Em 2018, o ex-subsecretário da Defesa para o Hemisfério Ocidental dos Estados Unidos, Frank Mora, afirmou que a Rússia estaria tentando intervir nas eleições da Colômbia. Mora, nomeado em julho de 2021 pelo presidente Joe Biden para o cargo de embaixador dos EUA para a Organização dos Estados Americanos, acrescentou que os russos estariam utilizando as redes sociais para gerar desconfiança e confusão entre o eleitorado. “O objetivo de base é identificar opções que possam criar um conflito com os Estados Unidos e enfraquecer a aliança existente entre ambos os países”, disse Mora naquela ocasião. “Eles tentam criar um mundo onde o eleitorado já não sabe o que é real ou falso. É uma estratégia muito barata que ocasiona caos e os beneficia.”
A preocupação com uma possível interferência russa nas eleições da Colômbia era tanta que o então presidente colombiano Juan Manuel Santos criou o Centro Integrado de Inteligência Eleitoral CI3E, liderado pela Polícia Nacional e a Missão de Observação Eleitoral, com o objetivo de garantir “eleições mais seguras”, de acordo com Santos.
A ingerência russa ainda mais preocupante
Quatro anos se passaram e o problema da ingerência da Rússia nas próximas eleições colombianas (março e maio de 2022) se tornou ainda mais preocupante para muitos analistas políticos colombianos e internacionais. “À medida que a Colômbia entra em seu próprio processo eleitoral, há uma quantidade cada vez maior de desinformação que chega de fora do país, com o objetivo de interromper o processo democrático”, disse Juan González, diretor para o hemisfério ocidental da Casa Branca, em uma sessão informativa no início de dezembro de 2021.
González declarou que é provável que os colombianos sejam manipulados este ano e não possam tomar a decisão por si mesmos, o que causa grande preocupação para os Estados Unidos, visto que o país é seu aliado mais importante da região, como publicou a revista colombiana Semana. “Essa é uma área para a qual realmente vamos olhar de forma especial, para tentar garantir que apoiamos um ambiente onde os colombianos são os que decidem com seus votos e não são manipulados por atores externos”, acrescentou González.
No entanto, que interesses teria Rússia nas eleições da Colômbia? Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas em Washington, D.C., afirma que os russos consideram a América Latina um aliado potencial, não apenas em questões comerciais, mas também políticas. Um exemplo são as recentes declarações do vice-ministro de Assuntos Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, que disse que “não poderia confirmar nem excluir” a possibilidade de que a Rússia mande tropas para Cuba e Venezuela”, o que geraria preocupação não só na Colômbia, mas em toda a América Latina.
Guerra Fria
Segundo Farnsworth, a Rússia da atualidade já não utiliza os métodos da Guerra Fria, quando enviava espiões a diferentes países. A estratégia nesses dias é cibernética, não apenas desestabilizando sites e software, mas também através de redes sociais, como publicou o portal colombiano de notícias kienyke.com. Ajudar candidatos em conformidade com as posturas russas para que consigam chegar a cargos de poder lhes permitiria ganhar terreno contra outras grandes potências que mantêm boas relações com a Colômbia.
Segundo a colunista da Semana, Alejandra Carvajal, as razões do interesse russo na Colômbia são várias, sendo a mais poderosa que a Ecopetrol (companhia colombiana do setor de petróleo que participa de todos os escalões da cadeia de hidrocarbonetos: exploração, produção, transporte, refino e comercialização) é uma ameaça aos interesses da Rússia, “pois a Europa depende totalmente do gás que [a Rússia] lhe fornece, o que dá a Putin não apenas poder econômico, mas também político sobre o velho continente. A Ecopetrol, tal como outras companhias similares em todo o mundo, representa um problema para a Rússia, pois oferece uma alternativa à Europa diante de um possível desabastecimento de gás”.
Resta esperar que o Centro Integrado de Inteligência Eleitoral, onde se faz a avaliação da vulnerabilidade e do risco para as eleições na Colômbia, faça bem seu trabalho e, que no momento de votar, os colombianos votem em candidatos que respeitem a soberania do país, sem interferências de governos externos.