O codinome do plano da China para conseguir instalar bases militares em todo o mundo é Projeto 141. Essa iniciativa foi cuidadosamente projetada pelo Exército de Libertação Popular da China (ELP), com o objetivo de se beneficiar do aumento do apoio logístico de regimes a seu favor, informaram vários portais de notícias.
A tentativa mais recente de Pequim é a instalação de uma base em Cuba. O Huffington Post afirma que Havana e Pequim chegaram a um acordo para instalar uma base permanente de espionagem eletrônica na ilha caribenha, em troca de vários bilhões de dólares.
O portal reforça a tese com outros documentos vazados em abril, que revelaram que o Projeto 141 inclui propostas para estabelecer pelo menos cinco bases chinesas no exterior e dez locais de apoio logístico até 2030.
“A China está calculando que até 2049 terá o controle das rotas comerciais e o domínio sobre as novas cadeias de suprimentos”, disse à Diálogo, em 18 de setembro, Joseph Humire, diretor do think tank Centro para uma Sociedade Livre e Segura, com sede nos EUA.
A China estabeleceu sua primeira base militar no exterior em 2017, em Djibuti, no leste da África. Mas há especulações sobre a localização de outras bases chinesas no Oriente Médio e na África. O posto avançado de Djibuti é, até o momento, a única base no exterior oficialmente reconhecida por Pequim, informou o portal The Messenger News, com sede nos EUA, no final de junho.
Pé na porta
Em 2019, surgiram relatos de que a China havia assinado um acordo secreto para estabelecer uma segunda base naval em Camboja. Em junho de 2022, The Washington Post publicou imagens de satélite mostrando a rápida construção dessa base, que compartilha instalações com o exército daquele país. Essas bases militares chinesas estão intrinsecamente relacionadas com seus esforços comerciais e geopolíticos posicionados em todo o mundo, acrescenta.
“Eles os chamam de portos de uso duplo, porque têm uso comercial para a carga que a China está movimentando, mas a qualquer momento podem ter uso militar de exercícios navais, começando com o mínimo necessário”, disse Humire. “A China tem um exercício naval anual chamado ‘Simulação de Invasão’, que é realizado no Mar da China Meridional. É praticamente um exercício de treinamento para projetar como atacar Taiwan, instilar medo, passar uma mensagem, provocar e testar a execução do que a empresa chinesa Transportes Cosco faria […], ao mover os veículos anfíbios que o regime de Pequim usa nesse exercício.”
Preparando o terreno
Em setembro de 2020, o Departamento de Defesa dos EUA (DoD) relatou as intenções da China de aumentar sua presença global. O relatório afirma que a República Popular da China (RPC) busca estabelecer no exterior uma infraestrutura logística e de base, para permitir que seu ELP se projete e sustente o poder militar em distâncias maiores.
“As escolhas mais óbvias para a China estabelecer bases militares na América Latina são a Venezuela, a Nicarágua e Cuba, porque nos três países eles têm um relacionamento próximo, concessões legais e também há dívidas muito grandes dessas nações, que a China pode absorver”, disse Humire. “Além disso, a China também está buscando a Argentina, o Brasil e o Uruguai, porque precisa dominar essa área, especificamente para uma rota comercial transoceânica que conecte os oceanos Pacífico e Atlântico e não dependa do Canal do Panamá. É nessa área que a China quer se posicionar estrategicamente.”
“A China provavelmente considerou localizações para instalações de logística militar do ELP em Mianmar, Tailândia, Cingapura, Indonésia, Paquistão, Sri Lanka, Emirados Árabes Unidos, Quênia, Seychelles, Tanzânia, Angola e Tajiquistão”, disse o relatório do DoD.
“A Marinha dos EUA é a grande defensora do comércio internacional, literalmente protegendo as rotas comerciais do mundo e os sete pontos estratégicos de estrangulamento marítimo, que são o Estreito de Gibraltar, Canal do Panamá, Canal de Suez, Cabo da Boa Esperança, Estreito de Ormuz, Estreito de Malaca e Estreitos Turcos […]; mas, felizmente, os Estados Unidos estão presentes em todos eles”, concluiu Humire. “Se a China chegar a ter controle das rotas comerciais e domínio sobre os suprimentos, precisará de um posicionamento naval para substituir os Estados Unidos como o principal protetor dessas novas rotas, e o Projeto 141 foi projetado para isso.”