O podcast Rompendo Barreiras, de Mulheres, Paz e Segurança (WPS, em inglês), do Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), apresenta, em cada episódio, convidados das Forças de Defesa e Segurança da América Latina e do Caribe. Esta plataforma compartilha histórias fortes e visões valiosas sobre os benefícios obtidos para reconhecer as mulheres como parceiras iguais na prevenção de conflitos e na construção da paz.
Em um episódio no início de julho de 2021, a Tenente-Coronel Duilia Turner, da Força Aérea dos EUA, chefe do programa WPS do SOUTHCOM, que, entre outras missões, foi destacada no Afeganistão e na Bósnia, entrevistou a honorável Krishna Mathoera, ministra da Defesa do Suriname. A ministra Mathoera serviu na Polícia Nacional do Suriname por mais de 34 anos, e durante este tempo foi nomeada representante nacional do Suriname para a Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas, de 2010 a 2015. A seguir, você encontrará trechos da conversa entre a Ten Cel Turner e a ministra Mathoera. O episódio completo pode ser encontrado em: http://www.southcom.mil/WPS/audio/668721/
Tenente-Coronel Duilia Turner, da Força Aérea dos EUA: A senhora poderia nos contar um pouco sobre sua pessoa e compartilhar algumas de suas experiências como oficial de polícia de carreira, que agora serve o Suriname nos mais altos níveis de segurança e defesa?
Krishna Mathoera, ministra da Defesa do Suriname: Trabalhei para a Força de Polícia durante 38 anos, e é uma grande experiência. Aprendi muito e penso que não é um trabalho fácil para qualquer pessoa que sirva em instituições de segurança na Força de Polícia do Suriname, mas acho que vale a pena fazer isso. Entretanto, comecei minha carreira com desânimo. Quando eu estava na Academia de Polícia, alguém sempre me perguntava se eu teria sucesso. E esse foi o desafio que recebi desde o primeiro momento: mostrar às pessoas que eu sou capaz de fazer isso. Então, fui confrontada com o desânimo, mesmo das mulheres dentro das forças de segurança em meu país. Além disso, fiquei grávida logo após me formar na Academia de Polícia. Assim, as pessoas me perguntavam o que eu ia fazer: ser mãe, ou servir à comunidade. Decidi concentrar-me apenas em meus objetivos e seguir adiante, porque, no final, o que é importante é sua atitude, atitude de integridade, insistência… para manter seu foco em seus objetivos, investir em suas habilidades, especialmente em suas habilidades de comunicação, e adquirir conhecimentos. Como mulher policial, você tem a oportunidade de tomar conhecimento de sua sociedade, do que está acontecendo e dos diferentes casos em todos os níveis da sociedade. Portanto, é uma grande fonte de conhecimento e experiência. O principal dentro da Força Policial é que você está contribuindo para a segurança e proteção, e eu acho que essas são as condições para a liberdade. E a liberdade é muito importante. Vimos isto com essa pandemia da COVID-19, como a liberdade é importante e como a segurança é importante. E penso que se estamos contribuindo para a liberdade, estamos permitindo que as pessoas usufruam de seus direitos humanos.
Ten Cel Turner: Qual tem sido seu papel no fortalecimento de comunidades e pessoas, em particular mulheres e meninas, no Suriname?
Ministra Mathoera: Eu acho que nós, como seres humanos, temos nosso papel e temos a responsabilidade de fazer nosso trabalho de uma maneira muito boa. Temos que deixar um exemplo para outras mulheres, mas também temos que dar mais poder a outras mulheres dentro das forças de segurança. Temos que criar um papel para essas mulheres, criar oportunidades; temos que trabalhar no sistema de convicções, e isso é o que eu tenho feito. Uma coisa importante, acredito, é que devemos treinar as mulheres e torná-las capazes. No final, são as capacidades, não o papel do gênero, o que torna alguém capaz de fazer um bom trabalho, obter bons resultados e ter um alto desempenho. Eu tenho encorajado as pessoas. Eu sempre lhes digo: invista em você mesmo. Não se ajuste a uma cultura dominada pelos homens. Não seja um deles nem mude sua personalidade para impressionar alguém. Não faça isso. Seja quem você é. Seja única. Aceite as diferenças e invista em seus conhecimentos, sua atitude e suas habilidades. Isso irá melhorar sua autoconfiança e esses são os atributos do sucesso na vida.
