O regime ilegítimo de Nicolás Maduro nomeou 16 oficiais militares da reserva ativa, alguns comprovadamente sancionados por corrupção, para as eleições parlamentares fraudulentas de 6 de dezembro na Venezuela. Alguns deles, inclusive, poderão estar ainda no serviço ativo, visto que não foram publicados os pronunciamentos sobre suas reformas.
Esses nomes foram divulgados por Maduro
como parte dos 120 candidatos postulados para a renovação dos deputados da Assembleia Nacional, publicou o jornal venezuelano El Universal. Entre as novas figuras, destacam-se as do General de Exército Jesús Suárez Chourio, ex-comandante da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), e do General de Brigada Alexis Rodríguez Cabello (primo de Diosdado Cabello), ex-chefe da Região Estratégica de Defesa Integral Capital e ex-comandante do Exército Bolivariano.
O regime ilegítimo também nomeou os generais de brigada da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) Manuel Quevedo e Antonio Benavides Torres, os quais acabam de ocupar, respectivamente, a presidência da Petróleos da Venezuela e do comando-geral da GNB.
O Departamento do Tesouro dos EUA sancionou os generais de exército Suárez Chourio, Quevedo e Benavides Torres por seu apoio ao regime de Maduro, sua participação no desvio corrupto de recursos necessários para mitigar a emergência humanitária na Venezuela e violações aos direitos humanos fundamentais dos cidadãos. O Gen Ex Suárez foi incluído na lista do Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro em julho de 2017, o Gen Bda Quevedo em fevereiro de 2019 e o Gen Bda Benavides Torres em março de 2015.
O Gen Bda Benavides Torres também foi sancionado pela União Europeia (UE), em uma decisão aprovada pelo seu parlamento em janeiro de 2018.
Segundo Luis Alberto Buttó, historiador venezuelano especializado em relações cívico-militares e diretor do Centro Latino-Americano de Estudos de Segurança da Universidade Simón Bolívar, a decisão de promover esses oficiais à Assembleia Nacional é produto de um modelo político criado há duas décadas.
“A direção do regime sempre se referia a uma direção político-militar da revolução, o que significa que os militares são agentes políticos de primeira linha. De executores de políticas públicas passaram a ser governo, e com eles agora [o regime] quer controlar o poder legislativo”, afirmou Buttó.
Ele disse que essa fração de candidatos ao Parlamento venezuelano, surgida das fileiras da FANB, representa o reconhecimento de uma cota de poder para os militares dentro do oficialismo.
“Existe uma simbiose entre o alto comando e a direção revolucionária. Isso não necessita qualquer discussão. Essa identidade já existia antes dessa eleição, porque se trata de um projeto de origem militar”, explicou.
Desconhecimento internacional
Os Estados Unidos e a UE anunciaram que não reconhecerão os resultados desse processo eleitoral falso, por considerarem que não existem condições mínimas para garantir a igualdade e a transparência dos resultados, exigindo eleições presidenciais e parlamentares livres e justas.
A oposição, liderada pelo presidente interino Juan Guaidó, anunciou que não participaria. Os representantes de outros fatores políticos de oposição, como Henrique Capriles, também optaram por retirar as candidaturas de seus partidos, uma vez que os europeus decidiram não enviar uma missão de observação eleitoral, de acordo com Josep Borrell, encarregado da política exterior da UE, no dia 30 de setembro.
Segundo o General de Brigada (R) do Exército Bolivariano Juan Antonio Herrera, presidente encarregado da Frente Institucional Militar – uma organização que reúne 266 oficiais reformados com o objetivo de impedir que a FANB se desvie do preceito constitucional – o lançamento das candidaturas desses oficiais “politiza ainda mais a Força Armada em todos os seus elementos”, em uma franca violação das disposições do artigo 328 da Constituição, segundo o qual a instituição militar se manterá apenas a serviço da nação, e não de qualquer preferência política.
O Gen Bda Herrera disse que o objetivo do regime é consolidar a FANB como o “braço armado” do oficialismo.
“Essa facção militar legislará em favor da politização da Força Armada, colocando-a a serviço de um projeto político”, advertiu.
A própria instituição militar realiza uma operação de respaldo e vigilância do processo eleitoral e, na última semana de outubro, foram efetuadas as primeiras simulações das eleições em todos os estados do país.
O Gen Bda Herrera observou que esse processo, no qual os militares são árbitros e também uma parte interessada, suscita conflitos e contradições no âmbito da FANB, pois ali ainda “resta um setor que segue a Constituição”.
De acordo com Buttó, o debate deve se concentrar na pouca legitimidade dos comícios e no fato de que os resultados não contarão com o reconhecimento formal da comunidade internacional.