A situação dos trabalhadores da saúde na Venezuela é precária e tem um impacto direto no atendimento que estes profissionais prestam à população. De acordo com a Federação Médica Venezuelana (FMV), pelo menos 42.000 profissionais da saúde deixaram o país nos últimos anos, devido à crise econômica, salários miseráveis e falta de resposta às suas exigências socioeconômicas.
“O primeiro problema é o salário, que na prática não existe. O salário mínimo estabelecido é um pouco menos de US$ 5 por mês, e as pensões e aposentadorias são nulas”, disse à Diálogo Pablo Zambrano, secretário executivo da Federação Nacional de Trabalhadores da Saúde da Venezuela, em 15 de abril. “Isto faz com que os profissionais de saúde migrem para outros países para se dedicarem a outros tipos de trabalhos, ou vão para o setor informal na Venezuela.”
O presidente da FMV, Dr. Douglas León Natera, explicou que os baixos salários e a perseguição do regime aos trabalhadores continuam a causar a renúncia em massa e a migração de médicos de todas as especialidades. Além disso, ele advertiu que os hospitais do país estão constantemente deixando de fornecer serviços básicos, como água, eletricidade e suprimentos médicos, o que dificulta cada vez mais a prestação de cuidados médicos adequados aos pacientes.
A situação descrita pela FMV é confirmada por Zambrano, que aponta que os direitos humanos dos trabalhadores da saúde estão sendo seriamente afetados.
Jaime Lorenzo, médico e diretor da organização Médicos Unidos por Venezuela, disse que 70 por cento dos enfermeiros e bioanalistas emigraram do país ou estão engajados em outros trabalhos não relacionados à saúde, de acordo com a ONG HUM Venezuela, dedicada a relatar as emergências humanitárias no país.
Lorenzo advertiu que este problema se estende aos médicos e trabalhadores do setor, acrescentando que entre 25 e 30 por cento do pessoal médico trabalha em centros privados, onde é necessário investir para poder praticar, o que resulta proibitivo para muitos médicos, especialmente os mais jovens.
Embora existam exceções, a falta de suprimentos é outro problema que afeta seriamente os hospitais do país, especialmente em Caracas, que não recebem recursos para a compra de suprimentos e devem se conformar com as compras centralizadas do regime, disse Zambrano.
“Há rendimentos que entram em dólares provenientes do petróleo, da mineração de diamantes, do alumínio, do ferro”, disse Zambrano. “O regime então não pode dizer que não pode investir US$ 1 milhão para reparar aparelhos de tomografia, máquinas de mamografia, ressonadores magnéticos, infraestrutura, ambulâncias, comprar lâmpadas, enfim, o que é necessário para o funcionamento de um hospital.”
Zambrano assinala que o assédio constante dos trabalhadores hospitalares pelas autoridades também é um grande problema, pois eles exigem que cumpram suas obrigações de trabalho, mesmo que muitos deles não possam pagar o transporte para chegar ao trabalho.
“Nos centros de saúde há uma situação que acontece muitas vezes em que funcionários do regime de Maduro fazem represálias contra os trabalhadores desses centros, como, por exemplo, acusando-os de serem terroristas só por exigirem salários decentes, inclusive até o ponto de levar estas queixas ao Ministério Público”, acrescentou Zambrano.
A situação de falta de proteção e abuso dos profissionais de saúde tem sua correlação nos cuidados prestados aos pacientes.
“Quando chega um paciente, quem mostra seu rosto? Muitos centros de saúde não têm elevadores e os pacientes têm que ser levados em macas pelas escadas”, disse Zambrano. “Todos os centros de saúde na Venezuela tiveram que baixar sua capacidade de atendimento e hospitalização, chegando a até 20 por cento dos pacientes que atendiam em seus melhores momentos.”
A situação em relação às vacinas também é pouco auspiciosa na Venezuela e inclusive levou ao reaparecimento de doenças que anteriormente foram erradicadas.
“Estamos muito longe de atender aos padrões internacionais para poder dizer que a população está adequadamente vacinada”, disse o Dr. Huníades Urbina, vice-presidente da Academia Nacional de Medicina da Venezuela, à Unión Radio 93.7FM. O médico advertiu que doenças como a difteria reapareceram, devido à baixa cobertura de vacinas registrada mesmo antes da pandemia. Há também uma baixa cobertura da pólio e, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, a Venezuela está em uma zona de alto risco para o reaparecimento desta doença, bem como do sarampo.
O Dr. Natera concluiu afirmando que eles já solicitaram ao regime em várias ocasiões a implementação de um plano de recuperação hospitalar, mas até o momento eles não obtiveram nenhuma resposta, apenas um profundo silêncio.