A China Harbour Engineering Company (CHEC), uma subsidiária da China Communication Construction Company (CCCC), envolvida em práticas fraudulentas, está realizando trabalhos de projeto, reabilitação e expansão em 107 quilômetros da Rota Nacional 32 (Río Frío-Limón) na Costa Rica, criando problemas que ameaçam o equilíbrio social, econômico e ambiental do país.
“É um projeto mal desenhado, onde uma estrada existente é tomada e expandida como rodovia”, explicou o ministro de Obras Públicas e Transportes, Luis Amador, à Nuestra Voz de Rádio Monumental, em 31 de maio de 2022. “Todos os habitantes que estão nas laterais terão que atravessar uma autoestrada a pé, com os riscos que isso implica.”
A expansão a quatro pistas, que liga a capital San José ao principal porto do país em Limón, é financiada com um empréstimo de US$ 396 milhões do Eximbank da China por 20 anos e US$ 69 milhões do governo costarriquenho, informa online a revista de construção de estradas, Carreteras Pan-Americanas.
“Para piorar a situação, nem mesmo o projeto de obras complementares, como pontes para pedestres, está sendo feito”, afirmou Amador. “Eles estão colocando faixas de pedestres no nível do solo, o que significa que eu, como usuário, posso tentar atravessar a estrada de quatro pistas, onde os carros vêm a uma velocidade de 110 ou 120 km/h […]. Vamos fazer um massacre de pessoas.”
A fase de construção do projeto tem um atraso de aproximadamente 40 por cento, indicou a Presidência da República em um comunicado, em 27 de abril. Acrescentou que a CHEC tem uma nova extensão para entregar as obras em fevereiro de 2023. As obras, que começaram em 2017, deveriam estar concluídas em outubro de 2020, informou o diário costarriquenho El Mundo.
“Você começa a cavar um pouco e percebe que […] não houve licitação internacional; foi um processo de contratação porque o empréstimo já estava condicionado. Foi um empréstimo bastante caro para o país”, acrescentou o ministro Amador. “A partir daí começa a série de deficiências.”
A relação
A CCCC e suas subsidiárias (como a CHEC), enfrentam acusações que vão desde subornos e construção de baixa qualidade, até exploração de trabalhadores, indica ShareAmerica, uma plataforma de comunicação do Departamento de Estado dos EUA. A CCCC promete nova infraestrutura para as nações em desenvolvimento, mas em vez disso gera construções de má qualidade, dívidas insustentáveis e danos ambientais, explicou a plataforma online.
Em Bangladesh, a CHEC pagou comissões de forma ilegal. Também foi acusada de corrupção na construção de um porto na Tanzânia. No Brasil, tirou proveito da venda de títulos de propriedade de forma irregular para a construção de um enorme porto. No Panamá, as autoridades descobriram irregularidades no contrato para a construção de uma ponte, expõe online a plataforma de jornalismo investigativo Diálogo Chino.
“[Costa Rica] não está muito contente com o trabalho da CHEC. É uma empresa que falhou muitíssimo na comunicação com a sociedade”, disse à Diálogo Mauricio Álvarez, professor da Universidade da Costa Rica e presidente da Federação Ecológica da Costa Rica. “Os vizinhos tomaram a estrada por desespero em várias ocasiões […] porque a estrada vai isolá-los de um lado para o outro.”
Desastre da biodiversidade
A revista costarriquenha Ambientico observa que a estrada atravessa numerosas florestas, áreas de proteção, zonas vulneráveis de recarga de aquíferos e uma grande quantidade de tubulações de água do Instituto de Aquedutos e Esgotos, e de pelo menos nove associações administradoras de aquedutos rurais, onde algumas populações serão afetadas no fornecimento de água.
“Não só a água está em risco, mas em apenas um ano mais de 1.000 animais selvagens morreram atropelados ao longo da Rota 32”, disse Álvarez. “No entanto, esse impacto deve ter sido multiplicado porque não foram construídas as travessias para a fauna que foram definidas.”
O sapo-touro, a preguiça de três dedos ou o tatu são algumas das espécies cuja sobrevivência está ameaçada todos os dias com a expansão da Rota 32, destacou o jornal costarriquenho El Independiente.
“Em 12 meses poderemos ter essa estrada, mas não com as medidas de proteção para todos os usuários; aqui não estou me referindo aos motoristas, estou me referindo aos pedestres e ciclistas, às pessoas que vão caminhar por essas estradas laterais da rodovia”, concluiu o ministro Amador.