Milhares de hectares de bosques são consumidos na Guatemala por incêndios florestais causados por grupos do crime organizado. Os incêndios se concentram no estado de Petén, na fronteira com Belize e México.
No dia 6 de julho, José Cal, historiador e pesquisador da Universidade de San Carlos, na Guatemala, explicou à Diálogo que o problema dos incêndios não é novo; ele aumentou porque existem na região várias rotas-chave do narcotráfico e os incêndios tentam abrir espaços para a construção de pistas de pouso clandestinas.
“Petén é um corredor transnacional comercial, é um corredor transnacional migratório e, por fim, se tornou um corredor transnacional de drogas (…); a Guatemala está conectada com o Caribe, com o Pacífico, com o norte, sendo então um país de passagem (…), necessário para esse trânsito da droga a partir da América do Sul, em direção a uma estação no México ou às estações do sul dos Estados Unidos”, disse Cal.
O Gabinete Coordenador Nacional para a Redução de Desastres da Guatemala informou na internet que até o dia 28 de maio foram registrados 1.257 incêndios que consumiram 8.942 hectares de florestas no estado de Petén. Durante a temporada 2018-2019, os incêndios florestais consumiram mais de 47.000 hectares de florestas do país, informou no dia 25 de abril o jornal digital guatemalteco Prensa Libre.
“As organizações de narcotraficantes colombianos e venezuelanos muitas vezes se associam aos cartéis mexicanos para efetuar importantes envios de cocaína”, disse ao Washington Post Michael Miller, porta-voz da Administração para o Controle de Drogas dos EUA, no dia 5 de julho. “Os grupos contrabandistas guatemaltecos controlam uma vasta gama de pistas de pouso clandestinas e podem ajustar ou redirecionar as aterrissagens de acordo com a necessidade.”
Para Cal é evidente que, além de queimar florestas para construir pistas, os narcotraficantes buscam com os incêndios expandir atividades como a pecuária, porque isso delimita territórios e, muitas vezes, disfarça as atividades criminosas.
“A pecuária permite o controle do território (…). Com a desculpa de que estão realizando essa atividade econômica, eles localizam os territórios-chave para estabelecer pistas provisórias, as quais podem ser utilizadas durante algum tempo, e isso tem relação com as queimadas das florestas. A princípio, diziam que eram somente as comunidades que estavam efetuando as queimadas, mas não; há um nítido interesse em abrir essas pistas porque se trata de uma rota rápida para passar a droga pelo Petén e daí fazê-la atravessar por via fluvial até a parte de Belize e até o sul do México”, concluiu Cal.