Com 31 anos de serviço militar, o Capitão de Mar e Guerra Daniel Opazo, do Corpo de Fuzileiros Navais do Chile, é um dos 11 conselheiros militares das nações parceiras (PNMA) no Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM).
Ao longo de sua carreira, o CMG Opazo ocupou postos de comando nos níveis de pelotão, companhia e batalhão de fuzileiros no Corpo de Fuzileiros Navais do Chile. Ele também serviu como instrutor das Forças Especiais e comandante de unidades táticas de comandos do Corpo de Fuzileiros Navais, tendo sido destacado no Chipre durante seis meses, como parte de uma operação de manutenção da paz.

Com experiência anterior nos EUA, o CMG Opazo é graduado do curso de Estado Maior da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e participou de numerosos exercícios de treinamento com seus homólogos do Corpo de Fuzileiros Navais e da Marinha dos EUA.
Ele ingressou no programa PNMA no SOUTHCOM em janeiro de 2022.
Diálogo: Qual é a importância para o Chile de participar com um oficial de ligação no SOUTHCOM?
Capitão de Mar e Guerra Daniel Opazo, do Corpo de Fuzileiros Navais do Chile, conselheiro militar de nações parceiras do SOUTHCOM: a integração do Chile na região tornou-se um dos elementos mais importantes de nossa política externa. Essa é a principal razão de nossa participação no SOUTHCOM. O Chile é um país que respeita a autonomia de cada país, garante a liberdade, os tratados e acordos internacionais, e promove a paz, a segurança e o desenvolvimento mundiais.
Isso se apoia no fato de que a prioridade do Chile é baseada no fortalecimento das relações com os países vizinhos e a região. É com base nisso que o Chile projeta sua identidade e aborda os temas da agenda internacional. O desenvolvimento nacional está ligado à manutenção das melhores relações políticas, comerciais e de cooperação com os países da região.
O Chile mantém um diálogo ativo e permanente em todas as áreas mais relevantes do relacionamento, que se estende aos mais diversos âmbitos, incluindo setores como energia, comércio, defesa e segurança, educação, cultura, tecnologia e migração. Dentro desse contexto, a integração física é uma parte fundamental do projeto de engajamento ativo com nossos vizinhos.
Em particular, no campo da defesa, a política externa do Chile é desenvolvida através da participação militar do país na arena internacional, global e regional: sozinhos; fazendo parte de uma coalizão que compartilha interesses específicos; em apoio a nossos parceiros; contribuindo para melhorar os padrões das forças armadas dos países amigos, através de atividades de cooperação militar; assumindo tarefas e funções na segurança coletiva global; assumindo uma parte da carga de segurança regional; promovendo a cooperação e a amizade entre os países amigos.
Diálogo: O SOUTHCOM tem 11 oficiais no PNMA. Por que é importante que as nações parceiras do hemisfério ocidental se integrem nesse programa?
CMG Opazo: A importância está no fato de que, ao enfrentar um cenário internacional complexo, o Chile acredita firmemente que a responsabilidade de preservar a paz e a segurança mundiais corresponde a órgãos coletivos, mais do que a respostas unilaterais, as quais podem minar os fundamentos jurídicos da coexistência internacional. Neste sentido, o Chile promove a participação em organismos multilaterais de cooperação para fortalecer a segurança e a cooperação internacionais.

Estamos conscientes da existência de ameaças que cruzam fronteiras e que, para enfrentá-las com sucesso nos próximos anos, teremos que buscar uma estreita cooperação entre as nações e através de organismos multilaterais e regionais.
A cooperação hemisférica é uma das áreas prioritárias de atenção em matéria de política externa. Por esta razão, pertencer a esta região lhe dá um selo distintivo. O reconhecimento desta realidade é o que sustenta a inserção internacional do Chile, que adquire importância estratégica devido ao seu potencial para fortalecer e multiplicar os laços econômico-comerciais, fortalecer os vínculos políticos e promover o desenvolvimento cultural.
Isso se materializa através de programas de cooperação regional, da participação em reuniões bilaterais e multilaterais de coordenação política, econômica e cultural, iniciativas de integração em áreas como infraestrutura, energia, cibersegurança, transporte, conectividade física e territorial, circulação de pessoas e segurança de fronteiras, e participação em órgãos de coordenação política no continente.
A manutenção, aprofundamento e expansão das relações bilaterais com os países da região, assim como os esforços de integração, formam a base para o desenvolvimento conjunto e harmonioso de nossos povos e para alcançar um futuro de prosperidade compartilhada.
Através dos nossos esforços de integração regional, aspiramos a contribuir de maneira ativa e comprometida para o aprofundamento dos processos democráticos nos países da região e para o fortalecimento da institucionalidade política e democrática.
Diálogo: Quais são seus objetivos como representante do Chile para o Comando Sul?
CMG Opazo: Representar o Ministério da Defesa Nacional, apresentando as posições do meu governo em relação a questões de interesse mútuo.