Ten Cel Turner: Existe alguma história pessoal, ou anedota, que possa compartilhar conosco, sobre como trabalhar estreitamente com a comunidade, como mulher em segurança e defesa, na criação de um impacto positivo?
Ministra Mathoera: Há muitas histórias em minha longa carreira. Acho que uma das histórias que me impactou foi quando eu era responsável pela segurança na área de Paramaribo, capital do Suriname, e tivemos que manter a ordem e tivemos um grande festival. Acho que um dos paradigmas foi que, estando em uma posição de liderança, você tinha que ficar em seu escritório e liderar a partir daí. E eu escolhi ir para o campo e estar com meus oficiais de polícia. Foi uma grande mudança de paradigma, porque as pessoas não podiam acreditar que a subcomissária da Polícia estivesse no campo, nas ruas, patrulhando com os policiais. As pessoas se aproximavam de mim e me abraçavam. No final, as pessoas querem conectar-se com você, e você quer se envolver com a comunidade.
Ten Cel Turner: A senhora poderia comentar sobre o papel das mulheres na manutenção da paz e da segurança?
Ministra Mathoera: Tenho notado que as mulheres e as crianças são as mais expostas e afetadas pelos conflitos, pelo crime e pela violência. E eu penso que devemos deixá-las contribuir ativamente para uma sociedade livre de violência e pacífica. Creio que, de uma perspectiva de gênero, deveríamos encorajar mais mulheres dentro das instituições de defesa e segurança. Temos números muito baixos em todo o mundo de representação feminina nessas instituições. Ter mais mulheres nos setores de segurança e defesa enviará uma forte mensagem às comunidades, a de que nossas meninas e mulheres são igualmente parte da sociedade e capazes de cumprir qualquer tarefa. Em segundo lugar, penso que, como líderes, deveríamos contratar pessoas. Deveríamos promover pessoas em todos os níveis da organização porque, se as mulheres e as crianças são as que estão mais expostas, elas devem fazer parte do processo de tomada de decisões. Deixemos que elas façam parte das organizações que estão proporcionando e são responsáveis pela segurança e proteção.
Ten Cel Turner: Que conselho ou palavras de sabedoria daria às mulheres nesse hemisfério e em outras regiões, que gostariam de seguir seu exemplo e alistar-se para servir na defesa e segurança?
Ministra Mathoera: Minha mensagem para as mulheres que querem trabalhar em paz e segurança é que não é uma tarefa fácil, mas não é impossível. É muito possível. É um ambiente dominado por homens, mas esse é o desafio. Sejamos as pioneiras para outras. Primeiro terão atividades físicas, desafios mentais, horários de trabalho irregulares. Enfrentarão riscos, mas, ao mesmo tempo, saberão que, ao contribuir para a paz e a segurança, permitirão que as pessoas desfrutem dos direitos humanos e contribuam para que as pessoas sejam mais felizes. E isso é algo que vale a pena fazer. As mulheres devem continuar demonstrando que ser mulher nunca deve ser um obstáculo para ter sucesso ou para fazer o extraordinário. As mulheres nunca devem deixar ninguém desencorajá-las com negatividade e subversão. As mulheres que trabalham pela paz e segurança enfrentam o desânimo, mas elas devem se empenhar em seus objetivos. Acredito que todas na sociedade, seja qual for o papel que tenham como mãe, oficial militar, oficial de polícia, irmã ou filha, têm que se esforçar para ser a melhor mãe, a melhor irmã, a melhor oficial militar, a melhor oficial de polícia, para servir sua comunidade e servir sua família, bem como para servir sua organização. Você tem que cumprir estas funções. No final, você quer ser lembrada como a melhor irmã, a melhor mãe, a melhor oficial militar. Todas deveriam fazer isso.