A III Conferência Ministerial Hemisférica de Combate ao Terrorismo mostrou que os países da região devem trabalhar em conjunto para eliminar as células terroristas, especialmente do movimento libanês Hezbollah e da guerrilha colombiana Exército de Libertação Nacional.
Os países que assinaram o documento, entre eles Argentina, Colômbia e Estados Unidos, deixaram evidente sua “preocupação com as atividades que as redes [das organizações terroristas] continuam realizando em algumas áreas do hemisfério ocidental”.
Falando sobre as consequências do Hezbollah na América Latina, Diego Mella, especialista em terrorismo e inteligência militar, disse à Voz da América que a presença desses grupos “não é novidade” nessa região. Ele alertou ainda quanto ao “triângulo” formado nas fronteiras da Venezuela, Colômbia e Brasil, onde “só impera a lei da violência”.
Mella, que exerceu a função de capitão no corpo de polícia do condado de Miami-Dade, Flórida, e agora é analista militar, acredita que uma coalizão entre o Brasil, a Colômbia e os Estados Unidos seria a melhor opção para eliminar “as guerrilhas e os narcotraficantes”.
Essa é a mesma opinião de Luis Fleishman, professor de Sociologia da Universidade Estadual de Palm Beach, mas adverte que essa coalizão deveria ser “defensiva ou preventiva”.
Fleishman defende “uma coalizão importante para prevenir a expansão desses grupos” que, segundo os relatórios, estão presentes em vários países da América Latina.
Preocupação com o Hezbollah na Venezuela
Fleishman, que fundou o Centro para a Democracia e a Investigação Política no Condado de Palm Beach, lembra que o relatório assinado na conferência de 20 de janeiro de 2020, em Bogotá, Colômbia, destaca o “bastião dos grupos terroristas” que já estão há muito tempo na Venezuela.
Por isso, ele ressalta que é indispensável que seja feito um acompanhamento exaustivo e que se criem ações conjuntas para que haja uma mudança na região.
Um problema desde os anos noventa
O Hezbollah está presente na América Latina desde os anos 1990. As milícias financiadas e treinadas através da Guarda Revolucionária iraniana começaram a se estabelecer através da denominada “Tríplice Fronteira” entre Argentina, Brasil e Paraguai.
Seu desenvolvimento na região teve uma segunda fase alguns anos mais tarde, quando o então presidente venezuelano Hugo Chávez assumiu o poder.
Joseph Hage, analista político especializado em temas do Oriente Médio e Terrorismo, explicou à VOA que o pai de Tareck El Aissami, atual vice-presidente setorial de Economia e ministro do Poder Popular para Indústrias e Produção Nacional da Venezuela, “abriu uma linha de comunicação entre Hugo Chávez e o presidente da Síria, Bashar al Asad”, o que lhe permitiu manter contato com o Irã e com o Hezbollah, no Líbano.
“O Hezbollah aproveitou a presença de libaneses xiitas e contou com a ajuda da Venezuela, para a expedição de documentos, vistos de residência e passaportes, para que seus membros pudessem transitar pela América Latina”, comentou.
O modus operandi do Hezbollah na América Latina costuma seguir os mesmos padrões de conduta: “estabelece vínculos comerciais na América Latina e ali ocorrem o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro, o fornecimento de armas… – qualquer tipo de negócio ilícito”.
Fleishman está convencido de que uma “mudança de regime na Venezuela seja crucial para desestimular a presença desses grupos” no país.