O governo de El Salvador vai inaugurar a nova Biblioteca Nacional, informou o jornal salvadorenho El Mundo. “Em breve, abriremos a nova Biblioteca de El Salvador, que estamos terminando de construir com o apoio da China”, disse o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, durante um discurso em 15 de setembro, embora não tenha dado uma data exata para a inauguração.
O projeto está sendo realizado pela empresa YanJian Group, uma das companhias que frequentemente constrói projetos no exterior, patrocinados por Pequim. Como é seu costume, YanJian Group não fornece detalhes sobre a execução e os custos do projeto.
“Como o governo de El Salvador não exige transparência de Pequim, as informações não são conhecidas”, disse à Diálogo, em 25 de setembro, Eduardo Escobar, advogado e diretor executivo da organização salvadorenha de vigilância social Acción Ciudadana.
Os convênios publicados pelo Centro de Documentação Judicial da Suprema Corte de Justiça de El Salvador não especificam as obras nem os prazos de execução, uma prática comum das empresas chinesas. Dos acordos com a China, são conhecidas superficialmente apenas algumas obras, as quais Bukele enumerou durante sua viagem àquele país, em 2019.
“Para o Partido Comunista Chinês (PCC) e suas empresas, é muito importante manter a responsabilidade de suas operações fora do radar. É por isso que, em países com líderes autocráticos, as relações com a China são tratadas por um círculo interno muito pequeno”, disse à Diálogo Javier Meléndez, diretor de Expediente Abierto, um think tank centro-americano sobre defesa, transparência e direitos humanos.
Na opinião de Meléndez, isso é muito conveniente para o PCC e suas empresas satélites, porque eles acabam impondo termos onerosos a esses países e depois caem na famosa armadilha da dívida.
Obras incertas
Entre as obras realizadas em El Salvador está a construção de um novo estádio nacional. Em dezembro de 2023, fará dois anos desde que Bukele anunciou sua construção. Aparentemente, as obras começaram em dezembro de 2022, embora não tenha havido progresso.
Outra obra com cooperação chinesa é a construção de um novo cais no Porto de La Libertad, uma das melhores áreas da costa turística, explicou à imprensa Eny Aguiñada, presidente do Instituto Salvadorenho de Turismo. “Espera-se que seja inaugurado antes do final de 2023.”
“Entre doações e empréstimos, há menos de 10 em andamento ou concluídos recentemente. Todas as obras têm ou tiveram atrasos significativos e estão marcadas por escândalos de corrupção, ou são empréstimos onerosos nos quais os chineses estão pedindo muito”, acrescentou Meléndez. “Em geral, eles têm muito ‘sigilo’ nos termos que serão finalmente canalizados.”
Equilíbrio entre as nações
Expediente Abierto detalhou a estratégia e o padrão de comportamento da China na América Central com três fatos: primeiro, promete grandes quantidades de projetos de infraestrutura; segundo, promove acordos comerciais, causando grandes déficits a longo prazo; e terceiro, perpetua uma coordenação significativa de atividades e alianças entre a mídia estatal chinesa e a mídia centro-americana, para desinformar e ganhar a confiança do público em seus projetos autocráticos.
Prova disso é que, em 30 de agosto, El Salvador renovou um acordo para estabelecer cooperação bilateral para implementar projetos de assistência econômica e técnica entre os dois países, de acordo com o jornal estatal Diario El Salvador.
Na ocasião, a Assembleia Legislativa modificou o acordo para que os projetos chineses sejam excluídos da Lei de Compras Públicas, que torna transparente todo o processo de execução de obras públicas. “Isso permite que os chineses escolham a melhor entidade executora de projetos entre as empresas chinesas”, explicou o jornal salvadorenho El Mundo. “Para cada projeto específico, serão definidos os processos de aquisição para sua execução.”
“As chances de que uma economia como a de El Salvador possa se beneficiar de um acordo de livre comércio com a China são muito pequenas”, afirmou à mídia nicaraguense Confidencial Ricardo Castañeda, economista sênior do Instituto Centro-Americano de Estudos Fiscais. “O cenário mais lógico é o de que as empresas chinesas sejam as que mais se beneficiarão com esse acordo.”
De fato, entre janeiro e junho de 2023, as exportações salvadorenhas para o país asiático totalizaram US$ 5,4 milhões, enquanto em 2022 foram US$ 43,5 milhões, uma queda de 87,6 por cento, de acordo com o Banco Central de Reserva. Esses seriam os valores mais baixos desde que os dois países estabeleceram relações diplomáticas em 2018.
“A indústria centro-americana, com exceção da Costa Rica e da Guatemala, não tem a capacidade de gerar bens que sejam penetráveis e atraentes para o consumidor chinês”, enfatizou Meléndez. “Nenhum país da América Central tem a capacidade de penetrar nos mercados chineses para desenvolver software, vacinas, ou vender produtos médicos. Não estamos nesse nível.”
A última manobra que a China realizou com sucesso foi sua incorporação ao Parlamento Centro-Americano (PARLACEN). A pedido da Nicarágua, o congresso centro-americano revogou o status de Observador Permanente de Taiwan e incorporou a Assembleia Nacional Popular da China como Observador Permanente, informou o jornal nicaraguense pró-governo El 19 Digital, em 21 de agosto. No mesmo dia, a China comemorou o quinto aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas com El Salvador.