As reservas naturais da Venezuela estão sendo dizimadas por um processo de destruição maciça que afeta a biodiversidade, os ecossistemas e a preservação dos afluentes da água com as ações de mineração ilegal de ouro, a presença de grupos armados, interesses econômicos obscuros e a cumplicidade do regime de Nicolás Maduro, de acordo com um estudo recente da ONG venezuelana de direitos humanos Fundaredes.
O estudo expõe a degradação de 44 parques nacionais, 36 monumentos naturais e 76 parques recreativos, distribuídos por todo o país, que são de vital importância para o desenvolvimento sustentável da nação e da humanidade.
Os danos causados pela mineração ilegal, a presença de grupos criminosos nos parques e monumentos naturais que compõem o Arco Mineiro do Orinoco, o corte indiscriminado de madeira nas reservas florestais para plantar coca e maconha, a construção de pistas de pouso clandestinas para o narcotráfico e a contaminação dos cursos de água, violam os direitos ambientais e, portanto, o direito à vida, salienta Fundaredes.
Destaca também que todas estas práticas destrutivas são realizadas em face da “anarquia e das políticas do regime venezuelano de fugir de suas obrigações” e, mesmo na maioria dos casos, com seu consentimento, normalizando crimes ecológicos e causando danos graves e extensos ao habitat.
“A ditadura estabeleceu um plano mestre para estabelecer um sistema de saque no país baseado no controle total do regime”, disse à Diálogo Fernando Fernández, pesquisador do Observatório do Crime Organizado da ONG venezuelana Paz Activa, em 18 de março. “Portanto, o principal predador do meio ambiente é o regime, com uma extração sem controle nem limites administrativos, civis, ambientais e criminais.”
Sul da Venezuela
“Quando o arco mineiro foi criado, a cultura da mineração foi criada em sua pior expressão. A autocracia permite a talha de florestas, a destruição de solos e o uso indiscriminado de mercúrio na extração de ouro, devastando os ecossistemas”, disse Fernández. “Isto é extremamente grave. Há 400.000 quilômetros quadrados afetados pelo arco mineiro e pela mineração ilegal.”
Este é um cenário vivido no sul da Venezuela em estados como Bolivar e Amazonas, onde o mercúrio gera graves problemas ambientais, devido ao seu uso na mineração ilegal por organizações criminosas, segundo a iniciativa venezuelana Proyecto Educación, Producción y Ambiente (Projeto Educação, Produção e Meio Ambiente).
Nesta região do país, o crime organizado transnacional encontrou uma nova fonte de financiamento na mineração ilegal de ouro, aumentando na Venezuela a criminalidade, a violência, a corrupção e a violação dos direitos humanos, indicou um relatório do Instituto Espanhol de Estudos Estratégicos.
Guerrilheiros colombianos, sindicatos criminosos, funcionários do regime e a Guarda Nacional Bolivariana competem pelo controle das minas de ouro, que fornecem fundos para a ditadura embargada de Maduro, relata o centro de estudos International Crisis Group. A expansão e operações transfronteiriças dos grupos criminosos, especialmente em direção à Colômbia, são um risco para a estabilidade regional.
“Fala-se muito da presença de iranianos, iraquianos e afegãos, uma questão que precisa ser mais investigada”, comentou Fernández. “Diante deste cenário, a região, o setor privado e todos os países que aspiram ao lado democrático e a ter melhores condições de vida deveriam se preocupar com estas alianças, pois estas economias sinistras são extremamente violentas, não têm escrúpulos.”
Sinais de alerta
O relatório da FundaRedes afirma que há algum tempo o regime venezuelano deixou de ser um garante da conservação e preservação das áreas protegidas na Venezuela para se tornar “um modelo econômico e uma política concreta, em que a natureza está sujeita à pilhagem e à exploração indiscriminada para obter moeda estrangeira”.
Daí a importância de revogar todas as medidas que vão contra os direitos ambientais dos venezuelanos e de investigar e sancionar ações que visem utilizar as riquezas naturais do país para benefício privado, cometidas por autoridades ou indivíduos, diz Fundaredes. “Os danos causados às reservas naturais são irreversíveis.”
Os países do mundo devem “entender o que está acontecendo aqui na Venezuela para que não aconteça lá em seus territórios”, concluiu Fernández. “Eles são sinais de alerta para os Estados, para aprender com esta experiência e impedir que ela aconteça lá em suas nações.”