As Forças Militares da Colômbia se mobilizaram para proteger a extensa área verde da nação contra a devastação do desmatamento ilegal.
A Colômbia ocupa uma extensa faixa da Amazônia; é uma área com um tamanho similar ao da Alemanha e Inglaterra juntas, e seu ecossistema único está ameaçado. Nos últimos anos, o aumento repentino das apropriações ilícitas de terra, das lavouras ilícitas e da mineração ilegal, entre outros, está devastando a floresta tropical. Para combater esse problema, a Colômbia não apenas tomou uma decisão inédita em 2018, reconhecendo a Amazônia como uma “entidade sujeita a direitos”, mas também expandiu o âmbito de suas missões militares, para incluir a proteção da Amazônia e pôr um fim ao que o presidente colombiano Iván Duque classificou como a “hemorragia do desmatamento”.
Denominada Campanha Artemisa, em alusão à deusa grega e guardiã da vida selvagem e da floresta, a mais recente iniciativa das Forças Militares da Colômbia, lançada no dia 28 de abril de 2019, tem três objetivos principais: deter o desmatamento destrutivo, recuperar a floresta tropical e entregar à justiça os responsáveis pela destruição da terra. A Campanha Artemisa, em parte uma estratégia militar e em parte uma iniciativa educativa, também busca promover uma cultura de responsabilidade e conservação do meio-ambiente entre os colombianos.
O desafio é enorme. O desmatamento é um problema de âmbito regional que afeta todos os estados da Amazônia. Embora os incêndios de meados de 2019 tenham colocado o Brasil e a Bolívia nos holofotes – com a perda de milhões de hectares de floresta –, a Colômbia também sente os efeitos.
O desmatamento na Colômbia surgiu após o acordo de paz assinado em 2016 entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). As perdas passaram de 70.000 hectares em 2016 a quase 200.000 hectares em 2018, o mais alto índice já registrado na Colômbia, segundo dados do Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (IDEAM) do Ministério do Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia. Os territórios que então eram controlados pelas FARC se tornaram repentinamente acessíveis e prontos para serem retomados.
“O acordo de paz negociado entre as FARC e o governo tinha o objetivo de pôr fim ao conflito armado”, disse Rafael Orjuela, líder comunitário do estado de Caquetá, na Amazônia colombiana, ao site de notícias Mongabay. “Entretanto, quando as FARC saíram […], todos se sentiram no direito de agir fora da lei, e o desmatamento imediatamente tomou proporções exageradas.”
Se a ocupação de terras e a pecuária dos pequenos agricultores e grandes proprietários influenciaram o desmatamento, um relatório do IDEAM emitido no final de 2018 apontou para a influência dos dissidentes das FARC e dos grupos criminosos que contribuíram ao desmatamento para cultivar drogas ilegais, entre outras atividades. “Os grupos armados presentes na região promovem o desenvolvimento de atividades agrícolas ilícitas, além da expansão da infraestrutura rodoviária informal, que afeta as florestas”, indicou o relatório.
Com sua estratégia pioneira, a Colômbia está tomando medidas severas contra o desmatamento ilegal. Desde o lançamento da Campanha Artemisa, mais de 22.000 militares e oficiais de polícia já realizaram mais de 60 operações, detendo mais de 120 pessoas, que foram em seguida acusadas de crimes ambientais, tais como provocar incêndios em áreas protegidas.
Para o conselheiro presidencial de segurança da Colômbia, Rafael Guarín, a Campanha Artemisa representa um ponto de inflexão fundamental nos objetivos de longo prazo das Forças Militares da Colômbia. “Pela primeira vez em nossa história, estamos alinhando os objetivos de nossa agenda interna, política exterior e segurança nacional, com o único propósito de proteger os recursos naturais”, disse Guarín. “Sua missão principal é o combate ao desmatamento catastrófico […] e a garantia da integridade da nação, com a proteção dos direitos essenciais dos cidadãos à água, a um meio-ambiente limpo e à biodiversidade.”