Entrevista da revista Diálogo, do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), com o Tenente Brigadeiro do Ar Rodolfo Daniel Pereyra Martínez, chefe do Estado-Maior da Defesa (ESMADE) do Uruguai.
Diálogo: Qual é a importância da inauguração da base naval ocidental localizada às margens do rio Uruguai, próxima à ponte General San Martín, para combater o contrabando, a pesca ilegal e o narcotráfico?
Tenente Brigadeiro do Ar Rodolfo Pereyra, chefe do Estado-Maior da Defesa do Uruguai: É de grande importância para nossa Marinha Nacional e para nosso país como um todo. A Marinha Nacional tinha duas bases, a do porto de Montevidéu e a base naval em La Paloma, no departamento de Rocha, e ainda não tínhamos alcançado a capacidade de ter navios atracados para dar apoio no rio Uruguai, uma área na qual agora estamos fortalecendo nossa presença na fronteira com a Argentina, já que antes nossos navios geralmente tinham que se deslocar de Montevidéu e fazer seu desembarque logístico para chegar ao rio Uruguai, o que envolvia tempo e desgaste logístico. Hoje, com essa base em Fray Bentos, todo esse movimento nos é facilitado e nos permite ter presença e resposta em menos tempo e cumprir nossa função de proteger a soberania.
Diálogo: A Marinha Nacional e o Exército apoiam o trabalho da Direção Nacional de Alfândegas nas passagens de fronteira com a Argentina, tendo uma presença maior nas pontes internacionais. Por que esse trabalho conjunto é importante?
Ten Brig Ar Pereyra: É importante porque, com a Lei nº 19677 de 2018, regulamentada em 2020 por meio do Decreto nº 92, as Forças Armadas foram encarregadas de realizar atividades na fronteira, em apoio às agências que têm competência nessa área sem afetar as áreas povoadas, para realizar patrulhas e postos de controle. Justamente as passagens de fronteira, como, neste caso, a ponte Libertador General San Martín, a ponte General Artigas e a ponte internacional Ferrovial Salto Grande, estão todas fora da área povoada e essa estrutura regulatória nos permite prestar apoio em postos localizados exatamente nas pontes. Essas atividades nos permitem impedir a entrada de mercadorias e substâncias ilegais.
Diálogo: Quais foram os avanços realizados no processo de modernização das Forças Armadas?
Ten Brig Ar Pereyra: Estamos em um processo no qual o Estado e nossas autoridades detectaram que não tínhamos proteção nos mares sob a soberania nacional e não tínhamos embarcações que nos permitissem exercer esse controle, particularmente em termos de pesca irregular, que hoje ocorre em diferentes partes do mundo. Sobre essa questão, nossas autoridades fizeram todos os esforços, especialmente o Ministério da Defesa Nacional, para adquirir navios de patrulha oceânica OPV. E, no momento, estamos no processo de comprá-los, por meio de um estaleiro espanhol que vai construí-los. Esperamos que em 2025 eles estejam prontos para navegar e, dessa forma, estaremos exercendo nossa autoridade sobre nossas águas jurisdicionais.
Diálogo: Qual é a vantagem para as Forças Armadas do recente acordo entre Uruguai e Brasil sobre a dupla nacionalidade do aeroporto de Rivera, que está fisicamente localizado no Uruguai?
Ten Brig Ar Pereyra: Essa questão está relacionada à conectividade com nosso país vizinho, o Brasil. Não está diretamente relacionada à defesa, mas sim à conectividade aérea, ampliando os horizontes de duas cidades irmãs: Rivera, no Uruguai, e Santana do Livramento, no Brasil.
Diálogo: Que progressos foram feitos com a criação do Comando de Operações Conjuntas?
Ten Brig Ar Pereyra: O Comando de Operações Conjuntas foi criado de acordo com a Lei Marco de Defesa Nacional de 2010, que previa a presença de um chefe de operações encarregado das operações conjuntas, que se reportaria ao chefe do Estado-Maior da Defesa. A questão em si era que não havia uma estrutura onde esse comandante fosse exercer o comando e, portanto, o Comando de Operações Conjuntas foi criado. Hoje temos que dar forma a ele e, é claro, temos que dar-lhe ferramentas. Isso é o que estamos fazendo agora; enquanto a designação do chefe de operações está sendo estudada, estamos trabalhando em um processo de aquisição de todos os insumos necessários para executar o comando e a liderança conjunta. Também começaremos a desenvolver os níveis subordinados para fins da coordenação das operações.
Diálogo: Como a doação do Helicóptero Bell 212 dos EUA ajuda a segurança nacional?
Ten Brig Ar Pereyra: É uma grande ajuda, porque nosso equipamento de helicópteros, os Bell 212, representa nossa espinha dorsal. E esse é exatamente o helicóptero que estamos usando na missão de manutenção da paz no Congo. O desgaste contínuo do equipamento nos deixou, em determinado momento, sem helicópteros em nosso país para preparar os pilotos para que fossem para a missão de paz. Hoje, com essa doação, que não é a primeira, mas já é o segundo helicóptero que estamos recebendo, permitiu-nos realizar o treinamento em nossa unidade e preparar nosso pessoal para a missão.
Diálogo: Como as Forças Armadas do Uruguai e a Guarda Nacional de Connecticut estão se coordenando, como parte do programa de Parceria Estatal?
Ten Brig Ar Pereyra: Esse programa já existe há anos com muitos benefícios, principalmente em relação ao que a Guarda Nacional desenvolve em todas as suas atividades, além do fato de ter um relacionamento com o componente militar, mas que são facilmente transferidos e que nos ajudam a colocá-los em prática, tanto em missões de paz, como também em nosso país, porque são operações que são treinadas em resposta às necessidades que a sociedade pode exigir a qualquer momento, em caso de emergência, incêndios, inundações, ou talvez no caso de um resgate de saúde que ocorra em lugares de difícil acesso. No entanto, isso nos permite ter não apenas ferramentas, mas também uma equipe preparada para lidar com todas as situações.
Diálogo: Qual é o objetivo da realização de operações combinadas dos exércitos do Uruguai e do Brasil de forma simultânea, cada um em seu lado da fronteira?
Ten Brig Ar Pereyra: Combinada significa estar sob um único comando; nesse caso, é uma atividade conjunta. É uma operação espelho. Ela se baseia em uma operação de transferência de informações. Cada força opera em seu próprio território, de acordo com as regras de cada uma delas, sem afetar a soberania de uma ou de outra. Mas, é um trabalho coordenado e foram realizados exercícios em que simulamos que certas ameaças, certos crimes que estão sendo cometidos de um lado vão ou pretendem passar para o outro território e é isso que é relatado; é tomar medidas preventivas, antecipando-se ao que possa acontecer, a fim de colaborar com a outra força.