A Força Aérea da Argentina (FAA) tem um compromisso muito particular: ser planejadora e executora de operações aéreas combinadas que ajudem a mitigar os efeitos de desastres naturais. Assim iniciou sua palestra o Major-Brigadeiro da FAA Oscar Charadía, comandante de Adestramento e Alistamento, perante os participantes da Conferência de Chefes das Forças Aéreas Sul-Americanas, realizada na Base Aérea Davis-Monthan da Força Aérea dos EUA em Tucson, Arizona, entre 31 de outubro e 3 de novembro de 2017.
O Maj Brig Charadía conversou com Diálogo durante a conferência para falar sobre a sua participação no evento, a cooperação internacional e os desafios de sua instituição para 2018. Alguns temas destacados incluem a constatação de que, com um pessoal de aproximadamente 1.800 oficiais, 8.000 suboficiais e 6.000 agentes civis, a FAA converteu-se em uma organização mais eficaz na atuação com ajuda humanitária. A assistência humanitária e as missões de socorro frente a desastres naturais se converteram em uma das tarefas fundamentais da FAA.
Diálogo: Por que é importante para a FAA participar dessa conferência?
Major-Brigadeiro Oscar Charadía, comandante de Adestramento e Alistamento da FAA: É de suma importância porque, além de nos conhecermos, permite que eu me atualize sobre os avanços que cada força aérea faz, principalmente em relação ao tema de ajuda humanitária frente a desastres naturais. É de extremo interesse porque se aprendem coisas novas, como técnicas e coordenações, e também se aprende como atenuar essa dor provocada por um desastre natural por meio da ajuda humanitária. Todos temos um denominador comum que é o meio aéreo, que nos dá versatilidade, velocidade e nos permite chegar a muitos lugares onde talvez outros meios não consigam fazê-lo. Nessas reuniões, o que analisamos é justamente como podemos revalorizar ainda mais nosso meio e quais ações podemos realizar juntos. Nessa conferência, é gerada uma sinergia de esforços para ampliar ainda mais essa ajuda e chegar com o benefício que corresponda ao que foi danificado.
Diálogo: Qual é a importância da colaboração entre as forças aéreas para responder a desastres naturais?
Maj Brig Charadía: A maioria das missões subsidiárias que as forças aéreas têm é justamente a de ajuda humanitária. A missão fundamental é o controle do espaço aéreo soberano, mas quando uma pessoa é treinada nessa missão principal, ela tem capacidade para enfrentar outras missões subsidiárias. No caso da FAA, contamos com o suporte logístico para apoiar a sociedade em ajuda humanitária, seja dentro ou fora do país. Portanto, é um tema de vital importância poder oferecer ajuda.
Diálogo: Qual é a sua avaliação sobre a cooperação regional entre as forças aéreas?
Maj Brig Charadía: As capacidades de cada força variam em função das possibilidades que cada país tem. As forças que são menores podem aprender muito com as maiores, como é o caso de nossa anfitriã, a 12a Força Aérea dos Estados Unidos, que possui mais meios, tanto em pessoal como em equipamentos. O trabalho do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas é de extrema importância para planejar e executar a ajuda humanitária. Nesse sentido, a FAA é pioneira no que se refere ao trabalho do Estado-Maior sobre como se organizar em uma força combinada, composta por várias forças para poder realizar operações de ajuda humanitária.
Diálogo: Qual é a participação da FAA no Sistema de Cooperação das Forças Aéreas Americanas (SICOFAA)?
Maj Brig Charadía: O SICOFAA, que existe há vários anos e é composto por vários países, está hoje em dia dando uma ferramenta muito valiosa de preparação dos meios, representada em exercícios realizados anualmente chamados “Cooperación”, que já está em sua quarta edição. O exercício Cooperación IV foi realizado na Argentina em 2016; foi um exercício de gabinete do qual participaram cerca de 300 pessoas e onde se trabalhou por meio de um software que a FAA projetou, o Módulo Unificado de Logística Aérea, o MULA, para controlar todos os recursos aéreos desde a distribuição de carga ou ajuda, até as necessidades de combustível, bem como a capacidade e o plano de voo dos aviões.
Diálogo: Em sua palestra sobre a FAA, o senhor falou sobre os diferentes tipos de operações aéreas combinadas na assistência aos desastres naturais. O senhor poderia se aprofundar a esse respeito?
