A empresa chinesa Zhong Fu Development recebeu do regime de Daniel Ortega-Rosario Murillo duas concessões de mineração para explorar cerca de 15.400 hectares no norte do Caribe da Nicarágua, com impacto negativo sobre o meio ambiente e as comunidades indígenas, informou em um comunicado a Plataforma dos Povos Indígenas e Afrodescendentes da Nicarágua (INANA-AIP).
O grupo indígena denunciou as concessões e o aumento das atividades extrativistas na região de Moskitia, na Nicarágua. O grupo também identificou uma concessão de mineração de 14.000 hectares na área da colina Miramar, que fornece água potável para a comunidade Sahsa. A água agora está contaminada por produtos químicos da indústria. Além disso, há outra concessão de 1.400 hectares em Llano Sur, sob as mesmas circunstâncias.
“O objetivo da China é obter recursos dos países pobres, para criar uma dinâmica na qual as economias baseadas no conhecimento sejam forçadas a adquirir materiais a preços mais altos”, disse em 25 de agosto à Diálogo Eliseo Núñez, ex-deputado da oposição nicaraguense exilado na Costa Rica. “Essa estratégia lhe permite compensar a desvantagem que enfrenta em termos de conhecimento e tecnologia.”
A INANA-AIP afirmou que os projetos de exploração chineses, designados em 26 de julho, não consultaram as comunidades que habitam esses territórios e denunciou que esses projetos “poderiam levar a mais violência, colonização e genocídio nas regiões de Moskitia”.
O perigo do avanço da exploração mineradora está no fato de que ela ameaça a existência dos povos indígenas e afrodescendentes. Isso é evidente na imposição de atividades a esses grupos e no uso de várias formas de violência para persegui-los e expulsá-los de suas terras, caso se oponham, disse a INANA-AIP.
Desde 2020, a chegada de grileiros chineses tem sido observada no setor de extração de ouro no Caribe nicaraguense. Além da Zhong Fu Development, há as empresas chinesas Santa Rita Mining Company, com 33.000 hectares em Rosita, e HYTS Resource Developments, em Río San Juan, informou a plataforma peruana Expediente Público, em 15 de agosto.
“No contexto de uma estratégia global, essas concessões de mineração na região atlântica da Nicarágua estão de acordo com a tendência de aquisição de recursos naturais”, disse Núñez. “A China emprega a filosofia do jogo [de mesa] chinês go, capturando elementos aparentemente insignificantes, cuja soma final limita a mobilidade da economia centrada no conhecimento.”

Impactos desastroso
A Expediente Público disse que a chegada de empresas chinesas, conhecidas por práticas trabalhistas e ambientais questionáveis, gera preocupações entre os líderes comunitários. Essa preocupação surge em uma região onde o regime favorece os interesses econômicos de novos colonos que deslocam comunidades indígenas ancestrais de seus territórios.
Como parte desse plano, eles inicialmente ocupam a terra ilegalmente, para implementar atividades como criação de gado, contrabando de madeira e mineração. Em seguida, o regime investe em infraestrutura para os novos colonizadores e participa da exploração de recursos, informou a plataforma argentina Infobae.
Os efeitos ambientais adversos mais comuns dos projetos chineses, de acordo com a plataforma ambiental Mongabay, incluem a poluição da água e do ar, a violação da consulta livre e prévia aos povos indígenas e a repressão às comunidades que protestam.
“Além disso, há os impactos desastrosos em termos de direitos trabalhistas que acompanham esses investimentos”, comentou Núñez. “Suas chegadas muitas vezes resultam em condições que se assemelham mais à escravidão do que ao trabalho, o que equivale a uma violação flagrante dos direitos humanos das comunidades indígenas.”
A presença da Zhong Fu afeta 17 comunidades indígenas. No total, o regime de Ortega-Murillo concedeu 299 concessões de mineração, 172 para mineração metálica e 127 para mineração não metálica, informou Infobae. A lista de concessões de mineração na Nicarágua não foi atualizada desde junho de 2021.
Apesar das sanções que os Estados Unidos impuseram às exportações de ouro na Nicarágua desde outubro de 2022, o regime continua a aumentar suas exportações do metal, informou Expediente Público. O ouro é a principal commodity de exportação da Nicarágua.
“A China já tem um pé na América Central [junto com a Rússia], onde eles poderão weaponizar [usar como arma] atividades como o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro e a migração para os Estados Unidos”, concluiu Núñez. “Eles podem transformar essa região em um depósito de fentanil e um refúgio seguro para terroristas.”