O Estado-Maior Conjunto do Chile concentra seus esforços no planejamento estratégico para enfrentar os desafios do futuro.
As Forças Armadas do Chile iniciaram 2018 com um balanço positivo. Planejamento estratégico, modernização de política de defesa, operações conjuntas e de paz, atendimento a desastres e assistência humanitária são algumas das atividades que mantêm os homens e as mulheres das Forças Armadas trabalhando constantemente, com profissionalismo e dedicação.
Para o Major-Brigadeiro Arturo Merino Núñez, chefe do Estado-Maior Conjunto (EMCO) do Chile, esse balanço institucional é promissor. Como comandante das forças terrestres, navais, aéreas e conjuntas designadas para as operações, o Maj Brig Merino tem a certeza de que as Forças Armadas estão preparadas para continuar seu desenvolvimento em 2018.
Diálogo entrevistou o Maj Brig Merino em Santiago para conversar sobre os avanços do EMCO, as operações de paz, as ameaças à segurança de seu país e a colaboração das Forças Armadas na região.
Diálogo: Em julho de 2017, o EMCO celebrou sete anos de mudança de nomenclatura. Como o senhor vê o avanço institucional e a interoperacionalidade entre as Forças Armadas do Chile?
Major Brigadeiro Arturo Merino Núñez, chefe do Estado-Maior Conjunto do Chile: Nos últimos anos, o EMCO consolidou-se como uma estrutura eficiente no desenvolvimento de suas funções, sobretudo em áreas como o planejamento e a condução das forças, o comando das forças em operações de paz e na coordenação efetiva dos meios para atender às emergências e catástrofes. Isso nos permitiu que nos apresentássemos como uma organização madura, cumprindo nossas obrigações com um alto grau de responsabilidade e esforço, utilizando as capacidades disponíveis de forma eficaz, pois sabemos que o trabalho que desenvolvemos é transcendental, por sua repercussão direta na segurança e na defesa. Esse trabalho, conforme as orientações políticas do senhor ministro da Defesa Nacional, foi abordado sob uma doutrina de abertura permanente, com caráter conjunto e integrado com as instituições armadas para aproveitar sua experiência e capacidade.
O EMCO se relacionou e complementou-se plenamente como equipe de trabalho com outros organismos do setor, contribuindo transversalmente com a maioria dos temas que essas organizações abordam. Isso permitiu aportar a visão estratégica a uma série de iniciativas, como o desenvolvimento do novo livro da Defesa Nacional, a potencialização da estrutura conjunta, o desenvolvimento da nova metodologia de planejamento do setor e a materialização da agenda de gênero, entre outras matérias.
Diálogo: Qual é o balanço das atividades do EMCO em 2017 e quais são as projeções para 2018?
Maj Brig Merino: O balanço foi muito positivo, pois se trabalhou com muita dedicação e profissionalismo em várias áreas, como o planejamento e a condução estratégica. Atualizou-se o planejamento vigente e modernizou-se a política de defesa coordenadamente com as instituições armadas e com a contribuição da Subsecretaria de Defesa. Na área de treinamento, desenvolveram-se exercícios importantes, eventos que marcaram um verdadeiro avanço na condução de operações conjuntas, ao integrar formas inovadoras de planejamento, execução, direção e controle das manobras, gerando um impulso à atividade e maior valor agregado a esse tipo de exercício.
Em 2017, uma série de atividades internacionais de utilização das forças conjuntas combinadas foi abordada, proporcionando uma grande experiência ao EMCO e às forças armadas em temas como o controle de crises, operações de paz, utilização das forças especiais, emergências e desastres, interoperacionalidade das forças e utilização das forças em operações que não são de guerra. Em geral, o balanço é muito positivo, pois alcançamos uma grande parte dos objetivos. Em 2018, esperamos um balanço igualmente positivo com o aperfeiçoamento e melhoramento dos objetivos e o estabelecimento de novas metas.
Diálogo: Quais são as principais ameaças à segurança que o Chile enfrenta e qual é o papel das Forças Armadas para combatê-las?
