A prisão e o julgamento dos comandantes dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e da guerrilha do Exército de Liberação Nacional (ELN) seria mais fácil se o presidente em disputa da Venezuela, Nicolás Maduro, não estivesse no poder, disse o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, reiterando que Caracas protege esses grupos armados ilegais.
Essas declarações foram feitas depois que os líderes da guerrilha das FARC que tinham se desmobilizado anunciaram seu retorno à luta armada em um vídeo, no dia 29 de agosto, por acharem que um acordo de paz não fora cumprido, o que ameaça a volta de um longo e cruel conflito interno.
“Não resta qualquer dúvida. O regime de Maduro os protege; esse regime lhes abriu as portas e facilita sua atuação em seu território”, disse em uma entrevista à Reuters o ministro das Relações Exteriores da Colômbia Carlos Holmes Trujillo.
O governo da Colômbia confirma que os dirigentes do ELN, além dos líderes das dissidências das FARC que abandonaram o acordo de paz, como Iván Márquez e Jesús Santrich, que apareceram em um vídeo anunciando a reativação da luta armada, estão refugiados na Venezuela, com a aprovação de Maduro.
O governo do presidente Iván Duque e as Nações Unidas condenaram o anúncio dos dissidentes, enquanto o partido político que surgiu da guerrilha desmobilizada disse que a maioria dos ex-integrantes continuam comprometidos com a paz, apesar das “dificuldades e perigos”.
Maduro nega que os integrantes dos grupos armados ilegais da Colômbia estejam refugiados em território venezuelano, mas Trujillo lembrou que o governante socialista havia dito, no final de julho, que Márquez e Santrich seriam bem-vindos em seu país.
Um funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos disse à Reuters que o governo de Maduro oferece cada vez mais refúgio aos grupos rebeldes colombianos.
Fim da ditadura, o melhor para a Colômbia
A Venezuela, que culpou o governo do presidente Iván Duque pelo rearmamento dos dissidentes, devido ao fracasso no cumprimento do acordo assinado em 2016, declarou-se preocupada com a “iminente reativação” do confronto que deixou 260.000 mortos e milhões de desabrigados durante mais de meio século.
Posteriormente, Maduro garantiu em seu perfil no Twitter que seu governo está comprometido em promover a paz na Colômbia e que avançará seus esforços para restabelecer o diálogo entre as duas partes.
“O fim dessa ditadura, dessa tirania, é o melhor para a Venezuela, o melhor para a Colômbia, o melhor para a região, o melhor para a comunidade internacional”, afirmou Trujillo, anunciando que Duque denunciará o apoio de Maduro aos rebeldes na próxima assembleia das Nações Unidas.
O líder da oposição venezuelana e presidente interino Juan Guaidó, reconhecido por mais de 50 países como governante legítimo do seu país, comprometeu-se a combater os grupos armados ilegais colombianos.
Maduro, que se mantém no poder com respaldo dos militares, acusa Guaidó de ser um fantoche dos Estados Unidos.
Trujillo garantiu que a Colômbia iniciará os trâmites para que Iván Márquez e outros líderes que abandonaram o processo de paz sejam incluídos na lista vermelha da Interpol das pessoas mais procuradas do mundo. As forças de segurança estimam que as dissidências das FARC tenham cerca de 2.200 combatentes.
Quando perguntaram a Trujillo que provas a Colômbia teria da presença rebelde na Venezuela, ele respondeu: “Há indícios, há hipóteses”.
“No entanto, o fato é que a Venezuela, sob o regime de Maduro, abrigou terroristas colombianos. Lá está o ELN, lá estão dirigentes do ELN. Esses dirigentes trabalharão em coordenação com esse grupo narcoterrorista anunciado [no dia 29 de agosto]”, concluiu.