O General de Brigada Paul Tedman, do Exército do Reino Unido, subdiretor de Política e Parcerias Estratégicas do Comando Espacial dos EUA (SPACECOM), está empenhado em fortalecer as relações com as nações aliadas e parceiras existentes, atraindo novos parceiros no domínio espacial e construindo e mantendo uma vantagem competitiva para deter a agressão.
O Gen Bda Tedman falou com Diálogo sobre a parceria do SPACECOM com nações dentro da área de responsabilidade do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), bem como os desafios de segurança que enfrentam coletivamente no espaço.
Diálogo: O que é a Conferência Espacial das Américas e por que ela é importante?
General de Brigada Paul Tedman, do Exército do Reino Unido, subdiretor de Política e Parcerias Estratégicas do Comando Espacial dos EUA: A Conferência Espacial das Américas é uma reunião de nações das Américas do Norte e do Sul com ideias similares em matéria espacial. Espero que durante os dois dias da conferência desenvolvamos amizades através do respeito e confiança mútuos e discutamos como iremos cooperar para garantir um domínio espacial seguro, estável, protegido e sustentável.
As capacidades baseadas no espaço são vitais para o modo de vida global de bilhões de pessoas em todo o mundo e os agentes malignos que exibem um comportamento irresponsável continuam a colocar essas capacidades em risco. É por esta razão que devemos trabalhar juntos, para que todos defendamos comportamentos responsáveis no espaço. A Conferência Espacial das Américas é um excelente fórum para isso.
Diálogo: Quais são algumas das capacidades que o SPACECOM compartilha com nações parceiras do SOUTHCOM?
Gen Bda Tedman: As capacidades espaciais do Comando Espacial dos EUA apoiam diferentes missões nas Américas do Norte e do Sul. As principais capacidades que o Comando Espacial dos EUA pode compartilhar com as nações parceiras nas Américas incluem comunicações via satélite (SATCOM), Posicionamento, Navegação e Cronometragem (PNT), imagens e monitoramento meteorológico. Estas capacidades apoiam nossos parceiros, ajudando a combater o tráfico de drogas, a pesca ilegal, a mineração e o desmatamento.
O SOUTHCOM está expandindo seu engajamento espacial militar nas Américas, para trazer mais capacidade a nossos países parceiros. Uma Equipe Espacial Integrada Conjunta (JIST), estabelecida pelo SPACECOM, integra-se ao SOUTHCOM para coordenar esse apoio. O SOUTHCOM também está trabalhando para estabelecer um componente de serviço da Força Espacial dos EUA, muito parecido com o que aconteceu em novembro de 2022, quando o Comando Indo-Pacífico dos EUA estabeleceu o Comando Componente Indo-Pacífico das Forças Espaciais.
Diálogo: Que tipo de ameaças estão presentes no domínio espacial?
Gen Bda Tedman: As nações competidoras reconheceram a vantagem que os Estados Unidos e seus aliados e parceiros obtêm com o uso do espaço, para derrotar as ameaças no exterior e em nossa terra natal. Devido a isso, as doutrinas militares dessas nações concorrentes identificam o espaço como um elemento crucial para a guerra moderna e veem o uso das capacidades contra espaciais como um meio tanto para reduzir a eficácia militar como para vencer guerras futuras.
Por exemplo, a República Popular da China (RPC) continua a desenvolver capacidades contra espaciais para incluir Shijian-17 e Shijian-21, que são satélites com tecnologia de braço robótico. A tecnologia de braço robótico baseado no espaço poderia ser usada para agarrar e desativar outros satélites. A RPC também possui múltiplos sistemas de laser terrestres de níveis de potência variados, que poderiam cegar ou danificar irreversivelmente os satélites.
O SPACECOM está encarregado de proteger e defender os ativos espaciais mais cruciais contra essas ameaças e depende de uma sólida rede de nações aliadas e parceiras para fazê-lo. O SPACECOM, ao lado dos principais aliados e parceiros internacionais, procura impedir a agressão no espaço, para garantir um ambiente seguro, estável e sustentável para todos nós.