Maj Brig Merino: As ameaças que o Chile enfrenta, assim como a grande maioria dos países, obedecem ao conceito de multidimensionalidade, como é o caso do tráfico de armas, o crime organizado, o tráfico de drogas, a ameaça cibernética e o terrorismo. Essas ameaças são enfrentadas diretamente pelas instituições policiais. No entanto, as forças armadas cooperam indiretamente por meio da presença em áreas isoladas, das informações residuais, do controle marítimo e do tráfego aéreo.
Diálogo: Quais são as lições aprendidas da experiência de quase 13 anos da participação das Forças Armadas e da polícia do Chile na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti?
Maj Brig Merino: As experiências em 13 anos de contribuição para a paz mundial e regional têm sido múltiplas. Sem dúvida, as mais importantes estão no âmbito da experiência operacional que os nossos militares, marinheiros e pilotos adquiriram ao agir em um cenário muito complexo, onde se conseguiu concretizar a estabilização e a paz, para então poder apoiar a execução das eleições presidenciais de um governo haitiano em 2017. Por outro lado, o fato de trabalhar juntamente com as forças armadas de outros países, com culturas, equipamentos e idiomas diferentes, em alguns casos, foi um treinamento excelente para o pessoal.
O tema logístico, correspondente a manter uma força terrestre de apoio com engenheiros e helicópteros operando os 365 dias do ano, a uma distância de quase 7.000 quilômetros de suas bases principais no Chile, foi uma oportunidade excelente de planejamento logístico e financeiro, sem deixar de lado as capacidades polivalentes demonstradas no apoio em caso de desastres naturais, ordem pública, evacuações, proteção e transporte.
A polícia, por sua parte, ao ter-se preparado de forma independente como especialista em operações de paz, permitiu a realização de vários trabalhos de segurança e ordem pública de forma conjunta com a polícia de outras nações, o que permitiu trocar e adquirir experiências e métodos operacionais em cenários diversos, mutantes e altamente complexos.
Diálogo: O Chile tem pessoal para a manutenção da paz na Bósnia e Herzegovina, no Chipre, na Índia, no Paquistão, no Oriente Médio e na República Centro-Africana. Que avanços esses países conseguiram?
Maj Brig Merino: Os avanços foram significativos. Os militares que foram enviados como contingentes, observadores ou assessores em quartéis-generais cumpriram todos os mandatos internacionais que autorizam o envio de militares a cada uma das regiões, sendo a presença nacional fundamental para os avanços sustentáveis que têm relação com a garantia da paz, evitando os enfrentamentos entre as partes em conflito.
Diálogo: Que programas de colaboração as Forças Armadas do Chile têm com as da América Latina e do Caribe, especialmente com os países vizinhos e os Estados Unidos?
Maj Brig Merino: Um dos programas do qual as forças armadas participam é o Programa de Cooperação de Defesa para a América Central e o Caribe (PCDCAC, em espanhol), liderado pelo Ministério da Defesa; a Subsecretaria de Defesa é responsável pela direção política do programa e o EMCO é seu coordenador militar. O objetivo do PCDCAC é o de proporcionar apoio e capacitação aos países da América Central e do Caribe em assuntos de defesa relacionados com doutrina, educação, treinamento militar, gestão e manutenção logística militar e gestão perante catástrofes, entre outros temas.
Com os EUA temos o Programa de Associação Estatal entre o Chile e o estado do Texas, que se desenvolve desde 2009. Trata-se de um programa de cooperação de defesa sobre temas de interesse comum, destinado a aumentar a interação entre as partes e constituir uma base para as relações entre as organizações participantes, por parte do Chile, do EMCO e das instituições das forças armadas, e, por parte do Texas, do Departamento Militar do Texas e da Guarda Nacional do Texas. Esse programa tem como finalidade o intercâmbio de experiências e conhecimentos para o estudo e o planejamento do Estado-Maior nas áreas de pessoal, operações, logística, relações internacionais, operações de paz, respostas em casos de desastres e outras áreas de interesse, brindando a oportunidade de alcançar níveis de cooperação mútua que permitam a interoperacionalidade entre ambas as forças armadas.
