A hiperatividade da República Islâmica do Irã e de seu agente Hezbollah está aumentando em um ritmo alarmante no hemisfério ocidental. “O principal objetivo regional do Irã é estabelecer uma rede política, militar e paramilitar, paralela a movimentos e regimes contra os Estados Unidos com ideias semelhantes, para combater sua influência e corroer sua legitimidade no hemisfério ocidental”, informa um relatório do think tank American Enterprise Institute (AEI).
A organização terrorista Hezbollah está presente em mais de 40 países. No entanto, sua presença na América Latina é motivo de preocupação crescente na região, especialmente no Brasil, Colômbia, Equador, Panamá e Peru. Uma das regiões mais ativas para essa facção terrorista durante décadas tem sido a área da Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, onde foram descobertos explosivos e financiamento através do narcotráfico, informa a rede de notícias alemã DW.
É assim que opera o Hezbollah, o grupo extremista libanês apoiado pelo Irã. “Eles entram pelas colônias libanesas, procurando um nicho onde possam se estabelecer, especialmente para penetrar em negócios ilegais, como narcotráfico, mineração ilegal ou lavagem de dinheiro. Uma grande parte desses recursos é enviada ao Líbano para financiar suas milícias, afirma Infobae, o diário digital argentino de jornalismo internacional. “O Hezbollah é uma das principais razões do desastre econômico e social em que ficou prostrada essa nação [Líbano], que já foi um modelo de sucesso no Oriente Médio, e agora é a Venezuela da região: sem eletricidade, com uma inflação brutal e milhões de libaneses fugindo aterrorizados do que já foi um grande país.”
O fortalecimento do Irã na América Latina envolve a metamorfose de uma entidade informal para uma formal; ao mesmo tempo, o país está aumentando suas atividades militares e paramilitares. O Irã iniciou essa estratégia na década de 1980, quando se introduziu secretamente em um punhado de nações latino-americanas, disfarçando intercâmbios comerciais e culturais.
“Essa penetração cultural permitiu que o Irã e o Hezbollah se integrassem às comunidades muçulmanas dos países selecionados. Mais importante ainda, o Irã estabeleceu uma infraestrutura para inserir agentes de inteligência e outros atores subversivos na região”, escreve AEI. “Esses agentes, por sua vez, fornecem informações no terreno e sobre o conhecimento local dos desafios e oportunidades disponíveis para o Irã na América Latina.”
O Irã usa o Hezbollah para seus objetivos políticos, mas também tem uma agenda própria. A última visita do presidente do país à região, em junho de 2023, foi à Venezuela, Cuba e Nicarágua, o que deixa claro o que eles estão jogando e com quem, publicou Voz da América. “Está claro que eles estão jogando de mãos dadas com a Rússia, para provocar a ruptura da democracia, criar problemas para os Estados Unidos e consolidar as autocracias e ditaduras do continente”, acrescentou Infobae.
O Hezbollah obtém benefícios financeiros, servindo como prestador de serviços para o crime organizado internacional e local e para autoridades oficiais e civis corruptas em toda a América Latina, principalmente por meio de atividades na Tríplice Fronteira. Vastas comunidades de migrantes xiitas libaneses se estabeleceram na América Latina, concentrando sua atenção nessa área, mas também na Argentina, Chile, Colômbia, México e Venezuela. Relatórios indicam a existência de comunidades menores no Equador, El Salvador, Guiana e Panamá.
“É importante enfatizar que nem todos os membros das comunidades libanesas estão envolvidos nas atividades de apoio e financiamento do Hezbollah”, explica Emanuele Ottolenghi, do think tank Fundação para a Defesa das Democracias, com sede em Washington, em entrevista à DW. “Mas sempre que há a presença de redes ligadas ao Partido de Deus [Hezbollah em árabe], elas se misturam e se imitam nessas comunidades xiitas.”
A Tríplice Fronteira é “uma área comercial onde circula muitíssimo dinheiro, com infraestrutura muito completa e muito bem conectada ao resto do mundo”, explica à DW o criminologista Juan Martens, diretor do Instituto de Estudos Comparados em Ciências Criminais e Sociais do Paraguai e pesquisador da Universidade Nacional de Pilar. “Não há apenas três aeroportos internacionais; há também atrações, como as Cataratas de Iguaçu, tornando-a uma área turística que permite uma presença anônima, sem atrair muita atenção.”