Maj Brig Charadía: Realizamos vários exercícios com o propósito de nos prepararmos para a assistência a desastres. Por exemplo, no final de abril [de 2017], tivemos um desastre natural na cidade de Comodoro Rivadavia [no sul do país], onde fortes chuvas, em pouco tempo e com grande quantidade de água, provocaram o transbordamento de rios e canais, praticamente inundando uma alta porcentagem da cidade. Isso fez com que importantes rotas terrestres, como a que liga a região da Patagônia de norte a sul, ficassem interrompidas. Então, foi preciso criar uma ponte aérea e uma naval. Participamos da ponte aérea com aviões C-130 Hércules e SAAB 340B. Transportamos todo tipo de carga e passageiros. Depois, ajudamos em uma tragédia viária causada pelo acidente de um ônibus na cidade de San Rafael, na província de Mendoza. Esse incidente causou feridos e mortes. A maioria das vítimas eram menores de idade ou jovens, e essa tragédia comoveu o país.
Diálogo: Como a FAA se prepara para 2018 quanto à assistência para desastres naturais?
Maj Brig Charadía: Para 2018, está previsto, no terceiro trimestre do ano, realizar o exercício “Pegasus 2018”, que é um exercício combinado de ajuda humanitária e assistência em emergências. Esse exercício é de caráter internacional e foram convidadas todas as forças aéreas que fazem parte do SICOFAA.
Diálogo: Qual é o objetivo deste exercício?
Maj Brig Charadía: O exercício treinará as forças aéreas em ajuda humanitária. O exercício pretende fortalecer o isolamento e avaliar a doutrina combinada que temos para enfrentar o planejamento e a execução desses eventos, mas principalmente proporcionar uma intervenção confiável a organizações do Estado nacional argentino, como a Defesa Civil, o Ministério da Saúde, enfim, uma série de agências que vão contribuir a partir de sua perspectiva de fazer parte deste exercício.
Diálogo: Como a FAA contribui para enfrentar os problemas de segurança com que o país se depara?
Maj Brig Charadía: Temos um problema que nos aflige que é o narcotráfico. Para enfrentar essa situação, a FAA exerce o controle do espaço aéreo na zona norte em relação aos voos irregulares e ilegais. O voo irregular é aquele que não apresenta nenhum delito, porém transgride uma norma e gera uma infração por não se declarar. E temos também o voo ilegal. Neste caso, a FAA está trabalhando com seus radares, aviões, pessoal designado no norte argentino, fazendo-o em apoio à força de superfície e ao poder judiciário. A FAA detecta o voo, identifica-o seja por meio de comunicações ou enviando aeronaves de caça para identificá-lo e, a partir daí, forçá-lo a pousar, em coordenação com a força de superfície.
Diálogo: Qual é seu principal desafio?
Maj Brig Charadía: Os recursos são sempre escassos, principalmente na aviação. É uma atividade extremamente cara. Os diferentes ajustes orçamentários geram uma diferença significativa no treinamento e na preparação, tanto dos aviões como do pessoal. O desafio é combater essa situação. Estamos trabalhando para tratar de otimizar ao máximo as horas de voo, o treinamento, os simuladores e os cursos para que o pessoal mantenha um estado de formação o melhor possível.
Diálogo: Qual é a participação feminina na FAA?
Maj Brig Charadía: As mulheres estão presentes há muito tempo. As mulheres começaram no quadro de suboficiais e fizeram toda a sua carreira, chegaram ao grau máximo de suboficial e, há cerca de 14 anos, contamos com oficiais de comando egressas da Escola de Aviação Militar nas especialidades de piloto, engenheiro etc. Além disso, temos o corpo de oficiais femininos que são profissionais médicos, dentistas, advogados, enfim, todas as carreiras que não são de comando, mas que são de serviços profissionais e que geram uma contribuição muito importante à atividade da Força Aérea. Nesse sentido, posso afirmar que a mulher está totalmente integrada às fileiras da FAA.
Diálogo: Qual é sua mensagem para as forças aéreas da América Latina?
Maj Brig Charadía: Hoje em dia, as forças aéreas não podem trabalhar sozinhas. Temos de trabalhar juntos, unidos, respeitar-nos sem perder a identidade de soberania em suas decisões, ou seja, obter a sinergia para conseguir uma grande equipe na hora de contribuir para minorar os desastres naturais.