Em meio à crescente violência, homicídios, ameaças do narcotráfico e do crime organizado, o Equador enfrenta o aparecimento de um possível movimento guerrilheiro, que contaria com o apoio dedissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que é um fato preocupante para a região.
Continuam as investigações da Polícia Nacional e da Procuradoria Geral do Estadosobre o grupo denominado Movimento Guevarista Terra e Liberdade (Movimiento Guevarista Tierra y Libertad – MGTL). O grupo protagonizou atos violentos desde 2019, participando dos protestos sociais dos últimos três anos.
Em 19 de maio, as autoridades prenderam oito membros do grupo em uma operação simultânea nas províncias de Imbabura, Pichincha e El Oro, por supostos delitos de crime organizado, tráfico de pessoas e recrutamento para células de guerrilha, informou a Procuradoria Geral através de sua conta no Twitter. Durante a operação, as autoridades também apreenderam material bélico e documentos doutrinários alusivos às extintas FARC, informou a revista colombiana Semana.
Segundo as investigações, o grupo liderado por Ernesto Flores recrutava jovens nas províncias de Cotopaxi, Chimborazo, Los Ríos, Manabí e El Oro desde setembro de 2020. Usando a fachada de treinamento “Fé e Política”, eles lhes ofereciam cursos de ideologia leninista, marxista e guevarista, entre outros, bem como bolsas de estudo em uma universidade na Argentina, noticiou o jornal equatoriano Primicias. Na realidade, os jovens foram transferidos para a Colômbia, tendo como destino final a Venezuela, para serem treinados e doutrinados nos acampamentos do grupo narcoterrorista Segunda Marquetalia, umadissidência das FARC, com a intenção de reforçar militarmente o MGTL e criar uma força guerrilheira latino-americana.
O treinamento supostamente realizado no estado de Apure, Venezuela, consistia em instrução no manuseio de armas de fogo, fabricação de explosivos e seleção de alvos de alto valor para realizar sequestros, informou Primicias. As polícias do Equadore da Colômbia determinaram que pelo menos 18 equatorianos foram transferidos para esse treinamento paramilitar com a Segunda Marquetalia.
Semana relatou a história de uma jovem equatoriana que conseguiu escapar do acampamento de treinamento onde ela estava. Em seu testemunho, a jovem, enganada com a promessa de estudos na Argentina, disse às autoridades colombianas que ela e seu parceiro se cansaram das mentiras com as quais foram recrutados, da vida de guerra e do medo de morrer, e decidiram fugir para se entregarem às autoridades colombianas e se tornarem testemunhas em busca de proteção.
“Tomamos a decisão de escapar desse comando […]. Em 14 de abril [de 2021],deixamos a montanha de Cabuyarito, onde estávamos acampados. Ao meio-dia,pedimos permissão a Efraín, que era o comandante, para ir nadar nas margens dorio; lá abandonamos a pistola e o rifle e fomos embora”, disse a jovem, segundo Semana.
“A luta guerrilheira”
A partir de suas redes sociais, os guevaristas se promovem como um grupo revolucionário com um projeto político que visa gerar um processo de “insurreição” das “massasproletárias”, através da “luta guerrilheira” no campo e na cidade.
Nas informações divulgadas pelas autoridades, disseram que o MGTL fez contato com outro grupo dissidente das FARC, os Comandos da Fronteira (CDF), anteriormente conhecidos como a Máfia. “É uma organização guerrilheira [os CDF] que também trabalha com uma protomáfia brasileira, o Comando Vermelho, e esta protomáfia vem entrando no cenário nacional há algum tempo e começou a mudar a dinâmica de violência e insegurança na província de Sucumbíos [Equador]”, disse o Coronel Mario Pazmiño, especialista em questões de segurança e defesa e ex-diretor de inteligência do Exército Equatoriano.
Para o diretor do Centro de Inteligência Estratégica (CIES) do Equador, Fausto Cobo, não é coincidência que o MGTL apareça sempre em manifestações sociais. Ele disse em uma entrevista para a rede de televisão equatoriana Teleamazonas que “esse é um modelo insurrecional, esse grupo e outros extremistas estão se preparando;alguns estão em treinamento e outros já estão avançados em tudo o que é treinamento armado”. Ele acrescentou que esses grupos são financiados com dinheiro do narcotráfico.