José Luis Gavidia Arrascue, ministro da Defesa do Peru, tomou posse em 1º de fevereiro de 2022. Seu foco ministerial é a direção, coordenação, execução e avaliação da política de segurança e defesa do seu país.
Diálogo visitou as instalações do Ministério da Defesa em Lima, para conversar com o ministro Gavidia sobre sua política de defesa e o progresso na luta contra a criminalidade.
Diálogo: O senhor afirmou que “dentro de cinco anos devemos terminar completamente com a subversão”. Qual é a estratégia a ser implementada para atingir este objetivo?
Ministro da Defesa do Peru, José Luis Gavidia Arrascue: O desafio que nos estabelecemos como governo é pôr um fim ao flagelo da subversão do terrorismo até 2026. A estratégia está em desenvolvimento há muitos anos e consiste em quatro etapas. A primeira etapa já foi desenvolvida, a parte de deslocamento e implementação das bases contra a subversão; temos atualmente cerca de 44 bases contra a subversão. Depois veio a etapa de ação militar, que reduziu a atividade subversiva no VRAEM [Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro], e estamos atualmente na fase de consolidação, o que nos permitiu reduzir a atividade subversiva na área territorial, já que a diminuímos de 73 a 43 distritos, e agora a atividade subversiva está encapsulada em cerca de cinco distritos. Queremos terminar a estratégia na parte da normalização, que esperamos começar a partir de 2026, quando os elementos subversivos já devem ter sido completamente neutralizados, para transferir a responsabilidade pela ordem interna para as autoridades locais, ou para a própria Polícia Nacional, e a retirada progressiva das Forças Armadas.
Queremos que essas grandes bases, que custaram tanto esforço e tanto dinheiro ao Estado, se tornem grandes centros de produtividade e desenvolvimento. Vemos o VRAEM mais como uma oportunidade do que como um problema, porque é uma área com uma biodiversidade incrível, tanto em termos de território como de clima, e existe a possibilidade de cultivos muito variados; a ideia é que, com a ajuda dos Batalhões de Engenharia, possamos começar a abrir estradas e pontes locais para que os agricultores, com a ajuda do Estado, do Ministério da Agricultura, possam desenvolver uma série de cultivos alternativos que sejam rentáveis e lhes permitam viver com dignidade. Os agricultores poderão levar seus produtos aos centros de produção, e esperamos que essas bases se tornem centros de desenvolvimento, onde o Ministério da Produção possa transformar café, cacau, abacaxi e uma série de outros produtos em conservas e dar-lhes um valor agregado que permita a sua comercialização, não só no país, mas também no exterior. E é aí que entra o quarto ator, que é o Ministério do Comércio Exterior, que terá que nos ajudar a colocar esses produtos, que tenho a certeza de que serão de primeira qualidade, nos mercados nacionais e internacionais. Isto permitirá que as pessoas que estão atualmente plantando coca façam uma erradicação voluntária, ou seja, que elas decidam por si mesmas que é melhor plantar cacau ou café do que coca.
Diálogo: Qual é o trabalho interagências entre as Forças Armadas e a Polícia Nacional para atacar e enfrentar os crimes transnacionais como o narcotráfico?
Ministro Gavidia: O narcotráfico, o tráfico de pessoas e o contrabando são atividades ilícitas cada vez mais intensas no mundo, e o Peru não está alheio a isso. Trabalhamos com muita inteligência da Direção Nacional de Inteligência, que é o órgão reitor que articula a inteligência do Exército, da Força Aérea e da Marinha, e também a inteligência da Polícia e do Ministério do Interior. Estes cinco elementos coordenados se posicionam, processam informações e montam operações para lutar, acima de tudo, contra as gangues organizadas.
Diálogo: Que projetos o Ministério da Defesa está tratando em termos de apoio da força pública contra crimes ambientais e desmatamento?
