A Conferência dos Diretores de Colégios de Defesa Ibero-Americanos (CDCDIA) é um fórum que surgiu como consequência da constatação de que há uma identidade cultural entre os países americanos de língua espanhola e portuguesa, e os europeus da Península Ibérica. Assim sendo, Portugal e Espanha são parte integrante da CDCDIA e enviaram representantes para a conferência deste ano, que foi realizada entre 29 de agosto e 2 de setembro na Escola Superior de Guerra do Brasil, no Rio de Janeiro. Diálogoconversou com a professora doutora Isabel Ferreira Nunes, diretora do Instituto de Defesa Nacional (IDN) de Portugal.
Diálogo: Qual a importância de reunir países europeus e latino-americanos em um evento como esta conferência?
Professora doutora Isabel Ferreira Nunes, diretora do IDN: Esta é a primeira vez que eu estou presente nesta conferência e foi uma experiência muito interessante. Esse contato com países que têm realidades muito distintas das nossas é extremamente enriquecedor. O que mais me chamou a atenção, neste caso, foi o impacto do contexto geográfico em que cada país se encontra. E não me refiro à sua localização no hemisfério sul, mas à posição específica de cada um destes países na medida em que a localização geográfica determina o seu interesse político e também as suas condicionantes econômicas e sociais. E essa foi, para mim, a característica mais interessante e inovadora, porque de fato é muito, muito diferente do contexto que temos na Europa, em particular no contexto da União Europeia.
Diálogo: O que Portugal trouxe de mais importante para esta conferência?
Prof. Nunes: Espero que o que Portugal tenha trazido de mais importante para esta conferência tenha sido justamente este contributo do que é decidir, planejar, reagir num contexto de soberania partilhada que é de fato um contexto distinto, e é aquele que nós temos no contexto europeu. Nós temos um contexto de soberania partilhada, de soberania que é sempre contextualizada, mas que nos permite reter sempre o interesse nacional, que é isso que, por vezes, regiões do globo que estão menos integradas do que a Europa têm alguma dificuldade em compreender, pressupondo que uma situação de soberania partilhada suporá uma menor liberdade. E não é assim. Temos maior liberdade porque temos mais opções de escolha.
Diálogo: Como a senhora avalia o uso das Forças Armadas em Portugal no combate à COVID–19? Houve uso excessivo?
Prof. Nunes: As Forças Armadas e as forças de segurança ganharam muita simpatia, solidariedade e também boa reputação em termos da sua capacidade para gerir aquela crise num espaço de tempo tão curto. Com relação a um possível uso excessivo, pelo contrário, as Forças Armadas e as forças de segurança eram um elemento de grande tranquilidade nas ruas, sobretudo de cidades grandes como Lisboa ou Porto. Havia uma relação de cooperação estreita entre a sociedade civil, as Forças Armadas e as forças de segurança, de compreensão das orientações que eram dadas. Aliás, o governo fez também um bom trabalho no sentido da forma como comunicou com a população de uma forma muito clara, muito objetiva, fundamentada cientificamente e amiúde, ou seja, muito frequentemente, ao longo do dia, nós íamos todos como cidadãos, recebendo informação detalhada sobre a evolução da situação. O elemento mais visível nas ruas naqueles dias em que estávamos todos confinados era o tremendo o apoio social que as Forças Armadas deram, por exemplo, aos sem abrigo, às pessoas carentes. E isso gerou a boa reputação a qual mencionei.