O fluxo de migrantes que saem da Venezuela fugindo da grave crise econômica, social e política poderá se agravar ao longo de 2020, disse Eduardo Stein, representante especial conjunto do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), no dia 28 de outubro de 2019.
Durante um discurso na Conferência Internacional de Solidariedade, em Bruxelas, Bélgica, Stein lamentou que o cenário “continua o mesmo, sem diminuir” e acrescentou que o êxodo de venezuelanos poderá atingir 6,5 milhões de pessoas, ou seja, “os desafios serão muito maiores” em termos de ajuda humanitária, devido precisamente a esse grande aumento migratório.
“A região da América Latina e do Caribe se encontra em uma situação sem precedentes. O alcance e a complexidade da crise repercutem mundialmente, incluindo o continente europeu, e podem, inclusive, pôr em risco a estabilidade atual”, comentou Stein.
Os últimos estudos apontam que mais de 4,5 milhões de pessoas abandonaram a Venezuela em meio à severa crise que afeta todos os setores da nação.
O evento em Bruxelas abordou a grave situação da crise migratória na Venezuela e como essa situação vem afetando não apenas a região latino-americana, mas também outros países do mundo que estão acolhendo os refugiados venezuelanos.
Quanto a isso, Stein destacou que é importante continuar a “identificar os problemas” e “reforçar a ajuda internacional”.
Apesar da mobilização para promover a ajuda internacional, a situação continua sendo grave, disse Stein, advertindo que “a população se tornará ainda mais vulnerável”.

“Não há indícios de que isso terminará, é o que diz o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, e por isso essa situação gera uma grande preocupação devido à vulnerabilidade à qual eles estão expostos”, declarou.
Afirmou ainda que já foram registrados casos de “exploração, abusos, separação familiar e, em particular, de crianças desacompanhadas”. Ao mesmo tempo, ressaltou que “a situação dos migrantes a pé é uma grande preocupação, devido às grandes distâncias” que eles percorrem.
Stein acrescentou que “existem aspectos como a saúde, o emprego e a educação” que fazem com que alguns países da região se sintam prejudicados, devido ao aumento do fluxo migratório venezuelano.
O comissário da União Europeia Christos Stylianides disse que o organismo europeu está acompanhando bem de perto tudo o que vem acontecendo na Venezuela e lembrou que esse tipo de encontros servirá para que a mídia internacional destaque essa grave crise.
“A crise dos venezuelanos não ocupa as manchetes e é isso que estamos tentando corrigir; queremos que o mundo fique sabendo, para demonstrar solidariedade aos venezuelanos que se viram forçados a abandonar seus lares. Nós os temos em nossos pensamentos”, afirmou.
Stylianides lembrou que a União Europeia é “o principal investidor na América Latina” e, portanto, é de seu maior interesse ajudar a pôr um fim à crise.
William Spindler, porta-voz da ACNUR para os refugiados migrantes venezuelanos na América Latina, em entrevista à Voz da América lembrou que “se a tendência continuar nesse ritmo atual”, a cifra recorde de migrantes venezuelanos “se tornará a maior crise de desalojados do mundo.”
A ACNUR pediu que fossem dobrados os fundos para a Venezuela
De acordo com Spindler, esse tipo de encontro com representantes das organizações internacionais é “muito importante” para evidenciar a situação de milhões de venezuelanos.
Em 2019, a ACNUR solicitou US$ 743 milhões para fazer frente a essa crise humanitária e, para o próximo ano, pediu o dobro de recursos, que serão destinados “a todas as organizações que estão respondendo a essa situação”, disse Spindler.
“Essa é uma crise invisível; apesar de ser a segunda maior do mundo, não é muito difundida fora da América Latina, precisamente porque os migrantes venezuelanos foram acolhidos pelos países latino-americanos de uma maneira muito generosa, fraterna e solidária”, afirmou.
Spindler ressaltou que um dos principais problemas é que “a comunidade internacional não conhece o alcance nem a magnitude dessa crise”.
“Estamos tentando transmitir a seguinte mensagem: que muitos desses países, ainda que sejam países de média renda, como a Colômbia, o Equador ou o Brasil, precisam de apoio, porque essas comunidades já têm suas próprias necessidades pré-existentes, e precisam de mais apoio para poder continuar recebendo e absorvendo o fluxo de migrantes”, acrescentou.