Os meios de comunicação controlados pelo Kremlin, como RT e Sputnik, acumulam um grande número de seguidores de língua espanhola em plataformas de mídia social e divulgam a desinformação a milhões, indicou a plataforma global Insider, em 7 de abril de 2022.
A mídia RT é agora o terceiro site mais compartilhado no Twitter com informações em espanhol sobre a invasão da Ucrânia, informou a agência de notícias AP, em 2 de abril.
Teorias da conspiração
Os meios de comunicação pro-Kremlin publicam desinformação e propaganda, incluindo narrativas de bandeira falsa e afirmações para justificar a invasão, declarou Esteban Ponce de León, um investigador associado na América Latina do grupo de pensadores do Conselho Atlântico dos EUA.
“Uma vez que existe uma nova teoria de conspiração, esses meios de comunicação basicamente amplificam a mesma teoria em espanhol”, disse Ponce de León à Insider. “O público desses canais na América Latina é realmente enorme”, ressaltou.
Segundo o analista, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, a RT passou semanas apresentando ao público de língua espanhola teorias de conspiração não comprovadas sobre a invasão da Ucrânia.
Martín Pallares, fundador da mídia digital independente 4Pelagatos, do Equador, declarou ao diário espanhol El Mundo que “a mídia russa para uma grande parte da população da região […], aparece como uma marca de mídia internacional séria, que poderia perfeitamente ser confundida com a BBC de Londres. Nem todos têm uma ideia clara sobre a relação direta que a mídia tem com [o presidente russo Vladimir] Putin como uma ferramenta de propaganda”.
A América Latina tornou-se um alvo estratégico para Putin, para diversificar as alianças políticas da Rússia na região, a fim de contrabalançar a presença e influência dos EUA na América Latina. O público em espanhol da RT nas Américas está localizado principalmente no México, Venezuela, Argentina e Colômbia, noticiou a mídia digital Medium, sediada nos EUA.
Batalha psicológica
A propaganda russa pode chegar facilmente da América Latina a outros países – incluindo os Estados Unidos –, impactando as grandes comunidades de língua espanhola. É outra porta de entrada possível para Moscou, e um lembrete de seus esforços, informou a AP.
A batalha psicológica russa não só procura impor sua narrativa, mas também criar o caos e fazer com que o público duvide de tudo o que vê, disse à NBC News Jacobo Licona, líder da investigação sobre desinformação em Equis Labs, uma empresa norte-americana de investigação e pesquisa de opinião da comunidade latina. Os latinos são mais suscetíveis a esses conteúdos, devido à quantidade de tempo que passam nas redes sociais, e devido à forma como essas plataformas moderam o conteúdo em espanhol, destacou.
Uma coisa que ajuda a impulsionar e a legitimar a mídia russa em espanhol é que ela está sendo retuitada por contas verificadas da embaixada russa em vários países latino-americanos, incluindo Argentina, Chile e Uruguai, declarou Ponce de León.
Crimes de guerra
Enquanto a propaganda russa tenta enquadrar a Rússia como vítima de sua própria agressão contra a Ucrânia, o Kremlin está tentando preencher o espaço informativo, inundando-o de explicações contraditórias dos fatos, indicou EUvsDisinfo, uma plataforma europeia que promove a conscientização pública e destaca as operações de desinformação do Kremlin, no dia 7 de abril. O objetivo não é apenas desviar a culpa dos ataques russos a civis pacíficos, mas também moldar de forma preventiva as narrativas para combater e desacreditar qualquer evidência ou investigação de crimes de guerra russos na Ucrânia, advertiu.
Foto:
Foto de arquivo. As camionetes de transmissão de televisão da RT controladas pelo Estado permanecem estacionadas diante da Catedral de São Basílio e do Kremlin, ao lado da Praça Vermelha, em Moscou, em 16 de março de 2018. (Foto: Mladen Antonov/AFP)