Na última década, pelo menos 1.733 pessoas foram mortas ao tentar proteger suas terras e o meio ambiente ao redor do mundo. Mais da metade dos ataques ocorreu em países latino-americanos, diz o relatório Uma década de resistência, da Global Witness, uma ONG com sede em Londres que documenta tais agressões desde 2012.
“O panorama é devastador”, disse à Diálogo em 11 de outubro Carolina Oviedo, pesquisadora do Centro de Alternativas para o Desenvolvimento, uma ONG colombiana que busca alternativas aos conflitos socioambientais. “Esse relatório nos permite reabrir as discussões sobre a violência contra os líderes socioambientais que está enraizada em um sistema de desenvolvimento profundamente extrativista.”
O relatório, divulgado em 29 de setembro, observou que 200 ambientalistas foram mortos no mundo inteiro em 2021, uma média de quase quatro pessoas por semana. Também documentou que 40 por cento de todos os ataques fatais visavam os povos indígenas, embora eles representem apenas 5 por cento da população mundial.
México e Colômbia
O México teve 54 casos de defensores assassinados, seguido da Colômbia com 33 mortos e do Brasil, com 26 casos. Na Nicarágua, grupos criminosos massacraram 15 indígenas defensores dos direitos à terra, em uma violência sistemática e generalizada contra os povos indígenas Miskitu e Mayangna.
O México se tornou um dos lugares mais perigosos para os ativistas. A violência é generalizada em áreas onde os cartéis de drogas e outros grupos criminosos lutam pelo controle do território. No norte do país, grupos criminosos exploram madeira, minas e pesca, segundo o The New York Times, em sua versão online.
Na Colômbia, o líder ambiental e de direitos animais Javier Usechi foi assassinado em 7 de agosto no norte do Valle del Cauca, uma das regiões mais violentas do país. Este caso eleva para 111 o número de líderes assassinados em 2022, de acordo com informações do site colombiano El Espectador.
Também no Valle del Cauca, Sandra Liliana Peña, governadora do território indígena La Laguna, havia se oposto abertamente ao crescimento de cultivos ilegais e havia sido alvo de ameaças. Em abril de 2021, quatro homens armados forçaram-na a sair de casa e mataram-na a tiros, ainda segundo o relatório.
“Nossos dados sobre assassinatos representam a ponta do iceberg”; isso porque o conflito, as restrições à liberdade de imprensa, a sociedade civil e a falta de monitoramento independente dos ataques aos defensores levam à subnotificação, diz a Global Witness.
Além dos assassinatos, muitos ativistas e comunidades estão sendo silenciados através de ameaças de morte, vigilância, violência sexual ou criminalização. Esses tipos de ataques são ainda menos relatados do que assassinatos, diz o relatório.
Embora “na Colômbia tivemos uma redução nos casos de mortes de líderes ambientais, [mortes de líderes] continuam sendo altas em comparação com outros países da região”, disse Oviedo. “A morte dos ambientalistas e a defesa do território vão continuar.”
Causas
De acordo com a Global Witness, a maioria dos ataques e ameaças aos ativistas está relacionada a conflitos fundiários, exploração de recursos, mineração, exploração madeireira e construção de infraestrutura. O crime organizado também é uma das principais ameaças contra os defensores.
As mortes de defensores representam não apenas a perda de vidas, mas também de culturas, línguas e conhecimentos tradicionais. As espécies estão desaparecendo a um ritmo cada vez mais acelerado. Além disso, “estamos em meio a uma emergência climática”, observa o relatório.
Chamado internacional
A Global Witness conclama os governos a criar um ambiente seguro para que os defensores dos direitos humanos e o espaço cívico possam prosperar, e a promover a responsabilidade legal das empresas e instituições financeiras com relação aos direitos humanos.
As empresas devem garantir a rastreabilidade dos produtos que estão recebendo (como carne, ouro, madeira, peixe etc.), para que “eles não venham manchados de sangue”, disse Oviedo. Além de criar “uma aliança público-privada para garantir que os processos de rastreabilidade sejam mais eficazes”.