“Não é que o Estado não esteja presente na área, mas ela é muito permeada por diferentes grupos dedicados a atividades ilegais ou criminosas”, acrescenta Martens, denunciando a “fragilidade institucional” nos três lados da fronteira.
A Argentina foi o primeiro país latino-americano a expor o Hezbollah como uma organização terrorista, em 2019, ao completar 25 anos do atentado terrorista contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, em julho de 1994, que matou 85 pessoas e feriu 300. Dois anos antes, em 1992, o país já havia sofrido um ataque à Embaixada de Israel, que deixou 29 mortos e 200 feridos.
Em uma entrevista de outubro de 2023 à multiplataforma peruana Exitosa Noticias, o Coronel Max Anhuamán, chefe da Diretoria Antiterrorismo (Dircote) da Polícia Nacional do Peru, lembrou como, há uma década, a Dircote rastreou um membro do Hezbollah, casado com uma peruana, que acabou sendo preso por processar explosivos. “O homem”, disse o Cel Anhuamán, “aceitou que era do Hezbollah e tinha fotos em seu telefone de locais israelenses e estratégicos, como pontos turísticos e o aeroporto internacional”.
“Seria mais fácil dizer em quais países o Hezbollah não está presente, porque tem uma rede bastante bem estabelecida na América Latina, que vai desde o México até o Chile, passando por Guatemala e Costa Rica”, afirmou Ottolenghi. “Mas há centros que são particularmente importantes, como a área de fronteira entre Colômbia, Panamá e Venezuela ou a Tríplice Fronteira, que é considerada o centro das operações do Hezbollah na região, especialmente Ciudad del Este.”
O Hezbollah na Venezuela está no negócio de mineração ilegal, operando uma mina de coltan perto da fronteira com a Colômbia, além de seu trabalho no narcotráfico, informa Infobae. “Com a ajuda do regime venezuelano, que concedeu passaportes e cidadania a muitos dos terroristas do Hezbollah, eles têm se infiltrado em outros países, prontos para agir, e já estão envolvidos em negócios ilegais em toda a região.”
“O Irã treinou a marinha venezuelana em sua guerra assimétrica marítima, na qual usam pequenos barcos rápidos com mísseis para atacar embarcações muito maiores”, diz Infobae. “Não se sabe o quanto isso é útil, dado o estado lamentável das Forças Armadas venezuelanas, mas o fato é que eles já têm essa capacidade.”
Na Venezuela e na Nicarágua, o Irã treina as forças militares de ambos os países em guerra assimétrica com drones, que provou sua importância no conflito na Ucrânia. “Além disso, há evidências de uma transferência de tecnologia para ambos os países para a instalação de indústrias de armas dessa categoria, o que gera uma imensa vantagem operacional para seus exércitos, no caso de um confronto armado”, alerta Infobae.
No entanto, o Hezbollah também tem células terroristas ativas que podem criar o caos e o terror quando e onde o Irã precisar. O jornal brasileiro O Globo noticiou, em 23 de novembro de 2023, que a Polícia Federal do Brasil prendeu duas pessoas em São Paulo, sob a acusação de planejar ataques a edifícios da comunidade judaica, incluindo sinagogas, em nome da milícia libanesa Hezbollah.
“Após os massacres na Argentina contra a AMIA e a embaixada de Israel, hoje se discute se foi o Hezbollah que os realizou, mas o que não se discute é que o Irã estava por trás desses ataques. Os recentes acontecimentos no Brasil são um sinal de alerta que não deve ser minimizado”, afirma Infobae.
A presença do Irã e do Hezbollah na América Latina cresce a cada dia. Estudar as ações do Irã e do Hezbollah na região é uma prioridade; “eles são uma clara ameaça à liberdade que passa despercebida, mas que deve se tornar visível para poder ser neutralizada. Estamos avisados, o caso do Brasil é apenas o começo”, observou Infobae.