Três projetos brasileiros de tecnologia de defesa de ponta chamaram a atenção das Forças Armadas dos Estados Unidos e estão concorrendo a um financiamento sob o acordo referente a projetos de Pesquisa, Desenvolvimento, Teste e Avaliação (RDT&E) entre as duas nações. Os projetos, que envolvem tecnologias como mapeamento mental, bioimpressão e inteligência artificial, estão sendo desenvolvidos pelo Centro de Defesa e Segurança (CDS) do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (CIMATEC), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
O SENAI, localizado em Salvador, estado da Bahia, é uma rede de escolas profissionais que oferece educação técnica com o objetivo de promover a inovação industrial. Se os projetos forem aprovados, será a primeira vez que o SENAI CIMATEC terá o suporte financeiro das Forças Armadas dos EUA.
Mapeamento cerebral
Um dos projetos é o de uso de eletroencefalograma para identificação de padrões de decisão militar. A proposta é usar o equipamento para mapear o funcionamento cerebral de militares que têm perfil de liderança e capacidade avançada de tomada de decisão, a fim de identificar o que se destaca. “Essa é a primeira parte do projeto. A segunda será estudar possibilidades de transferir essa experiência, de alguma forma, para o cérebro de militares em processo de formação”, afirmou à Diálogo Milton Deiró Neto, consultor sênior do CDS.
Além de Defesa e Segurança, o SENAI CIMATEC possui outras 42 áreas de competência, desde alimentos até engenharia biomédica. Cerca de 900 funcionários trabalham nessas áreas, entre técnicos, professores e pesquisadores. O projeto do uso do encefalograma tem, no momento, a participação de psicólogos, médicos e engenheiros.
Bioimpressão
O segundo projeto que chamou a atenção das Forças Armadas dos EUA foi o de bioimpressão de tecidos cartilaginosos. “O foco é dual, com aplicação na área civil, como no caso de um atleta que precise repor um determinado pedaço do corpo, quanto militar, se pensarmos, por exemplo, em um ferido de combate que precise recompor alguma parte cartilaginosa do corpo”, detalhou o consultor Deiró.
A bioimpressão é uma técnica já existente que se inspira na impressão 3D e usa como matéria-prima biomateriais, como uma composição com células e gel à base de água, por exemplo. Dessa forma, a bioimpressora consegue criar estruturas como órgãos e tecidos. No caso do projeto do CIMATEC, o tecido que se busca imprimir é o cartilaginoso. “Quem teve a ideia e está desenvolvendo a pesquisa inicial é uma professora de biomateriais do CIMATEC, em parceria com a Universidade da Califórnia em San Diego [UCSD], que possui uma bioimpressora”, disse Deiró.
Segundo Deiró, a intenção é que os pesquisadores do CIMATEC desenvolvam o biomaterial no Brasil para posterior realização de testes de impressão na UCSD. “Buscamos sempre fazer nossas pesquisas em parceria com instituições sediadas nos EUA, que sempre foram grandes parceiros do Brasil”, acrescentou o especialista.
Inteligência artificial
A terceira ideia que está sendo trabalhada pelo CIMATEC é a do uso de inteligência artificial para aumentar a confiabilidade da soldagem em estruturas nucleares. Deiró explica que, apesar das estruturas nucleares já terem alto padrão de segurança, a proposta do CIMATEC é aperfeiçoar os procedimentos de soldagem, e de posterior manutenção das estruturas soldadas, por meio da inteligência artificial, “como tem ocorrido em outras áreas, que vêm apresentando uma taxa de erro menor que o processamento por seres humanos”, explicou o consultor.
Reforço na parceria
O intercâmbio entre instituições brasileiras e norte-americanas na área militar ganhou reforço com a aprovação pelo Senado brasileiro, em abril de 2022, do acordo RDT&E, assinado em 2020 durante a visita do presidente Jair Bolsonaro ao Comando Sul dos EUA, em Miami, Flórida. O acordo RDT&E permite uma colaboração mais estreita na tecnologia de defesa, ao mesmo tempo em que atesta a confiança mútua que está na base das relações entre ambas as nações.