A China provocou conflitos comunitários na América Latina entre 2000 e 2021, com impactos negativos ao meio-ambiente, devido ao desenvolvimento de projetos extrativistas, energéticos e de infraestrutura, garantem as ONGs América Latina Sustentável (LAS, em espanhol), do Equador, e a Associação Ambiente e Sociedade, da Colômbia.
Embora a China tenha estabelecido diretrizes para financiar as obras no exterior que incluem questões sociais e ambientais, estas não são de cumprimento obrigatório, informou a Ambiente em seu relatório Cooperação da China na América Latina e no Caribe em Infraestrutura, de setembro de 2020. Os empreendimentos chineses, alguns na Bacia Amazônica, avançam em áreas de grande diversidade biológica; em alguns casos, em áreas protegidas legalmente e em territórios de povos étnicos, acrescentou.
Na América Latina, existem mais de 980 conflitos ambientais por desenvolvimento de energia, mineração, transporte e comunicações; a maioria deles teve a contribuição chinesa, mostra o Atlas Global de Justiça Ambiental em seu site.

Alguns exemplos
A hidrelétrica Coca Codo Sinclair, construída no Equador pela empresa chinesa Sinohydro Corporation Limited, está sob investigação do Estado por danos e fissuras estruturais nas cortinas e nos geradores, que podem causar um colapso parcial ou total da represa, disse a BBC. Além disso, a Sinohydro não adquiriu licença ambiental para o projeto, acrescentou a Ambiente.
Em dezembro de 2020, a comunidade equatoriana indígena Waorani demandou a PetroOriental, filial da China National Petroleum, devido à queima de gás durante a extração do petróleo, cujos efeitos ameaçam o equilíbrio ecológico e a saúde da população, informou a Diálogo Chino, uma plataforma de jornalismo investigativo com base em Londres.
A Hidrovia Amazônica desenvolvida pela mesma Sinohydro em Loreto e Ucayali, que abrange 14 povos indígenas e quatro áreas naturais protegidas do Peru, “põe em risco a vida dos rios de grande importância para a cultura dos povos e suas economias”, disse a Ambiente.
“O projeto do Canal Interoceânico da Nicarágua, adjudicado à Concessão Ortega-Wang Jing, foi detido “pelo significativo número de populações afetadas e por ter realizado a negociação e a gestão em sigilo, sem consulta pública, sem consentimento dos povos indígenas, sem licitação, sem autorização das prefeituras e em menos de sete dias úteis. As comunidades se mobilizaram em diversas ocasiões em oposição ao projeto”, informa a Ambiente.
“As empresas estatais e privadas [da China] frequentemente exploram a corrupção generalizada na região, para derrubar as práticas de contratação justas e escapar às regras ambientais”, disse o Almirante de Esquadra Craig S. Faller, comandante do Comando Sul dos EUA, à revista norte-americana Político, no dia 12 de agosto. “Uma tática comum que utilizam é oferecer recompensas vultosas aos funcionários locais em troca de acordos favoráveis.”
Essas empresas “subornam os fiscais comunitários, os obrigam a assinar documentos em branco e simulam assembleias para obter a documentação necessária para seus projetos”, denunciou Pedro Uc Be, porta-voz da Assembleia de Defensores do território Maya Múuch’Xiibal no site EL CEO, de Yucatán.
Os conflitos representam a necessidade de que as corporações e bancos chineses ponham em prática as proteções socioambientais no financiamento, projeto, construção e operação de empreendimentos na América Latina, informou a IPS Notícias.
Os crescentes vínculos comerciais de Pequim com a América Latina e o Caribe aceleram a deterioração ambiental com o aumento da contaminação, o esgotamento dos recursos não renováveis e a promoção do uso insustentável de recursos renováveis, informou o portal de notícias América Latina em Movimento em seu site. “A região possui um terço da água do mundo, um quinto dos bosques, além de grandes reservas petrolíferas e minerais”, acrescenta.