“O Irã pode estar começando a fornecer equipamentos militares ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela”, diz um relatório de 19 de novembro do Projeto de Ameaças Cruciais (Critical Threats Project, em inglês), uma iniciativa do American Enterprise Institute, um grupo de especialistas com base em Washington D.C., que rastreia e analisa as ameaças à segurança dos Estados Unidos e das nações parceiras.
O relatório chegou no mesmo dia em que Maduro anunciou na emissora de televisão estatal que a Venezuela começaria em breve a fabricar drones para a defesa nacional. Maduro não deu maiores explicações, mas apresentou dois protótipos de veículos aéreos não-tripulados (VANT). Em 2012, o Irã admitiu que exportava a sua tecnologia de VANT para a Venezuela, incluindo o drone Mohajer-2, do mesmo tipo usado pelo Hezbollah e pelas forças de Bashar al-Assad na Síria, informou o Jerusalem Post, nessa ocasião.
O Projeto de Ameaças Cruciais menciona três voos à Venezuela da Qeshm Fars Air, uma companhia aérea iraniana afiliada à Força Quds do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC-QF, em inglês) e sancionada pelos Estados Unidos por enviar armas à Síria, como potencial evidência de que o Irã poderia ter começado a fornecer equipamentos militares ao regime de Maduro. Os voos começaram a chegar à Venezuela no final de outubro. O Projeto de Ameaças Cruciais indicou, no entanto, que a carga desses voos era desconhecida.
“Um avião 747 da Qeshm [Fars] Air do Irã pousou no aeroporto de Maiquetía [estado de Vargas]. Esse avião transporta regularmente armas para grupos terroristas no Oriente Médio e foi sancionado pelo @UTreasury [Departamento do Tesouro dos EUA]”, disse no Twitter o legislador da Assembleia Nacional da Venezuela, José Manuel Olivares, quando a primeira aeronave pousou, no dia 27 de outubro. “Estão descarregando as caixas diretamente em contêineres fortemente escoltados.”
No dia 26 de outubro, o representante especial dos EUA para o Irã e a Venezuela, Elliott Abrams, advertiu que os Estados Unidos poderiam “eliminar “os mísseis iranianos enviados à Venezuela. “A transferência de mísseis de longo alcance do Irã para a Venezuela não é aceitável para os Estados Unidos e não será tolerada ou permitida”, declarou Abrams. “O Irã anunciou sua intenção de participar da venda de armas e a Venezuela é um alvo óbvio, porque esses dois regimes párias já mantêm um relacionamento.”
Um embargo de 13 anos de armas convencionais ao Irã, imposto pelas Nações Unidas, expirou no dia 18 de outubro. O fim do embargo significa que o Irã agora pode vender e comprar legalmente armas convencionais, incluindo mísseis. Em agosto, Maduro sugeriu que a compra de mísseis iranianos seria uma “boa ideia”.
Outro indício de que o Irã possa estar fornecendo equipamentos militares ao regime de Maduro, segundo o Projeto de Ameaças Cruciais, é o recém formado Conselho Militar Científico e Tecnológico, que, segundo Maduro, operará com a ajuda e a assessoria de nações “irmãs”, tais como Rússia, Cuba, China e Irã. De acordo com a mídia alemã DW News, Maduro anunciou a criação do conselho no dia 23 de outubro, alegando ameaças externas e “agressões” ao país.
Em uma entrevista feita no dia 28 de setembro à Rádio Farda, que é o ramo iraniano do serviço de emissão da Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade, financiada pelo governo dos EUA, o antigo comandante chefe da IRGC, General de Brigada Yahya Rahim Safavi, declarou que o Irã está ajudando a Venezuela a formar uma força de mobilização. O Gen Bda Safavi do IRGC diz que o processo está “transferindo a experiência do Irã” a países como a Venezuela, que estão “contra os EUA”. A Força de Mobilização Popular do Irã é uma subdivisão do IRGC que ajuda as unidades especiais a reprimir as revoltas sociais.
No dia 6 de novembro, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, fez uma visita de dois dias a Caracas, onde reiterou que ambos os países continuariam a “cooperação de defesa”, e acrescentou que ambos estavam “legalmente autorizados a desenvolver a cooperação nesse campo”, informou a emissora persa de televisão Iran International, com sede na Inglaterra.
“Esse relacionamento suscita preocupações. O papel do regime de Maduro ao abrir as portas às redes de ameaças e agentes estatais hostis aos Estados Unidos é, sem dúvida, uma razão importante pela qual esse regime antidemocrático e criminoso deve desaparecer”, disse à Diálogo Evan Ellis, professor pesquisador de Estudos Latino-Americanos do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra dos EUA.
Em uma entrevista ao site de notícias argentino Infobae, o bispo Mario del Valle Moronta Rodríguez, proeminente clérigo venezuelano, denunciou o fortalecimento dos vínculos do regime de Maduro com o Irã, “permitindo que ele coloque suas bases operacionais em nosso país”.
Para Francine Jacome, diretora do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos, o estreitamento da cooperação de defesa beneficia o Irã, não apenas do ponto de vista geopolítico.
“O Irã também tem problemas financeiros; isto foi claramente demonstrado com a importação de gasolina iraniana [para a Venezuela], que foi paga com ouro”, disse Jacome à Diálogo. “Isso precisa ser levado em consideração; até que ponto o atual regime venezuelano teria recursos para a aquisição dessas armas.”