A empresa estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que era historicamente o coração da economia venezuelana, continua em uma espiral descendente. A queda se intensificou com as sanções econômicas impostas em janeiro de 2019 pelo governo dos EUA, que cortou as relações comerciais com a PDVSA, por ser um veículo para lavagem de dinheiro, corrupção e fraude. Segundo o ex-diretor da PDVSA, Horacio Medina, que se aposentou em 2002 depois de mais de 20 anos de serviço e está exilado nos EUA, a derrocada da PDVSA ocorreu devido a uma combinação de má administração, falta de conhecimento dos executivos nomeados por Nicolás Maduro e corrupção.
O mandato do General de Brigada da Guarda Nacional Bolivariana Manuel Quevedo como presidente da PDVSA, desde novembro de 2017, é um fator importante na crise que a petrolífera vem enfrentando, explicou Medina à Diálogo. “[O Gen Bda] Quevedo não tem conhecimentos, experiência, nem relacionamentos na indústria petrolífera; isso explica muito bem por que a produção de petróleo na Venezuela despencou e não chega a 750.000 barris de petróleo por dia”. Em 1998, um ano antes da subida de Hugo Chávez ao poder, a PDVSA produzia mais de 3 milhões de barris diários.”
Uma das primeiras causas da queda data de dezembro de 2002, disse Medina, quando Chávez demitiu mais de 25.000 trabalhadores, incluindo muitos especialistas indispensáveis para o desenvolvimento da indústria petrolífera do país. A corrupção, insistiu Medina, é detectada com mais clareza com os conflitos de interesses criados por um regime que tem o hábito de delegar vários cargos ao mesmo funcionário. Como exemplos, Medina citou Rafael Ramírez, ministro de Energia da Venezuela e presidente da PDVSA entre 2003 e 2013, e Carlos Malpica Flores – sobrinho de Cilia Flores, esposa de Maduro –, tesoureiro nacional e vice-presidente da PDVSA entre 2013 e 2015.
A nomeação de Malpica para a direção da PDVSA, garantiu Medina, intensificou a corrupção na empresa que “estava se tornando uma grande fonte de lavagem de dinheiro industrial a serviço do narcotráfico”, disse o engenheiro de petróleo. “Ali começou o ciclo massivo de lavagem de dinheiro através da PDVSA.”
Vínculos com o crime organizado
Informações sobre os vínculos do chavismo com o narcotráfico remontam ao governo de Chávez, em parte graças às investigações da Administração para o Controle de Drogas dos EUA (DEA, em inglês), que envolvia militares ativos venezuelanos, explicou à Diálogo Félix Jiménez, ex-inspetor geral da DEA.
“Eles transportavam cocaína da Colômbia através da Venezuela”, disse Jiménez. “Chávez já tinha conhecimento das atividades criminosas desses oficiais quando era presidente; ele retirou da fronteira todo o pessoal que não era de sua confiança, enviando seus amigos generais com um ou mais sóis [insígnia que representa o sol, usada pelos generais venezuelanos] para comandar as operações de tráfico de cocaína com narcotraficantes colombianos, o que deu origem ao nome Cartel dos Sóis.”
A DEA começou a suspeitar que a indústria petrolífera venezuelana estava sendo utilizada também para lavar lucros do narcotráfico e transferir dinheiro do Estado para o exterior. Como exemplo, Jiménez citou o caso do Principado de Andorra, um paraíso fiscal no coração dos Pirineus, entre a França e a Espanha, onde os fiscais alegaram que uma rede de autoridades corruptas venezuelanas aceitava subornos de mais de US$ 2 bilhões. Mais recentemente, em fevereiro de 2019, as autoridades da Bulgária informaram que milhões de dólares haviam sido transferidos da PDVSA para um pequeno banco em seu país.
Por sua parte, Medina garantiu que Chávez e Maduro simularam em papel operações fictícias de venda e produção de petróleo bruto, para justificar a entrada de dinheiro proveniente do narcotráfico – tudo operado “diretamente por Ramírez”.
“Eles utilizavam as cifras de produção de gás e as transformavam em produções de barris de petróleo equivalentes”, explicou Medina. “Também utilizavam o diluente para produzir o petróleo bruto extrapesado. Isso era contabilizado como produção de barris de petróleo.”