No dia 14 de janeiro de 2022, o Equador formalizou a ampliação de 60.000 quilômetros quadrados na Reserva Marinha de Galápagos, que se somarão aos 138.000 km2 das zonas protegidas existentes. A nova área protegida foi denominada Reserva Marinha Irmandade.
Os conservacionistas estimam que essa iniciativa seja um passo importante para proteger a riqueza ictiológica dessa região do Pacífico, considerada uma das áreas com maior biodiversidade do mundo, e deter a frota pesqueira chinesa que foi acusada de saquear as populações de peixes. A reserva marinha conectará as águas das Ilhas Galápagos do Equador, da Ilha de Cocos da Costa Rica, da Ilha Coiba do Panamá e da Ilha Malpelo da Colômbia. A criação desse corredor marinho livre de pesca foi um acordo entre esses quatro países anunciado na cúpula de Glasgow, em novembro de 2021.
“O melhor de tudo isso é que essa é a primeira zona protegida de vários países (no mundo). É um grande passo”, disse ao jornal norte-americano, The Wall Street Journal, Maximiliano Bello, especialista em política oceânica internacional da organização de conservação marinha Mission Blue, com sede na Califórnia, que assessorou os governos latino-americanos.
A frota pesqueira chinesa
As frotas pesqueiras de muitos países industrializados que esgotaram as populações de peixes em suas águas nacionais buscam explorar os recursos marinhos em outros espaços afastados para satisfazer a demanda, informou o Instituto de Desenvolvimento de Ultramar (ODI, em inglês), um grupo de especialistas sobre assuntos mundiais com sede em Londres, em um relatório de junho de 2020. A China, o maior consumidor de produtos do mar, é um exemplo disso; sua frota pesqueira com cerca de 17.000 embarcações está presente em todos os oceanos e foi considerada a pior infratora da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada do mundo.
A frota chinesa estacionada perto das áreas marítimas protegidas da América Latina e das zonas econômicas exclusivas dos países da região tem sido uma preocupação há vários anos, mas foi a partir de 2016 que foram emitidos alertas anuais a esse respeito, explica a organização internacional InSight Crime. Em 2017, o caso do Fu Yuan Leng 999, interceptado na reserva marinha das Ilhas Galápagos com mais de 300 toneladas de tubarões, entre os quais havia tubarões martelo, uma espécie em risco de extinção, disparou os alertas no Equador e no mundo, informou a organização.
Entre julho e agosto de 2020, a frota pesqueira chinesa, com centenas de barcos, estacionou nas imediações da zona protegida das Ilhas Galápagos e realizou atividades de pesca coletiva em grande escala por mais de 73.000 horas, informou a InSight Crime. O então ministro da Defesa do Equador, Oswaldo Jarrín, disse que metade da frota chinesa havia desligado seus sistemas de rastreamento, uma prática comum para ocultar as atividades da pesca ilegal.
O número de embarcações de bandeira chinesa nas águas do Pacífico da América Latina se multiplicou por 10, passando de 54 barcos ativos em 2009 para 557 em 2020, informou a agência de notícias Associated Press (AP), em setembro de 2021. De acordo com a AP, o volume de capturas da frota chinesa aumentou de 70.000 toneladas em 2009 para 358.000 em 2020. Em uma entrevista a The Wall Street Journal, Milo Schvartzmann, um conservacionista argentino especialista nas atividades da frota chinesa na América Latina, disse que havia contado até 800 barcos pesqueiros chineses nas águas costeiras dos países da região em 2021.
No ano passado, a frota chinesa esteve na mira dos esforços de controle de muitos países latino-americanos, que também tentaram implementar outras medidas para frear o saque dos recursos do mar, como acordos para aumentar o intercâmbio de inteligência, melhorar a vigilância por satélite e impedir que as embarcações chinesas atraquem em seus portos. Ampliar a Reserva Marinha de Galápagos e conectá-la com as áreas protegidas dos países vizinhos foi um desses esforços.
“Meus especiais agradecimentos à Colômbia, Costa Rica e Panamá”, disse o presidente equatoriano Guillermo Lasso em sua conta no Twitter. “Através da criação da #ReservaHermandad fazemos um apelo a todas as nações para que se unam a esse esforço coletivo e preservem os insubstituíveis tesouros do oceano.”