O enviado especial dos Estados Unidos para a Venezuela, Elliott Abrams, disse no dia 8 de abril que a proposta de uma negociação com o regime para sair da crise no país é “realista”.
“Todas as ditaduras na América Latina, com raríssimas exceções, terminam com uma negociação”, disse Abrams em uma teleconferência, onde defendeu o plano proposto pelo Departamento de Estado para estabelecer um governo de transição na Venezuela, que inclua o partido oficial (Partido Socialista Unido da Venezuela – PSUV) e as Forças Armadas da Venezuela.
A proposta busca a criação de um Conselho de Estado eleito pela Assembleia Nacional, com a participação dos partidos do governo e opositores, para convocar futuras eleições, das quais, teoricamente, Nicolás Maduro poderia participar.
“Não nos pareceu correto que estrangeiros apresentem uma lista de venezuelanos que possam concorrer à presidência”, disse Abrams sobre a possibilidade de Maduro ser candidato.
“Maduro é a figura mais tóxica da Venezuela […] e, se for candidato a uma eleição, será derrotado”, disse o diplomata na teleconferência organizada pelo Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.
O regime repudiou a proposta dos EUA a poucas horas de seu anúncio, considerando-a “intervencionista”.
Para Abrams, esse cenário era de se esperar e enfatizou que a mensagem era dirigida sobretudo às pessoas próximas do líder chavista, as quais, afirmou, já estão entrando em contato com os Estados Unidos.
“Há algumas pessoas dentro e em torno do regime que já estão se comunicando com o governo dos Estados Unidos”, disse Abrams.
“Talvez essas pessoas dentro do regime estejam reconhecendo o que não reconheciam no verão passado: que a situação é muito difícil, que devem buscar uma saída e uma negociação”, acrescentou o encarregado da política para a Venezuela.
Opção militar e negociação
Embora tenha dito que a intervenção militar seria uma opção “se o presidente quiser usá-la”, o diplomata defendeu a possibilidade de uma negociação.
“Se o senhor quiser propor uma invasão norte-americana, proponha-a, mas se isso não for acontecer, então como terminará tudo isso [a situação na Venezuela]? […] Através de uma negociação”, disse Abrams.
“Não se escolhe com quem se negocia, [mas] se termina negociando com as pessoas que estão ali; sejamos realistas”, disse o diplomata, ao ser questionado sobre por que devem negociar com funcionários do regime, muitos dos quais foram sancionados, ou com Maduro e Diosdado Cabello, que foram acusados criminalmente por narcotráfico nos EUA.
“Poderíamos dizer que tudo termina assim: a oposição assume o controle e todos aqueles que estão relacionados com o partido chavista e o Exército vão para a prisão. Essa é uma proposta realista? Não é”, afirmou Abrams.