O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA identificou e sancionou várias redes de “sistema bancário de sombra”, um sistema financeiro ilícito multijurisdicional que permite que entidades iranianas criminalizadas tenham acesso ao sistema financeiro internacional.
“A rede bancária de sombra procura jurisdições que fazem negócios com terceiros países, com os quais o Irã quer fazer parcerias para adquirir materiais, metais e tecnologia para seus programas estratégicos, ou movimentar dinheiro evadindo as sanções”, disse à Diálogo Joseph Humire, diretor executivo do think tank Centro para uma Sociedade Livre e Segura (SFS) dos EUA, em 30 de abril. “Quando se fala em jurisdições de controle financeiro, os Emirados Árabes, Cingapura e Hong Kong são os clássicos. Portanto, essas também são três jurisdições onde há muita lavagem de dinheiro.”
Uma dessas redes sancionadas, alertou o Departamento do Tesouro em 19 de abril em seu relatório, facilitou a aquisição de componentes eletrônicos para o Irã para seus programas militares desestabilizadores, incluindo aqueles usados em veículos aéreos não tripulados (UAVs). “O Tesouro continuará a aplicar suas sanções contra os esforços de aquisição militar do Irã que contribuem para a insegurança regional e a instabilidade global”, acrescentou o subsecretário do Tesouro para Terrorismo e Inteligência Financeira, Brian E. Nelson.
Os Estados Unidos têm como alvo o cidadão iraniano Mehdi Khoshghadam, diretor-gerente da empresa iraniana Pardazan System Namad Arman (PASNA), bem como empresas de fachada e fornecedores da entidade com sede no Irã, Malásia, Hong Kong e República Popular da China, que facilitaram à PASNA a aquisição de bens e tecnologia bélica, informou o site argentino Infobae, em 20 de abril.
“O Irã sempre tenta ocultar seus intercâmbios, transferências ou negócios no âmbito militar, especialmente em apoio ao seu programa de mísseis ou armas e também ao seu programa nuclear”, explicou Humire. “Eles usam esse sistema para escapar das sanções, obviamente, mas também com o objetivo de adquirir materiais, tecnologia e, em alguns casos, minerais, para apoiar seus programas estratégicos nucleares ou militares.”
O relatório observou que Amanallah Paidar, gerente comercial do Centro de Investigação Científica e de Tecnologia de Defesa, afiliado ao Ministério da Defesa do Irã, também adquiriu componentes para UAVs, incluindo unidades de medição inercial e sistemas de referência de altitude e direção. Além disso, ele estabeleceu e usou a Engenharia Industrial Farazan Inc. para comprar equipamentos de defesa e tentou adquirir motores de turbina europeus para UAVs por dezenas de milhares de dólares e motores iranianos para mísseis ar-terra.
O Irã não utiliza apenas a rede bancária de sombra para seus programas militares, mas também o faz com o setor petroquímico. Nesse caso, uma vasta rede de empresas de fachada que opera em Hong Kong, Cingapura e Emirados Árabes Unidos permitiu que a Companhia de Indústrias Petroquímicas do Golfo Pérsico (PGPICC) orquestrasse a venda de produtos petroquímicos, gerando dezenas de bilhões de dólares anualmente para o regime iraniano.
As autoridades estimam em seu relatório que, somente em 2022, a PGPICC comercializou para compradores externos milhões de dólares em polietileno de alta densidade, produzido pela Mehr Petroquímica, para seu envio à Turquia e à Ásia.
“O Irã cultiva redes complexas de evasão de sanções, nas quais compradores estrangeiros, casas de câmbio e dezenas de empresas de fachada ajudam cooperativamente as empresas iranianas sancionadas a continuarem a fazer negócios”, disse o subsecretário do Tesouro, Wally Adeyemo. “[Essa ação] demonstra o compromisso dos Estados Unidos em aplicar nossas sanções e nossa capacidade de interromper as redes financeiras estrangeiras do Irã, que ele usa para lavar fundos.”
“No caso da América Latina, a indústria petroquímica é um foco do Irã na região. Quase todos os pactos que o Irã tem com os países mencionam o setor petroquímico, especialmente na Venezuela, mas também na Bolívia e no Equador”, afirmou Humire. “No SFS, fizemos um cálculo com base nos acordos binacionais. Entre 2006 e 2013, segundo os acordos que o Irã assinou com a Venezuela, em mais ou menos 60 projetos, estimamos que o Irã conseguiu acessar US$ 16 bilhões dentro do sistema financeiro internacional. Lembremos que, nesse período, a Venezuela não estava sob sanções e podia negociar livremente em todo o mundo.”
Por fim, outra rede de empresas sediadas na China foi sancionada por enviar peças aeroespaciais, inclusive aquelas que podem ser usadas em UAVs, para a Companhia Industrial de Fabricação de Aviões do Irã, publicou o Tesouro. A empresa estava envolvida na produção do UAV Shahed-136, que o Irã usa para atacar navios petroleiros e exportar para a Rússia. As forças invasoras russas causaram grandes danos e inúmeras mortes usando esses drones contra a Ucrânia, especialmente em seu estágio inicial, quando as forças locais não tinham nenhuma tecnologia específica para detê-los efetivamente.