A campanha Escudo integra os esforços das agências de segurança do Panamá, para combater as organizações criminosas transnacionais que cometem uma infinidade de crimes contra a população migrante ilegal, que cruza a perigosa fronteira entre a Colômbia e o Panamá.
O Comissário Danis Villarreal, atual subdiretor geral do Serviço Nacional de Fronteiras (SENAFRONT) do Panamá, que na época da entrevista à Diálogo era o diretor de operações, responsável pela campanha Escudo, falou sobre a importância dessa campanha e seu progresso.
Diálogo: Em 2 de junho, o Panamá lançou a campanha Escudo. Em que consiste? Comissário Danis Villarreal, subdiretor geral do Serviço Nacional de Fronteiras do Panamá: A campanha Escudo é coordenada pelo governo nacional por meio do Ministério da Segurança Pública (MINSEG), em colaboração com agências de segurança do Estado, cujos objetivos são neutralizar as atividades do crime organizado transnacional na fronteira entre a Colômbia e o Panamá na selva de Darién, coordenar a admissão e o retorno de pessoas migrantes, desenvolver atividades de ação abrangente nas comunidades que recebem migrantes e populações na rota migratória e implementar estratégias para proteger a biodiversidade do parque nacional de Darién, declarado patrimônio da humanidade no início da década de 1980.
A campanha Escudo conta com 1.200 unidades do SENAFRONT, do Serviço Nacional Aeronaval (SENAN) e do Serviço Nacional de Migração (SNM), com o apoio de capacidades aéreas, marítimas e tecnológicas.
Diálogo: Como essa campanha está sendo realizada, uma vez que, segundo as autoridades, gangues de traficantes de migrantes, armas e drogas controladas, entre outros crimes, operam dentro do cordão fronteiriço entre o Panamá e a Colômbia?
Comissário Villarreal: A campanha foi criada para abordar a problemática do fenômeno migratório, que é usada por organizações criminosas para cometer diferentes crimes, como é o caso na Colômbia do Clã do Golfo, que controla a área de fronteira do país vizinho.
A campanha foi projetada para ser realizada em várias operações, como a Operação Chocó, mas elas dependerão da forma como o fluxo migratório é apresentado, já que o crime organizado o utiliza em benefício próprio. Por esse motivo, a campanha identificou cinco setores da área de fronteira onde estão sendo realizados trabalhos de segurança, reconhecimento e inteligência, com o objetivo de manter o controle territorial em pontos críticos onde as organizações criminosas se movimentam, cometendo atos criminosos contra a população migrante e o meio ambiente.
Diálogo: Em que consiste a Operação Chocó?
Comissário Villarreal: É a primeira operação da campanha Escudo e seu objetivo é o controle territorial e a integração comunitária, onde as operações são realizadas através da interoperabilidade entre o SENAN, o SENAFRONT e o SNM para combater as atividades criminosas do crime organizado transnacional e seus crimes relacionados. Lembremos que na Colômbia existem diferentes organizações criminosas, como o Clã do Golfo, que infelizmente controlam a área de fronteira do país vizinho e usam os migrantes.
A operação busca neutralizar as atividades ilegais em setores da fronteira com a Colômbia, por meio de diferentes linhas de força, como a luta contra o crime internacional, a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais e o tráfico ilegal de migrantes, que ocorrem em uma extensão territorial de selva de aproximadamente 266 quilômetros quadrados, com inúmeras rotas ilegais usadas por criminosos para cometer crimes de alto impacto e delitos relacionados.
Diálogo: Qual foi o progresso da campanha?
Comissário Villarreal: Nossos resultados positivos estão neutralizando as ações delitivas do crime organizado transnacional, e as operações de reconhecimento e localização de passagens migratórias marítimas e terrestres ilegais nos permitem minimizar a mobilidade humana nessa região, para evitar o tráfico ilegal de migrantes e proteger a biodiversidade e os recursos naturais do Parque Nacional Darién. Por exemplo, entre 1º de abril e 17 de julho [de 2023], fizemos 433 apreensões, entre as quais 23 se dedicavam ao tráfico de pessoas, 26 ao narcotráfico, 66 ao micro tráfico, 8 ao contrabando e 18 alertas biométricos, entre outros crimes.
Diálogo: Como o senhor lida com o conceito de interoperabilidade?
Comissário Villarreal: Por meio da integração de capacidades, da comunicação eficaz e do intercâmbio de informações precisas e oportunas entre as agências de segurança envolvidas.
Diálogo: A campanha Escudo é criada pelo governo do Panamá. Que tipo de apoio internacional vocês recebem?
Comissário Villarreal: É um esforço liderado pelo MINSEG, que é complementado através do assessoramento, treinamento e tecnologias fornecidas em matéria de segurança pelo governo dos EUA.
Diálogo: Qual é o maior desafio dessa campanha para combater as organizações criminosas?
Comissário Villarreal: O maior desafio é a complexidade do terreno, que se caracteriza por uma fronteira de selva com muitas passagens ilegais, onde há uma convergência criminosa realizada por organizações criminosas. Em vista disso, estamos trabalhando na configuração do terreno para combater as atividades criminosas e apoiar a população migrante que entra no Panamá e que é vítima de diversos crimes.
Uma das linhas de esforço da campanha é integrar cerca de 50 comunidades do Darién, que foram diretamente afetadas pela migração ilegal, e por isso temos que proporcionar-lhes segurança, atividades de apoio comunitário, como água potável, saneamento ambiental etc., bem como gerar alternativas de sustentabilidade, como agricultura e pesca, para que possam se tornar produtivas.
Diálogo: Que progressos foram feitos com relação ao problema ambiental do Parque Nacional Darién (PND)?
Comissário Villarreal: Estamos trabalhando com outras instituições para ensinar as comunidades a fazer parte da limpeza ambiental do PND, já que ele é considerado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura como local do Patrimônio Mundial e Reserva da Biosfera. Não sabemos o dano ambiental exato causado pela passagem dos migrantes pela selva, mas educamos as comunidades, por exemplo, a reciclar, plantar árvores e recolher o lixo para que os rios não continuem sendo poluídos. Lembremos que pelo menos em Bajo Chiquito, o primeiro vilarejo com cerca de 400 habitantes que os migrantes encontram ao atravessar a fronteira da Colômbia para o Panamá, recebe em média até 2.000 migrantes que produzem lixo, por isso é importante que nessas áreas tenhamos sacos e tanques para coletar a quantidade de lixo que eles geram.