A Polícia Nacional do Peru (PNP) tem golpeado de forma contundente e sistemática o Tren de Aragua, a organização criminosa transnacional mais poderosa da Venezuela, e uma ameaça à segurança da região. O grupo criminoso, originário do estado venezuelano de Aragua, tem a prisão de Tocorón como seu centro de operações, em Aragua, onde seu líder, Héctor Rusthenford Guerrero Flores, conhecido como Niño Guerrero, está preso.
“A polícia peruana conseguiu prender um número significativo de membros do Tren de Aragua que estavam envolvidos no tráfico de pessoas, contrabando de migrantes, assassinatos de aluguel, crime organizado e mineração ilegal”, disse à Diálogo Pedro Yaranga, especialista peruano em questões de segurança e defesa, em 10 de janeiro. “A modalidade utilizada é a extorsão de empresários, mas também crimes de aluguel. As áreas onde operam são principalmente territórios localizados nas regiões de Callao, La Libertad e Arequipa, no Peru.”
O Tren de Aragua conta com cerca de 2.700 membros. Essa organização está presente não apenas na Venezuela e no Peru, mas também em territórios do Chile e do Brasil, na região fronteiriça com a Venezuela.
O General de Exército Ulises Guillén, diretor da PNP contra o Tráfico e Contrabando de Migrantes, declarou à InSight Crime, uma organização dedicada ao estudo do crime organizado na América Latina e no Caribe, que, segundo investigações policiais, o Tren de Aragua organiza redes criminosas em países onde há uma maior incidência de migrantes venezuelanos.
Segundo explicou o Gen Ex Guillén, na investigação, da qual participaram representantes do Ministério Público do Peru, descobriu-se que uma dessas redes era formada pela facção Los Gallegos, que obedece às ordens do indivíduo conhecido como HD e do líder principal, conhecido como Niño Guerrero.
“A presença do Tren de Aragua [no Peru] não é recente, ele está presente há alguns anos”, disse Yaranga. “No entanto, agora eles são mais notórios, pois também cometem crimes em aliança com outras gangues de origem peruana e algumas que têm até mesmo conexões internacionais.”
Yaranga detalhou que um dos cenários onde o Tren de Aragua comete crimes é a mineração informal. “Em áreas muito remotas do país, onde não há presença estatal, grupos de mineiros de pequena escala lutam constantemente pelo controle dessa área e contratam quadrilhas criminosas para ocupar os melhores territórios para a exploração dos recursos”, acrescentou.
Segundo o Gen Ex Guillén, os membros do Tren de Aragua também estão envolvidos na prostituição de rua e em extorsões, não apenas na capital Lima, mas também em 13 cidades peruanas.
Eduardo Pérez Rocha, ex-diretor geral da PNP, falou com Diálogo em 9 de janeiro, e explicou que a polícia peruana está coletando informações de suas diferentes delegacias e da INTERPOL, para identificar e capturar os líderes do Tren de Aragua no Peru.
Resultados tangíveis
Em 25 de dezembro de 2022, o General de Exército Carlos Céspedes, da PNP, chefe da Diretoria de Investigação Criminal, relatou que, após um tiroteio cruzado, os agentes da lei prenderam 15 criminosos venezuelanos, membros do Tren de Aragua, em uma casa multifamiliar em Lima, resgataram um transportador sequestrado e apreenderam maconha, pasta base de coca e cloridrato de cocaína, noticiou o jornal peruano El Popular.
“Três armas de fogo e drogas abundantes foram encontradas. Na parte posterior, uma granada de guerra e uma mini clínica foram encontradas, assim como cadeiras de rodas e equipamentos de diálise para transfusões de sangue”, disse o Gen Ex Céspedes.
Uma operação conjunta entre a PNP e o Ministério Público, em 2 de dezembro, em Arequipa, levou à captura de 23 criminosos, todos membros do Tren de Aragua, envolvidos no tráfico de pessoas, assassinatos de aluguel, extorsão e tráfico de drogas, informou o site suíço Swiss Info.
Durante a operação, foram resgatadas 15 mulheres vítimas do tráfico de pessoas, o que, segundo o Ministério Público, é um dos crimes que gera mais rendimentos aos criminosos. As mulheres, entre maiores de idade e adolescentes, foram recrutadas através de suas redes sociais, onde lhes foi oferecido trabalho em salões de cabeleireiro e lojas, para depois transferi-las da Venezuela para o Peru e forçá-las à prostituição. Até o momento, a organização criminosa teria mais de 150 membros em Arequipa.
Em 11 de novembro, outra operação levou à prisão de 30 membros de Los Gallegos, envolvidos no tráfico de pessoas, extorsão e assassinatos de aluguel em Lima, relatou o site do Ministério Público.
Como resultado dessas prisões, foram apreendidas pistolas, revólveres, fuzis de longo alcance, granadas de mão e uma grande quantidade de munições. Também apreenderam dinheiro em espécie, cartões de crédito, telefones celulares, chips de computador e veículos.
“Todas essas intervenções nos permitem saber que o Tren de Aragua é uma organização com padrões de ação muito definidos em crimes como o tráfico de pessoas, extorsão e assassinatos de aluguel. Por esta razão, o trabalho contra esse tipo de criminosos deve incluir também a participação do Ministério das Relações Exteriores e Migrações”, concluiu Pérez Rocha.