O Exército Brasileiro (EB) e os Legionários Franceses da Guiana Francesa realizaram uma ação inédita na fronteira entre os dois países: a Operação Tumucumaque. A atividade, que aconteceu no período de 11 a 13 de abril de 2019, foi coordenada, no lado brasileiro, pelo Comando de Fronteira Amapá e 34º Batalhão de Infantaria de Selva (CFAP/34º BIS), sediado no estado do Amapá, no norte do Brasil, e, do lado da Guiana, pelo Terceiro Regimento Estrangeiro de Infantaria (3º REI). O objetivo foi combater os delitos transfronteiriços e ambientais na região.
A operação foi o resultado de um entendimento firmado entre o Comando Militar do Norte do EB e o Comando das Forças Armadas da França na Guiana Francesa, para viabilizar o emprego das tropas na área de fronteira, de forma simultânea e coordenada. “Existe uma integração entre os comandantes subordinados destacados na fronteira e os comandantes de unidades, para que as operações deste tipo possam ocorrer”, contou o Coronel do EB Gelson de Souza, comandante do CFAP/34º BIS.
Aproximadamente 150 militares brasileiros e 150 franceses participaram da Tumucumaque. Foram realizados bloqueios e controles fluviais, controle de área, patrulhas fluviais e terrestres.
Os militares executaram 12 ações no período da operação e patrulharam mais de 180 quilômetros de rios. “As missões ocorreram simultaneamente dos dois lados. Quando a tropa do 3º REI realizava determinada incursão em território da Guiana, a tropa do CFAP/34º BIS efetuava o controle e bloqueios fluviais e vice-versa, o que proporcionou maior eficácia no resultado”, explicou o Cel Gelson.
O oficial avaliou como positiva a primeira edição da Tumucumaque e destacou que a atuação conjunta mantém ativos os laços entre as unidades que operam em ambiente transfronteiriço, além de proporcionar um intercâmbio operacional, por meio do compartilhamento de informações e técnicas. “Isso faz com que as unidades aperfeiçoem os planejamentos de emprego na região”, ressaltou.
Apesar de ter sido a primeira edição da Tumucumaque, as unidades já operam juntas no patrulhamento da fronteira e no combate aos ilícitos. “Pela proximidade, os problemas podem migrar rapidamente de um território para o outro na região”, revelou o Cel Gelson. “A integração com os Legionários Franceses é excepcional, desde o comandante da unidade francesa e seu Estado-Maior até nossos patrulheiros mais modernos que atuam juntos no rio Oiapoque.”
As atividades realizadas durante a Tumucumaque serviram também para o levantamento de informações importantes sobre os crimes mais comuns, principalmente exploração mineral ilegal. “O material recolhido vai ser comparado com os dados da análise de imagens e dos relatórios de inteligência e servirão de base para ações pontuais, desencadeadas nas operações de maior envergadura, como as etapas da Ágata”, exemplificou o 1º Tenente do EB Leonardo Quintanilha Rodrigues, comandante do 1º Pelotão de Fuzileiros de Selva da Companhia Especial de Fronteira de Clevelândia do Norte.
“Em uma das missões fizemos um deslocamento fluvial pelo rio Marupi, um dos afluentes em território brasileiro do rio Oiapoque, divisa entre os dois países. Na patrulha, que durou um dia inteiro, foram levantadas diversas posições com indícios de exploração mineral – trilhas e varadouros na selva”, contou o 1º Ten Quintanilha. “As patrulhas fluviais de reconhecimento são sempre eficazes devido à grande expertise da nossa tropa em atuar em ambiente de selva e fazer o rastreamento de indícios de atividade humana no ambiente.”
O 1º Ten Quintanilha revelou que o grande desafio durante a Tumucumaque foi superar as dificuldades logísticas inerentes à atuação na região da fronteira amazônica. “A grande quantidade de água, ração e combustível necessários nestas operações torna muito penosos os deslocamentos mais distantes”, enfatizou. “A operação Tumucumaque necessitou de um judicioso estudo logístico para que tudo ocorresse dentro do previsto”, complementou o Cel Gelson.
No último dia de operação, os militares do EB realizaram uma ação cívico-social (ACISO), em parceria com a Secretaria de Saúde do município de Oiapoque, na localidade de Vila Brasil, para o atendimento médico e odontológico da comunidade local, além de testes de HIV e Malária. “A ACISO é muito importante para as pessoas que habitam estes locais tão distantes. O Exército Brasileiro, por vezes, é a única instituição em condições de prestar esse apoio”, finalizou o Cel Gelson.