Apoiar o planejamento estratégico e operacional e a resolução de problemas administrativos, facilitando a conquista dos objetivos militares estratégicos do Chile na área de responsabilidade do Comando Sul.
Aumentar a relação profissional, de amizade e de companheirismo com a equipe do Comando Sul e também com os representantes de países parceiros e aliados.
Diálogo: Quais são suas prioridades neste momento?
CMG Opazo: A prioridade neste momento é apoiar o planejamento e a coordenação das atividades em andamento e futuras, nas quais as Forças Armadas do Chile participem. Apoiar um melhor entendimento mútuo entre o Comando Sul e as Forças Armadas do Chile e também com os outros países representados.
Diálogo: Como a pandemia do coronavírus afetou o Chile e como as Forças Armadas ajudaram as autoridades civis?
CMG Opazo: A pandemia afetou o mundo como um todo e, no caso particular do Chile, teve um grande impacto sobre a vida das pessoas. Embora o Chile tenha recebido recentemente um prêmio em Houston* por seu gerenciamento da pandemia, isso não foi gratuito. Houve grandes repercussões econômicas e um aumento do estresse na população, devido ao confinamento obrigatório como parte de outras medidas para mitigar, conter e controlar a pandemia.
As forças armadas têm apoiado as autoridades civis nas tarefas de segurança e ordem pública, supervisionando o cumprimento das medidas de saúde, participando da segurança das instalações de saúde, dos centros de vacinação e do controle da identificação e autorização de mobilidade.
Diálogo: O Chile compartilha o mesmo pensamento que os Estados Unidos sobre a Rússia e a China, como atores malignos neste hemisfério?
CMG Opazo: O Chile mantém uma relação puramente comercial com a Rússia e não tem qualquer influência política ou militar naquele país. Da mesma forma, o Chile rejeita a invasão da Rússia à Ucrânia e espera que ela termine em curto prazo. A prova disso é a votação na ONU e na OEA [Organização dos Estados Americanos].
No caso da China, existe uma forte relação econômica, dado que é o principal comprador do cobre produzido no Chile. A China busca inclinar a balança a seu favor e tem influenciado fortemente a América Latina nesse sentido.
Não há influência militar da China no Chile, ainda que, em sua política expansionista, eles tenham tentado implementar intercâmbios de militares chilenos em seus institutos militares, mas de forma esporádica. Sem ir mais longe, em 2007, participei de um curso de artes marciais para forças especiais. Esse programa incluía o conhecimento da história e da cultura da China, da língua chinesa mandarim e viagens para conhecer outras áreas de interesse cultural.
Atualmente, não há nenhum alinhamento voluntário com a China e, como resultado da aproximação econômica, não há efeitos importantes na formulação da política externa chilena, apesar de uma clara presença da China nos assuntos comerciais, em comparação com outros países do hemisfério.
Diálogo: Em suas duas últimas missões, o senhor foi destacado para a região de Biobío, devido ao conflito Mapuche, e depois foi enviado a Valparaíso para apoiar as operações da Marinha e sua resposta à COVID. Como essas e outras missões o prepararam para sua atual posição aqui no Comando Sul?
CMG Opazo: Ao longo destes 31 anos de serviço ativo, recebi capacitação e treinamento gradual e progressivo em diferentes áreas, o que me permitiu alcançar a maturidade profissional para atuar em cargos de maior responsabilidade.
Quanto aos destacamentos resultantes do conflito Mapuche na região de Biobío, a preparação profissional, a experiência no comando de unidades de Fuzileiros Navais e de forças especiais, a participação em diferentes cursos e como integrante de estados-maiores tanto institucionais como conjuntos, me permitiram formar uma equipe multidisciplinar, interagencial e conjunta para enfrentar este cenário exigente.
Durante o mês de outubro de 2019, ocorreu no Chile o chamado surto social, que desafiou a governabilidade do meu país. Por esta razão, integrei um grupo de trabalho para realizar o planejamento necessário para enfrentar esta crise social e para estar em condições de apoiar as autoridades civis nas tarefas de segurança e ordem pública. É por esta razão que fui nomeado para atuar como Diretor de Operações Conjuntas (JOCD) da Região de Valparaíso.
Acredito que graças à capacitação, educação profissional e treinamento recebido ao longo de minha carreira, na qual pude me desenvolver nas áreas tática, operacional e estratégica, agora estou apto a servir como Oficial de Ligação Naval e de Defesa do Chile para o Comando Sul dos Estados Unidos.
Diálogo: Que lições de cooperação o senhor espera levar de volta ao seu país ao terminar sua missão no Comando Sul?
CMG Opazo: No final do meu período no Comando Sul, espero ter contribuído para um melhor entendimento entre o Comando Sul e as Forças Armadas do Chile. Também espero ter incrementado os laços de amizade, confiança e interoperabilidade.
Por outro lado, no curto período em que fui Oficial de Ligação Naval e de Defesa do Chile no Comando Sul, pude participar de reuniões de trabalho e planejamento de atividades, e posso ressaltar a capacidade de trabalhar em equipe, a cooperação que recebi de cada pessoa com quem interagi e também a amizade e camaradagem dos outros oficiais de ligação.
Finalmente, a principal lição é que, com conhecimento mútuo, respeito, apoio, amizade e cooperação, podemos enfrentar as ameaças que afetam a região.
*O Governo do Chile recebeu o prêmio Franz Edelman 2022 por suas conquistas em análises avançadas, investigação de operações e ciências de gerenciamento, por seu uso da pesquisa operacional para melhorar as estratégias de resposta à pandemia da COVID-19.