Aqueles que pensam que o presidente russo Vladimir Putin olha apenas para a Ucrânia estão iludidos. A milhares de quilômetros de distância da invasão russa ao seu país vizinho, o Kremlin está sendo o “bom amigo distante” da América Latina, uma região de enorme importância, acentuada pela tensão permanente entre a Rússia e os Estados Unidos. O “jogo” russo vai muito além das já famosas relações amistosas com Cuba, Nicarágua e Venezuela. Putin se aproxima de maneira relevante principalmente de duas das maiores potências da América do Sul: Argentina e Brasil.
Se a imagem do encontro entre Putin e o presidente da França, Emmanuel Macron, separados por uma mesa de muitos metros de comprimento, atraiu a atenção mundial (a mesma mesa foi usada pelo Kremlin para uma reunião entre Putin e o chanceler alemão Olaf Schloz), a presença do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em Moscou, em meados de fevereiro de 2022, também chamou a atenção. Mas, ao contrário do presidente francês, o brasileiro estava muito próximo do líder russo, selando sua amizade com um firme aperto de mão. “O Brasil é o principal parceiro comercial da Rússia na América Latina e no Caribe”, declarou Putin nessa ocasião.
Em uma viagem internacional que também o levou a Barbados e à China, o presidente argentino Alberto Fernández foi calorosamente recebido por Putin no Kremlin, no início de fevereiro. Na reunião, o líder argentino garantiu que seu país “deve ser a porta de entrada” para a Rússia na América Latina. Segundo Fernández, a Argentina “tem que se abrir para outros lados, e é aí que me parece que a Rússia tem um lugar importante”, disse, referindo-se ao interesse da Casa Rosada em romper sua dependência comercial e econômica do Fundo Monetário Internacional.
Como informou o Chicago Tribune em um artigo publicado em 15 de fevereiro, a recente diplomacia russa em relação à América Latina é um lembrete de que, para Putin, há um objetivo primordial em sua política externa: devolver à Rússia seu status de grande potência, capaz de desafiar os Estados Unidos.
“Vladimir Putin procura se posicionar como líder em uma tentativa de mudar o mundo e as regras internacionais. Pela primeira vez na América Latina, estamos entendendo que as coisas não vão acontecer apenas longe de nossas casas; esta crise está se aproximando da região na velocidade de um jato supersônico”, disse o analista russo Vladimir Rouvinski, professor de relações internacionais da Universidade Icesi, ao jornal El Colombiano.