Diálogo: Qual é o avanço da participação das mulheres nas Forças Armadas do Chile?
Maj Brig Merino: A participação das mulheres nas Forças Armadas começou em 1974, depois da criação da Escola do Serviço Auxiliar Feminino, onde trabalhavam como assistentes sociais, secretárias, babás etc. Posteriormente, em 1995, elas ingressaram pela primeira vez nas escolas matrizes do Exército. Em 2000, começou o ingresso feminino na Escola de Aviação e, em 2007, elas finalmente se somaram à Escola Naval. Nem todas as instituições têm mulheres como soldados conscritos no serviço militar; as soldados de tropa profissional só existem no Exército. Em 2017, a Força Aérea integrou soldados mulheres, e a Marinha pretende fazer o mesmo em 2018.
É possível evidenciar um avanço significativo nas instituições da defesa. As próprias integrantes solicitaram, ao longo do tempo, ser consideradas em todas as áreas, tais como seus homólogos homens, e essa mudança foi muito bem acolhida pelos integrantes das instituições. As porcentagens de integrantes entre homens e mulheres aumentou desde seu ingresso nas escolas matrizes. Em março de 2017, promulgou-se uma lei que estabelece uma escala mista para homens e mulheres, permitindo que todos possam chegar a general-de-brigada, aumentando a integração da mulher no Exército.
Diálogo: Qual é a importância da assistência humanitária e resposta a desastres feitas pelas Forças Armadas do Chile em apoio a outras agências estatais ou outras nações parceiras? Que tipo de treinamento realizam para esse tipo de missão?
Maj Brig Merino: As Forças Armadas contribuem e estão presentes no Sistema Nacional de Proteção Civil (SNPC). Em todo o ciclo de gestão de risco, elas contribuem com o sistema de acordo com as capacidades e a polivalência de seus meios na comunidade, na província, na região e em todo o país. As capacidades instaladas de apoio técnico das instituições são aquelas que se relacionam com a infraestrutura, a tecnologia e os diversos recursos para realizar tarefas que permitam atender às demandas sociais, com apoio a diferentes instituições governamentais, com o objetivo de entregar o máximo de antecedentes em caso de emergência e/ou catástrofe.
As Forças Armadas colaboraram nacionalmente, por meio do EMCO, com delegados nos comitês de proteção civil, de emergência e com a Plataforma Nacional de Gestão de Risco; além disso, participaram da elaboração da Política Nacional de Gestão de Risco de Desastres 2016, do Plano Estratégico Nacional para a Gestão de Risco de Desastres 2015-2018 e do Plano Nacional de Gestão de Risco e Desastres; atualmente, também contribuem com os Planos Específicos por Variáveis de Risco.
Com relação à capacitação e ao treinamento, as instituições do setor de defesa, com o objetivo de alcançar a polivalência de seu pessoal, orientam seus esforços de capacitação para o pessoal que, por sua vinculação com os comitês de proteção civil e com o Comitê de Operações de Emergência (COE) dos diferentes níveis, exigem capacitação apropriada para integrar esses organismos de planejamento e condução, contribuindo com conhecimentos atualizados para enfrentar as situações de emergência e/ou catástrofes.
As Forças Armadas desenvolvem exercícios de condução de emergências em nível regional e provincial para integrar as autoridades civis do SNPC, cooperar no treinamento dos COE nos exercícios de gabinete e/ou no atendimento pelo Sistema de Gestão e Treinamento para Emergências, ferramenta computacional de alto nível criada pelo Centro de Treinamento Operacional Tático do Exército para o treinamento da tomada de decisões em situações de emergência. Como participantes do SNPC, as Forças Armadas sabem que são sócios importantes dentro do sistema e, sem querer ser protagonistas, têm colaborado em casos de emergências e desastres desde sempre.