O regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo lançou outro programa duvidoso de habitações de interesse social com financiamento da estatal Agência de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento da China. O regime, sem maiores detalhes e em meio a dúvidas, garantiu que investirá US$ 60 milhões na construção de 12.034 casas em 15 departamentos do país.
“A economia da Nicarágua é a mais atrasada da região e não possui recursos naturais significativos. Não tem poder de compra nem capacidade de exportação”, explicou à Diálogo Enrique Sáenz, economista nicaraguense e apresentador do programa jornalístico Vamos al Punto, em 20 de maio.
A cerimônia de inauguração foi realizada no terreno da urbanização Nuevas Victorias, no município de Manágua, onde afirmam que oferecerão 920 moradias na primeira etapa, informou a mídia oficialista El 19 Digital, em 16 de abril.
Para desenvolver Nuevas Victorias, a Procuradoria Geral da República desapropriou 637.298 metros quadrados de oito propriedades privadas, todas localizadas em Sabana Grande Sur, no município de Manágua, segundo o jornal oficial da Nicarágua, La Gaceta.
A China também promete construir usinas térmicas, além de outros projetos nas áreas de educação, crescimento econômico, cultura, saúde, infraestrutura e saneamento, informa a revista colombiana Semana.
“A China na Nicarágua até agora não tomou nenhuma medida diferente das que já tomou nos países da região com os quais estabeleceu relações diplomáticas”, acrescentou Sáenz. “Com El Salvador, há mais anúncios do que realidades e o déficit comercial se multiplicou. Com a Costa Rica, o tratado de livre comércio tem mais de dez anos e a balança comercial também é deficitária. Além disso, não há grandes investimentos de benefício público.”
Várias perguntas
“Honestamente, tenho sérias dúvidas de que [Nuevas Victorias] seja realmente financiada pela China, por causa da manipulação enganosa”, disse à Diálogo Elvira Cuadra, investigadora associada do Centro de Pesquisa em Comunicação e do Instituto de Estudos Estratégicos e Políticas Públicas da Nicarágua, em 20 de maio. “O que realmente está aprovado e em andamento são dois empréstimos com o Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) no valor de US$ 77 milhões e US$ 20 milhões, respectivamente, para esse fim.”
Cuadra está se referindo a um crédito de US$ 77 milhões, o segundo desembolso de um fundo fiduciário aprovado pelo BCIE e usado para oferecer empréstimos hipotecários com condições supostamente favoráveis, disse a mídia oficialista TVN8.
“Os empréstimos são para financiar novas distribuições. Em essência, são recursos usados de forma clientelista, ou seja, para manter a lealdade de funcionários públicos e outros colaboradores do regime”, acrescentou Cuadra. “São definidas como moradias de uso social, mas nem sempre são acessíveis porque exigem certas condições econômicas que são limitadas para certas pessoas.”
A Prefeitura de Manágua está fazendo um apelo nas redes sociais para que os cidadãos se tornem beneficiários de um programa habitacional chamado Bismark Martínez; no entanto, as reações dos usuários no Facebook são uma prova do descontentamento e das informações escassas que recebem. Alguns apontam que o plano beneficia principalmente as famílias de paramilitares ou membros dos grupos de choque do regime.
“Eles são ladrões. Você tem que pagar pela casa em 20 anos e em dólares; supostamente você não precisa pagar nada em dólares aqui. Não se pode pagar adiantado, porque isso os afeta, pois o dólar sobe de valor. Se você pagar com atraso, eles lhe cobram quatro dólares de juros por dia”, reclamou Cinthya Prado no site oficial da Prefeitura. “Se você pedir [seu dinheiro] de volta, eles o obrigam a preencher uma série de papéis. Além disso, eles devolvem o dinheiro depois de dois ou três meses e só lhe dão 50 por cento do seu dinheiro, mesmo que não tenha sido construído nada no seu terreno. Eles são um bando de ladrões.”
O regime de Ortega-Murillo lançou o programa de habitação de interesse social Bismarck Martínez após os atos de repressão contra os protestos de cidadãos em 2018. Em 10 de maio de 2023, o jornal nicaraguense Confidencial informou que o programa está enfrentando problemas financeiros, devido à decisão do regime de romper relações diplomáticas com Taiwan em dezembro de 2021, para se aliar à China.
Por outro lado, 60 por cento das exportações de países como a Nicarágua vão para os Estados Unidos, que continuam sendo seu principal parceiro comercial, informou a Embaixada dos EUA em Manágua, em 12 de maio. A China e a Rússia estão em penúltimo e último lugar como parceiros, respectivamente, o que pode ser um indicador de que as novas alianças do regime não geraram frutos suficientes, concluiu a mídia nicaraguense Divergentes.