No dia 18 de maio, uma comissão da Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) da Venezuela deteve oito militares pertencentes a unidades da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e da Marinha Bolivariana, que estavam escondidos no estado de Bolívar.
Segundo a agência de notícias Infobae, durante a audiência de apresentação, os representantes do Ministério Público Militar informaram que os militares mantinham relações com membros da quadrilha criminosa El Ciego, que opera na região de mineração de La Paragua, no estado de Bolívar. A acusação indica que os militares recebiam pagamentos em ouro em troca do fornecimento de tanques de combustíveis aos criminosos, que em seguida os revendiam aos motoristas em diversos postos de abastecimento localizados no sul do estado.
Entre os militares detidos estão o Tenente-Coronel da GNB Pedro José Arévalo, comandante do destacamento 620, e o Capitão de Fragata da Marinha Bolivariana Robert Casanova Mora, chefe do comando de Fuzileiros Navais Fluvial Nº 52.
A investigação revelou um esquema de relações que havia se repetido em diversas partes do país, onde os militares se valem do controle que exercem sobre quase todas as fases da comercialização dos hidrocarbonetos, com a finalidade de obter benefícios econômicos no mercado negro. De acordo com Asdrúbal Oliveros, diretor da Ecoanalítica, empresa venezuelana de consultoria econômica e financeira, essa situação tende a agravar a escassez de combustíveis.
“Agora faz todo o sentido que o governo tenha permitido o desenvolvimento do mercado negro. Isso se transforma em uma fonte de recursos para os grupos militares e impede a falência política”, disse.
Segundo Oliveros, depois da emissão do decreto de alarme nacional, no dia 13 de março, a imobilização do país aumentou. O consumo de combustíveis caiu de 180.000 para 90.000 barris diários, explicou. Entretanto, no momento não está se produzindo sequer a metade do hidrocarboneto necessário para satisfazer a demanda interna.
As estimativas quanto ao percentual da gasolina desviada ao mercado negro variam. Segundo Oliveros, pode ser de 60 por cento. Em contrapartida, o representante da associação civil venezuelana Gente do Petróleo, Juan Fernández, estima que seja a metade disso.
A avaliação de ambos os especialistas é que o mercado negro da gasolina está em crescimento, não apenas nos locais onde ele já existia, como nos estados andinos, mas também na própria capital do país, onde o preço do produto no mercado ilegal dobrou entre a segunda e a terceira semanas de maio, atingindo até US$ 3,00 por litro.
Com o agravamento da escassez de combustíveis, o Ministério da Defesa ordenou que a GNB e os demais componentes da Força Armada Nacional Bolivariana assumissem o controle dos postos de fornecimento. Isso inclui a vigilância das longas filas que se formam até chegar às bombas. A missão não está isenta de conflitos. No dia 14 de maio, motoristas que se queixavam de até dois dias de espera bloquearam a rodovia que liga Caracas a Guarenas (cidade do estado de Miranda), quando os militares lotados em um posto de combustíveis reduziram para menos de 10 litros a cota por cada veículo.
De acordo com a diretora da ONG Transparência Venezuela, Mercedes de Freitas, o mercado negro começa com a obtenção de benefícios ao dar a determinados motoristas um lugar preferencial na fila de espera. De Freitas explicou que as dinâmicas do mercado negro podem ser vistas quando se percorre a rota Transversal do Caribe, que liga o estado de Zulia à cidade colombiana de Maicao.
“Perto da fronteira de Paraguachón [comunidade de Maicao] está o Exército, que realiza duas práticas ilegais: a venda de gasolina e a extração de mercadorias […]. Tudo isso ocorre com a vênia da Força Armada Nacional”, afirmou.
A porta-voz da ONG explicou que com a crise da indústria petrolífera nacional houve uma mudança no método de ação dos grupos criminosos onde os militares operam, pois agora eles não facilitam a passagem da gasolina venezuelana para a Colômbia.
“Como não há gasolina, não é possível levá-la para fora, o que era um grande negócio. No entanto, o combustível é vendido aqui”, acrescentou.
“O problema básico é que a Venezuela não poderá solucionar totalmente essa questão enquanto o regime continuar no comando das operações desse negócio”, advertiu Fernández.