Os regimes da Venezuela e da Coreia do Norte concordaram em fortalecer seus laços políticos bilaterais e multilaterais em “benefício de ambos os países”, disse à imprensa o Ministério das Relações Exteriores venezuelano.
Durante a reunião, em 23 de fevereiro, realizada em Caracas, a vice-ministra da Venezuela para Ásia, Oriente Médio e Oceania, Tatiana Pugh, e o embaixador da Coreia do Norte, Ri Sung Gil, concordaram em fazer visitas “em um futuro próximo”, a fim de fortalecer o crescimento dos laços de amizade e cooperação, informou o diário mexicano Milenio.
Caracas e Pyongyang também trocaram opiniões sobre o papel “importante” que suas nações desempenham “na construção definitiva de uma nova ordem mundial”, disse o comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano.
Embora nenhuma outra informação sobre o encontro tenha sido divulgada, esta não é a primeira vez que os dois países se encontram. Em dezembro, segundo Milenio, ambos concordaram em promover projetos que permitam o desenvolvimento econômico mútuo.
Eles também assinaram um acordo de cooperação esportiva em março de 2022, para apoiarem-se na “formação integral” dos cidadãos, a fim de preservar suas qualidades “físicas e morais”, informou a agência de notícias EFE.
“Estes são discursos simbólicos, porque na prática é muito complicado. A Coreia do Norte é um país isolado que não faz parte dos circuitos do comércio mundial”, disse à Diálogo Mauricio Jaramillo, pesquisador da Faculdade de Ciências Políticas e Governo e Relações Internacionais da Universidade del Rosario, na Colômbia, em 14 de março. “A mesma precariedade com que vive no dia-a-dia a Coreia do Norte, um país distante, não poderia tornar possível uma relação especial com a Venezuela pós [Hugo] Chávez, com menos recursos, forças militares assumindo outro papel, sem garantias de direitos humanos e com uma clara linha autoritária.”
Em seu relatório A liberdade no mundo 2023, a organização sem fins lucrativos dos EUA Freedom House, que defende os direitos humanos e a democracia, classifica os Estados mais e menos livres do mundo. Dos 210 países observados, Coreia do Norte, Irã e Venezuela mostram o maior declínio da democracia.
Triângulo ditatorial
Nos últimos anos, Caracas, Pyongyang e Teerã buscaram uma maior colaboração militar, de inteligência, econômica e cibernética, para escapar das sanções dos EUA, escreve a revista de notícias internacionais The Diplomat, baseada em Washington. O Irã e a Coreia do Norte colaboram no desenvolvimento e na venda de armas.
O programa nuclear do Irã depende dos conhecimentos técnicos da Coreia do Norte, que compra energia do Irã, acrescenta The Diplomat. Os dois regimes podem colaborar em ciberataques e capacidades de defesa e compartilhar informações de inteligência que prejudicam os Estados Unidos e seus aliados.
“Embora a Coreia do Norte não possa substituir o papel monetário da China no apoio à Venezuela, devido à sua própria fragilidade econômica, ela pode fornecer à Venezuela a tecnologia militar avançada e o conhecimento institucional necessário”, relatou The Diplomat.
A Venezuela fecha este triângulo ao facilitar a entrada de militares e terroristas na Venezuela em troca de combustível, alimentos e armas iranianas, enquanto os coreanos oferecem sua experiência para explorar as sanções dos EUA em seu benefício, indica a mídia mexicana Imagen Noticias em um vídeo.
O regime venezuelano também tem uma relação com a Rússia em matéria de defesa e transferência de tecnologia. “Para Moscou, ter a Venezuela é um ‘negócio redondo’”, afirmou Jaramillo. “Moscou está interessado, sem reproduzir o modelo da Guerra Fria com Cuba, porque saiu muito caro, em estar em alguns países da América Latina, onde pode contrabalançar os Estados Unidos através de um processo retórico, porque competir contra os Estados Unidos é muito difícil para a Rússia.”
“Nos próximos anos, estas relações se aproximarão mais”, acrescentou Jaramillo.
Embora os regimes autoritários permaneçam extremamente perigosos, eles não são imbatíveis, concluiu Freedom House em seu relatório.
“Mais do que qualquer outra coisa, cinco décadas de relatórios de Liberdade no Mundo demonstram que a demanda por liberdade é universal. Os anos têm mostrado que os desafios populares aos regimes autoritários são um tema recorrente, mesmo nas sociedades mais repressivas”, disse Freedom House.