Em um mundo onde as atividades empresariais estão sob constante escrutínio global, o nome de Zijin Mining, uma empresa estatal chinesa especializada em mineração de ouro e lítio, destaca-se como um símbolo de preocupações persistentes sobre seu impacto e práticas operacionais em nações latino-americanas e mais além, informou a estação Radio FM Bolivia.
Seu histórico está manchado por acusações de exploração laboral, danos ambientais e deficiências em matéria de segurança. Mas, além de suas operações, a relação estreita de Zijin com o Partido Comunista Chinês lança uma sombra adicional sobre suas ações em países com regulamentações flexíveis, indicou a plataforma argentina Infobae.
“Isso se deve à estreita conexão dessas empresas com o governo de Xi Jinping, cuja liderança autoritária busca expandi-las na iniciativa Cinturão e Rota”, disse à Diálogo, em 5 de setembro, Luis Fleischman, professor de sociologia e ciências políticas da Universidade Estadual de Palm Beach, na Flórida. “Essa expansão tem um objetivo político: fortalecer a influência global da China na América Latina.”
A empresa, gigante estatal da mineração sob a esfera do governo chinês, atua como a principal executora da ambiciosa estratégia de Pequim para adquirir recursos naturais em escala global, detalhou Infobae.
Três Quebradas
Em 2016, a Zijin entrou na Argentina, por meio de sua subsidiária Liex, para desenvolver o projeto Três Quebradas, em Catamarca, investindo US$ 450 milhões. Até agosto de 2023, cerca de US$ 70 milhões foram desembolsados. No entanto, a empresa está sendo investigada por suposto superfaturamento nas importações de maquinário para exploração de lítio, informou o site argentino La Política Online (LPO), em 6 de agosto.
De acordo com o jornal argentino Página 12, a empresa chinesa registrou compras de mercadorias idênticas a preços muito mais altos do que os preços de mercado. A triangulação via Hong Kong foi supostamente usada, envolvendo mais de US$ 5 milhões.
Em novembro de 2022, a planta piloto de lítio da empresa chinesa foi fechada pela polícia de mineração em Catamarca, devido a anomalias com resíduos químicos. Além disso, os trabalhadores do salar relatam jornadas de trabalho de 12 horas, com salários irrisórios, informou LPO. Eles não têm equipamentos adequados para manusear produtos químicos, nem acesso constante à água, para sua higiene pessoal.
“Os governos devem exigir que as empresas chinesas cumpram as leis”, invocou Fleischman. “Agora, nossa esperança de proteger o meio ambiente e impedir a exploração humana e de minerais estratégicos está nas mãos dos governos; se eles não agirem, os problemas surgirão.”
Ele também comentou que os países que mais valorizam o respeito às diretrizes internacionais, como os Estados Unidos, o Canadá e a Europa, as seguirão como de costume. No entanto, se os governos das nações onde as empresas chinesas investem não demonstrarem interesse, o direito internacional não poderá sancionar essas empresas.
Também Buriticá
Em Buriticá, Antioquia, Colômbia, Zijin explora os maiores depósitos de ouro. Para obter o ouro colombiano, a empresa apoiada pelo governo chinês enfrenta conflitos com os mineiros locais, bem como confrontos com o grupo criminoso Clã do Golfo, informa a Radio FM Bolivia. Além disso, há problemas fiscais e ambientais.
A China está pressionando o governo colombiano para fornecer proteção adicional a Zijin em meio a esse conflito, sugerindo até mesmo a possibilidade de retirar a empresa e outros investimentos do país, se suas exigências não forem atendidas, acrescentou. A história de Zijin é uma narrativa marcada pela controvérsia e opacidade.
Como costuma acontecer em todos os países com influência chinesa, o embaixador atua como o principal defensor dos interesses chineses e busca fortalecer suas operações por meio de um exército. Alguns sugerem que Zijin poderia contratar mercenários estrangeiros para proteger seus interesses, informou Infobae.
“A corrupção desempenha um papel atraente para os investidores chineses, semelhante ao poder dos traficantes de drogas, comprando a lealdade de políticos ou juízes e, ao mesmo tempo, minando a integridade do Estado”, afirmou Fleischman. “A corrupção reduz a qualidade do governo.”
Conflito constante
As empresas chinesas não só criam problemas na América Latina, mas também em outras partes do mundo..
Na Sérvia, por exemplo, a negligência chinesa afetou o vilarejo de Bor. Os habitantes protestam contra o ar e a água tóxicos. Zijin administra o complexo de mineração e fundição de cobre em grande escala naquela cidade, sem licenças nem consentimento oficial, informou o jornal Asia Financial.
Em 2020, Zijin alertou Papua-Nova Guiné que, se seu governo não renovasse a licença ambiental da mina de ouro de Porgera, as relações bilaterais com a China seriam prejudicadas, informou a agência de notícias britânica Reuters. Papua recusou-se a prorrogar o contrato de arrendamento da mina por 20 anos, alegando danos ambientais e mal-estar social. Após a pressão chinesa, o governo de Papua assinou um novo acordo, em 31 de março de 2023
Contra seu povo
As empresas chinesas tratam a população local de forma semelhante à forma como tratam seu próprio povo. Sua atitude em relação aos cidadãos de seu próprio país é indiferente e essa mesma atitude se reflete em seu tratamento internacional. “Eles não veem os cidadãos como pessoas, mas sim como súditos”, disse Fleischman.
Em 2018, uma mina de cobre em Zujin, na província chinesa de Fujian, poluiu o rio Tingjian com resíduos tóxicos, criando um desastre ambiental com um impacto profundo nas comunidades locais, informou a plataforma de jornalismo investigativo Diálogo Chino.
“A questão ambiental é de âmbito global e diz respeito a todos. A cooperação é crucial entre as nações envolvidas. Se essa questão continuar a ser politizada, nosso progresso será afetado. Se os governos veem a China como um salvador ou investidor preferencial, eles devem reconhecer que a saúde de seus cidadãos e o meio ambiente não são uma prioridade para a China”, reiterou Fleischman.