Na Nicarágua, a Igreja Católica é uma das vozes mais críticas das ações do presidente Daniel Ortega, por denunciar represálias, assassinatos e violações aos direitos humanos no país.
Essas declarações da igreja causam um “grande descontentamento” a Ortega, que a considera um de seus inimigos por denunciar a verdade, disse à Diálogo Marcos Carmona, presidente da Comissão Permanente de Direitos Humanos na Nicarágua.
“No transcurso de 2019, o presidente da Nicarágua recrudesceu o assédio e a violência contra os templos católicos, que se colocaram ao lado do povo que expressou sua inconformidade nas ruas contra as ações autoritárias do regime sandinista”, acrescentou Carmona.

Os bispos nicaraguenses foram mediadores nas reuniões que mantinham o Estado e a sociedade civil para encontrar uma solução pacífica para a crise sociopolítica que a nação vem atravessando há dois anos. A mesa de diálogo foi suspensa na primavera de 2018, depois de um recrudescimento da repressão das forças de segurança contra a população e da criminalização das manifestações públicas.
Ortega acusou o clero católico de ser “golpista”, por apoiar os manifestantes feridos durante os protestos de 2018, disse a agência estatal nicaraguense El 19 Digital. A investida governamental contra a instituição religiosa inclui sacerdotes, freiras e devotos. Edwin Román, pároco da igreja de São Miguel, em Masaya, ressaltou à imprensa que a onda de violência pela qual a igreja vem passando supera os ataques que viveu na década de 1980, durante a guerra civil.
Ramón Alcides Peña, pároco da igreja do município de Jícaro, foi detido durante 12 horas no dia 7 de dezembro de 2019, acusado de prejudicar a ordem pública. O sacerdote explicou nas redes sociais que, como sempre, ele apenas celebrava uma missa.
Em novembro, seguidores do regime sandinista entraram na Catedral Metropolitana, em Manágua, e espancaram um sacerdote e uma freira. No mesmo mês, em Masaya, atacaram devotos da paróquia São João Batista e armaram um cerco policial no templo de São Miguel Arcanjo, para impedir as demonstrações de solidariedade para com o sacerdote Román e um grupo de mães que, durante nove dias, fizeram greve de fome para exigir a libertação de seus filhos, detidos por exigirem o fim do regime.
O próprio Ortega ameaçou seus opositores, alegando que “o povo se sentirá com todo o direito e a obrigação de pegar em armas para tomar o poder pela via revolucionária”, em novembro, perante a assembleia do Conselho Político de Alternativa Bolivariana para a América Latina e o Caribe (ALBA).
“Sinto que se trata de uma possibilidade real. Quanto mais as portas se fecham para a via pacífica, mais se abrem para a via armada”, disse Rafael Solís Cerda à emissora de rádio francesa RFI. Solís foi guerrilheiro junto com Ortega e magistrado da Corte Suprema da Nicarágua durante 19 anos, até sua demissão em fevereiro de 2019.