A devastação da selva tropical da Venezuela avança devido à mineração ilegal. Cerca de 2.821 quilômetros quadrados de bosques foram destruídos por grupos criminosos venezuelanos, coletivos paramilitares e guerrilhas colombianas, sob a proteção do regime de Nicolás Maduro, garante o relatório Mineração ilegal na Venezuela: morte e devastação nas regiões do Amazonas e Orinoco, publicado pela ONG Centro de Estudos Estratégicos Internacionais (CSIS, em inglês) e apresentado em um fórum virtual no dia 26 de junho.
O relatório registra os danos causados ao meio-ambiente, aos direitos humanos, à saúde, à ordem pública e à estabilidade da região. As organizações criminosas venezuelanas disputam o controle do território de mineração com os guerrilheiros colombianos Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-D), ambos amparados pelo regime de Maduro, diz o documento.

“Muitas das estruturas ilegais na Colômbia encontraram na ditadura de Nicolás Maduro espaço para fortalecer seus negócios criminosos, o que nos afeta gravemente”, afirmou o ministro da Defesa da Colômbia Carlos Holmes Trujillo, durante o fórum virtual. “Face à crise econômica e, principalmente, com a perda da renda do petróleo, o [regime de] Maduro precisou lançar mão do ouro para financiar as operações internacionais.”
Esse fato foi ratificado no dia 24 de junho, no documento Relatórios nacionais sobre terrorismo 2019: Venezuela, do Departamento de Estado dos EUA, que declarou: “Os laços financeiros com as FARC-D, o ELN e os grupos paramilitares venezuelanos facilitam a corrupção pública e os esquemas de corrupção do regime para incluir os membros das forças armadas.”
O Departamento de Estado indica também a presença do ELN em 12 dos 24 estados da Venezuela e alerta sobre a “cooperação esporádica entre as FARC-D e o ELN nas áreas de controle de estradas, fronteiras, distribuição subsidiada de alimentos, recrutamento e deslocamento forçado de comunidades indígenas vulneráveis e tráfico de narcóticos e ouro ilegais”.
O relatório do CSIS confirma que o ELN expandiu seu controle no Arco Mineiro (território no sul da Venezuela dedicado à mineração) desde 2019, onde controla vários corredores importantes de transporte e administra cadeias de fornecimento de equipamentos na região.
Além do desmatamento causado pelo processo de mineração ilegal, “o uso indiscriminado de substâncias como cianureto ou mercúrio contamina de maneira mortal as fontes de água de nossos trabalhadores rurais”, acrescentou Holmes.
O CSIS detectou níveis elevados de mercúrio em peixes de água doce da região, que são exportados para consumo no Brasil, na Guiana e em Trinidad e Tobago. Além disso, determinou que aproximadamente 500.000 trabalhadores estão envolvidos em operações de mineração ilegal, muitos deles das comunidades indígenas, que são forçados a trabalhar. “Esses trabalhadores são em sua maioria venezuelanos empobrecidos, e calcula-se que 45 por cento sejam menores de idade”, diz o relatório.