Após o referendo consultivo de 3 de dezembro de 2023, o regime de Nicolás Maduro continua a se preparar para uma escalada de conflito com seu vizinho, a República Cooperativa da Guiana, por causa de uma disputa de longa data sobre a área de Essequibo.
Em 13 de janeiro, a Assembleia Nacional iniciou a segunda discussão sobre a Lei Orgânica para a Defesa da Guiana de Essequibo, que prevê a incorporação à Venezuela desse território de quase 160.000 quilômetros quadrados.
“O regime de Maduro está tentando alimentar um sentimento nacionalista que lhe permita ganhar um certo grau de popularidade internamente”, disse à Diálogo, em 15 de janeiro, Félix Arellano, doutor em Ciências Políticas e professor titular da Universidade Central da Venezuela, “Essa é uma […] distração em relação aos problemas que sobrecarregam uma população afetada por uma emergência humanitária complexa.”
Em abril, representantes venezuelanos deverão apresentar seus argumentos perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), onde a disputa pelo território de Essequibo está sendo analisada.
Arellano advertiu que o regime de Maduro não reuniu as informações necessárias para sustentar sua posição. “São necessários especialistas nacionais em direito, história, geografia, política e relações internacionais. Mas não estou vendo nada disso. Se isso estiver sendo feito, será em um segredo muito bem guardado”, afirmou.
O referendo de dezembro incluiu uma pergunta que rejeitava a jurisdição da CIJ. Após a votação, Maduro anunciou que tornaria o resultado do referendo “obrigatório”.
Arellano advertiu que a CIJ dará o veredito correspondente, mesmo que a Venezuela se recuse a comparecer na ocasião para a qual foi convocada. Então, “poderá ocorrer um confronto militar”.
Improvisação
Em 28 de dezembro, a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) iniciou uma manobra, que Maduro descreveu como “uma ação conjunta de natureza defensiva”, ao longo da fronteira oriental, em resposta à visita do navio de patrulha HMS Trent da Marinha britânica à Guiana.
A decisão do regime foi anunciada duas semanas após a reunião entre Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, na ilha de São Vicente, em que ambos concordaram em se abster do uso da força.
De acordo com a cadeia France24, mais de 5.000 militares venezuelanos da Marinha, do Exército, da Guarda Nacional, da Força Aérea e da Milícia Nacional Bolivariana participaram dessas manobras.
O General de Brigada (R) Rodolfo Camacho, do Exército da Venezuela, alertou que Maduro e sua elite militar estão tentando aumentar a capacidade e mobilizar ativos militares para a fronteira leste. “Mas, o que se vê são muitas improvisações sensacionalistas”, disse o Gen Bda Camacho à Diálogo.
As transferências de tropas, afirmou o Gen Bda Camacho, são realizadas por estrada a partir de lugares tão distantes quanto Mérida, nos Andes venezuelanos. Por esse motivo, muitos dos soldados enviados para Delta Amacuro e Bolívar “nunca haviam estado na área”.
“Há um enorme fluxo de entrada e saída de pessoal. Isso faz parte da mesma improvisação. Na ilha de Anacoco, o General Serrano enviou pessoas para patrulhar durante três dias. Tudo isso era porque [os soldados] não cabiam no acampamento”, revelou o Gen Bda Camacho.
Essa ilha, localizada na margem venezuelana do rio Cuyuní, um afluente do rio Essequibo, não tem serviço contínuo de eletricidade. A água potável tem de ser transportada em tanques. De acordo com o Gen Bda Camacho, tanto lá quanto no local de La Esperanza, houve surtos de malária.
“Apesar das tentativas de levar o processo pelos canais diplomáticos, a mobilização [militar] em direção à Guiana continua”, concluiu o Gen Bda Camacho. “A perspectiva de um conflito com a Guiana tem como principal objetivo exercer um controle sobre os fatores políticos internos da Venezuela e, igualmente, manter a FANB ocupada com um inimigo em potencial.”