Ministro Gavidia: Temos problemas ambientais bastante complicados na área de fronteira com a Colômbia, em Putumayo, onde há não só narcotráfico, mas também muita mineração ilegal, bem como em Madre de Dios, entre a Bolívia e o Brasil. A mineração ilegal é uma das atividades mais depredatórias; eles utilizam produtos químicos que destroem rios e florestas. Assim, realizamos operações permanentes com a Polícia Nacional; praticamente encontramos dragas, grandes máquinas ilegais, e colocamos explosivos sobre elas e as explodimos, já que não é possível apreendê-las porque estão situadas em lugares inacessíveis. Quase todos os dias golpeamos a mineração ilegal e destruímos as máquinas que eles utilizam para extrair o mineral do rio, onde utilizam mercúrio e outros elementos químicos que contaminam a água, a vida selvagem e a fauna.
Diálogo: Que progressos foram feitos em matéria de direitos humanos no setor de defesa?
Ministro Gavidia: As organizações de direitos humanos têm uma relação muito estreita em quase todas as nossas unidades; temos um escritório de direitos humanos e estamos permanentemente integrados com organizações internacionais para receber capacitação. Não há nenhum soldado que entre na área de operações sem ter tido cursos de direitos humanos, para entender claramente as coisas ou o alcance do que pode ou não ser feito, quando se opera em missões, e quais são as margens e limitações. As portas dos quarteis e das bases militares estão sempre abertas para que as organizações internacionais possam interagir de forma permanente, solicitando informações, respondendo a qualquer denúncia sobre algum tipo de violação etc. Fizemos muitos progressos nos últimos 20 anos e temos que melhorar e aprender com nossos erros, e essas organizações [internacionais] nos ajudaram bastante.
Diálogo: Que inovações tecnológicas a indústria militar peruana tem a oferecer?
Ministro Gavidia: No setor da defesa, temos três grandes serviços para o desenvolvimento industrial. Um deles é o Serviço Industrial da Marinha, onde nos últimos anos, por exemplo, fizemos o BAP Unión, que é um navio de treinamento, um dos maiores veleiros do mundo. Fizemos dois navios multipropósito de alto nível com capacidade de suporte logístico e transferência de tropas de veículos para operar inclusive com helicópteros. E também fizemos um navio oceanográfico com capacidade polar, o BAP Carrasco, todos eles com acordos com estaleiros navais internacionais. A indústria a serviço da Marinha tem uma área de construção de grandes pontes para resolver a necessidade de interligar as diferentes regiões do país.
Temos a fábrica de munições e armamentos do Exército, onde estão sendo desenvolvidos projetos interessantes, especialmente na fabricação de armas, fuzis e armamento de pequeno porte, em convênios com algumas empresas internacionais. E, por outro lado, temos o serviço de manutenção da Força Aérea, que realiza a manutenção de aeronaves e componentes aéreos, não apenas para uso militar, mas também para uso comercial, entre outros.
Diálogo: Como vocês reforçam as capacidades nas operações de informação para combater a desinformação e as mensagens falsas que deslegitimam as ações da força pública?
Ministro Gavidia: No ministério, há uma diretoria de informação, como nas Forças Armadas, que é chefiada por um oficial, general ou almirante, que interage diretamente sob as ordens do comandante geral da instituição, onde são elaboradas estratégias para lidar com essas grandes ameaças que temos da desinformação. Através das redes, diferentes mensagens são lançadas para desinformar as pessoas, confundi-las e muitas vezes até gerar pânico e terror com falsas notícias, e é por isso que temos cada vez melhores ferramentas para neutralizar e lidar com essa ameaça
Para ver a entrevista completa com o Ministro da Defesa do Peru, José Luis Gavidia Arrascue, clique no seguinte link: https://dialogo-americas.com/pt-br/articles/uma-conversa-com-o-sr-jose-luis-gavidia-arrascue-ministro-da-defesa-do-peru/#.YqJbFC-B2Fw