A missão é muito clara: fazer com que a Colômbia seja um país livre de suspeitas de minas antipessoais. Essa é a tarefa da Brigada de Engenheiros de Desminagem Humanitária do Exército Nacional, que procura limpar e descontaminar o território colombiano da ameaça de minas antipessoais instaladas por grupos armados ilegais. Na Colômbia, a desminagem humanitária também é realizada pelo Grupo de Explosivos e Desminagem do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha Nacional e cinco organizações civis.
Diálogo visitou as instalações da Brigada para conversar com seu comandante, o Coronel Jhon Fredy Correa González, do Exército da Colômbia, sobre as ações de desminagem e as tarefas a serem realizadas no cumprimento de sua função institucional.
Diálogo: Por que foi criada a Brigada de Engenheiros de Desminagem Humanitária?
Coronel Jhon Fredy Correa González, do Exército da Colômbia, comandante da Brigada de Engenheiros de Desminagem Humanitária: Até cerca de oito anos atrás, a Colômbia, depois do Afeganistão, ocupava o desonroso segundo lugar do mundo com o maior número de minas antipessoais. De nossos 32 departamentos, apenas um estava livre de suspeita de contaminação, e era o caso de San Andrés e Providencia. Temos aproximadamente 12.600 vítimas registradas de minas antipessoais, 60 por cento das quais corresponde a membros da Força Pública e 40 por cento são civis, incluindo mais de 1.200 crianças. Nesse contexto, os primeiros passos foram dados com a Convenção de Ottawa [assinada em 1997], mas depois disso criamos unidades como o 60º Batalhão de Desminagem. Em 2017, criamos a Brigada de Desminagem Humanitária com mais de 4.000 homens e mulheres do Exército Nacional, com o objetivo de atacar este flagelo, e começamos a trabalhar duro nas áreas mais afetadas, como os departamentos de Antioquia e Huila, entre outros.
Diálogo: Quais são as capacidades da Brigada?
Cel Correa: A Brigada está composta por sete unidades que estão destacadas em todo o país para descontaminar o território e ser considerado livre de suspeitas de minas antipessoais. Começamos com as técnicas de desminagem manual e depois implementamos técnicas de desminagem canina e mecânica, técnicas que temos aprofundado e aperfeiçoado de acordo com as normas internacionais e procedimentos operacionais aprovados.
Diálogo: Quais são as regiões mais afetadas na Colômbia?
Cel Correa: Antioquia foi, sem dúvida, um dos departamentos mais afetados no início desse trabalho. Em departamentos como Cauca, Arauca e Santander, infelizmente, não existem condições de não repetição e, portanto, não pudemos começar a trabalhar como tal nos mesmos.
Diálogo: Que progressos estão sendo feitos no Plano de Operações de Desminagem Humanitária 2025, que prevê uma Colômbia livre de suspeitas de minas antipessoais?
Cel Correa: Desde a criação da Brigada, através da Ação Integral contra Minas Antipessoais, 298 municípios foram designados para nós e entregamos 246, quase 80 por cento de progresso em termos de municípios declarados livres de suspeita de contaminação por minas antipessoais.
Diálogo: Que tipo de trabalho interinstitucional realiza a Brigada?
Cel Correa: A Brigada criou um selo diferenciador, que identifica produtos cultivados em áreas livres de suspeita de contaminação, ou seja, produtos pós-desminagem, com o objetivo de patrocinar ou articular o patrocínio desses produtos, para que a economia volte a fluir. Testemunhamos a valorização das terras, onde antes as pessoas tinham medo de entrar, e hoje estão cobrando um valor econômico considerável. Nosso trabalho nos enche de orgulho, porque vimos que a desminagem humanitária foi capaz de impelir a economia e o uso da terra.
Trabalhamos em coordenação com a Marinha da Colômbia, quanto à capacitação através do Centro Internacional de Desminagem Humanitária; também trabalhamos com prefeitos, governadores e diferentes agências governamentais nacionais, como a Agência de Renovação do Território e a Agência de Restituição de Terras.
Diálogo: Como vocês compartilham a experiência/capacitação com nações parceiras, uma vez que são considerados “pioneiros” nessa tarefa?
Cel Correa: Temos quase 50 anos de experiência com dispositivos explosivos, devido ao conflito interno na Colômbia, e interagimos com diferentes governos, como Camboja, Espanha e Brasil, com os quais atualmente trocamos experiências com dispositivos explosivos. A Brigada, devido ao seu tamanho, é a única no mundo com uma experiência bastante considerável nessa área; contribuímos para o conhecimento e documentamos todas as formas pelas quais o país foi vitimizado por organizações ilegais.
Diálogo: Qual tem sido a resposta das comunidades que foram liberadas de minas antipessoais?
Cel Correa: Uma das preocupações que nossos camponeses têm tido é o que vem depois da desminagem. Temos que lembrar que essas são áreas inóspitas, de difícil acesso, áreas onde muitos dos subsídios não chegam, razão pela qual tivemos essa política ou iniciativa com um selo diferenciador para tentar garantir que os produtos que começam a ser colhidos nessas regiões possam começar a reativar a economia. É o caso, por exemplo, do cacau no departamento de Meta, que participou da feira internacional Expo Dubai [2020], contando com a presença de alguns dos agricultores dessa região.