura, as estradas e as condições necessárias para implementar as usinas e coordenará as atividades de extração com a YLB. Atualmente, as empresas chinesas lidam com quase dois terços do processamento e do refino de lítio do mundo, informa a revista internacional de notícias online The Diplomat, com sede em Washington D.C.
Exploradores
Durante seu depoimento perante o Comitê das Forças Armadas do Senado, em 23 de março de 2023, a General de Exército Laura J. Richardson, do Exército dos EUA, comandante do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), alertou que “a China continua a expandir sua influência econômica, diplomática, tecnológica, informática e militar na América Latina e no Caribe”.
Pequim expandiu sua capacidade de extração de recursos e obtém 36 por cento de suas importações de alimentos da região e 75 por cento de seu lítio da América do Sul, disse a Gen Ex Richardson.
O Plano Nacional de Recursos Minerais da China de 2016 identifica o lítio como fundamental para proteger a segurança econômica nacional, a segurança da defesa nacional e o desenvolvimento de indústrias estratégicas emergentes, informa na internet o portal britânico BBC.
As empresas chinesas dominam os investimentos em lítio na América Latina. Suas aquisições de lítio estão no México, bem como no chamado triângulo do lítio, observou o jornal mexicano El Economista, em janeiro.
“Das empresas da Rússia, China e Estados Unidos, envolvidas na industrialização do carbonato de lítio boliviano, as empresas norte-americanas são as mais avançadas no desenvolvimento de experiências no terreno, para implementar os sucessos obtidos em laboratório”, disse Mondaca.
No século XVI, exploradores espanhóis encontraram montes de prata em Potosi, na Bolívia. Os investidores chineses acreditam ter encontrado seu próprio filão de um tipo diferente, informou a revista Foreign Policy (FP), em 27 de fevereiro. Pequim teve sucesso na Argentina, onde pagou US$ 962 milhões para comprar a empresa Lithea Inc.
“Os governos [latino-americanos] sabem que não terão o mesmo nível de qualidade se fizerem parcerias com empresas chinesas”, disse à FP Ryan Berg, diretor do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).
Negócio inacabado
A industrialização do lítio é “inviável” se não forem adotados objetivos estratégicos de sustentabilidade, com base em alianças sociais, intergovernamentais e interinstitucionais que garantam a transparência e a participação inclusiva na tomada de decisões, disse Mondaca. A primeira questão a ser considerada deve ser a poluição ambiental.
Outras tarefas pendentes são a certificação das reservas bolivianas de lítio para a elaboração de um projeto técnico-industrial completo, a estratégia de acesso à energia limpa e renovável, o projeto participativo de gestão de recursos hídricos, o controle da geração de tóxicos e a proteção dos ecossistemas e dos meios de subsistência, destacou Mondaca em sua pesquisa de junho de 2022, Nem tudo o que brilha branco é lítio.
Além disso, “devemos usar todas as alavancas disponíveis para fortalecer nossas parcerias com as 28 democracias da região que pensam da mesma forma”, concluiu a Gen Ex Richardson.