Diálogo: O que o SPACECOM aprendeu com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia?
Gen Bda Tedman: Acho que a guerra validou a importância do espaço nos conflitos modernos. A necessidade de ISR, PNT e SATCOM baseados no espaço foi fortemente demonstrada e, como resultado, vimos a Rússia tentar degradar e interromper essas capacidades. Não deveria haver dúvidas de que qualquer conflito futuro verá os sistemas espaciais dos EUA e dos aliados serem contestados. Talvez a lição mais importante tenha sido como a Ucrânia tem utilizado efetivamente as capacidades espaciais comerciais para apoiar suas operações. Eu diria também que a guerra tem destacado a importância dos aliados e parceiros. A forma como os países se uniram para condenar a invasão ilegal da Rússia na Ucrânia e o apoio aos esforços da Ucrânia demonstraram o que pode conseguir um coletivo de países com ideias similares.
Diálogo: Temos falado de “comportamentos responsáveis” no domínio espacial. Como são esses comportamentos? Como são os comportamentos irresponsáveis?
Gen Bda Tedman: O Comando Espacial dos EUA continua a desenvolver uma lista de comportamentos mais específicos, conforme direcionado pelo memorando do Departamento de Estado dos EUA, de julho de 2021, sobre os “Cinco princípios de comportamentos responsáveis no espaço”. Submetemos esses comportamentos à consideração do secretário de Defesa dos EUA, Sr. Lloyd Austin e, se aprovados, esperamos usar essa lista para criar entendimentos compartilhados entre os operadores espaciais sobre práticas operacionais de longa data, para aumentar a transparência e reduzir a falta de comunicação e as interpretações errôneas.
O comportamento irresponsável no espaço pode se manifestar de diversas maneiras. Por exemplo, a Rússia realizou, em novembro de 2021, um teste destrutivo de mísseis antissatélite de ataque direto. Neste teste, eles destruíram seu próprio satélite, mas isto causou a dispersão de milhares de pedaços de escombros em torno da órbita da Terra. Os detritos deste teste e de testes futuros como este colocam vidas em perigo. A estação espacial internacional foi até mesmo forçada a se reposicionar para evitar os escombros desta ação.
Diálogo: Que tipo de cooperação e coordenação para a investigação espacial e oportunidades de desenvolvimento o SPACECOM tem com as nações parceiras do SOUTHCOM?
Gen Bda Tedman: Em todo o mundo, as entidades dos setores público e privado reconhecem que um domínio espacial livre faz avançar a segurança de uma nação e promove a prosperidade econômica e a inovação. Brasil, Chile, Colômbia e Peru se juntam a outras 26 nações, duas organizações intergovernamentais e mais de 100 provedores de serviços comerciais via satélite, que compartilham o compromisso de comportamento responsável e seguro através da participação no Acordo de Compartilhamento de Dados sobre a Conscientização da Situação Espacial (SSA). Este grupo troca informações públicas para rastrear detritos espaciais e mitigar o risco de colisões.
A participação dos militares dos EUA na Conferência Espacial das Américas 2023 reafirma ainda mais o compromisso dos Estados Unidos com um comportamento espacial responsável ao lado de nossos aliados e parceiros. Demonstra nossa disposição de ajudar nossos parceiros em toda a região a desenvolver capacidades e competências espaciais para abordar sua segurança nacional.
Diálogo: Que oportunidades as capacidades espaciais podem trazer para a AOR do SOUTHCOM?
Gen Bda Tedman: A redução significativa nos custos de lançamento – em até dois terços – permitiu que muitos de nossos parceiros do SOUTHCOM desenvolvessem suas próprias capacidades espaciais. Assegurar que apoiamos nossos parceiros no desenvolvimento de suas capacidades espaciais é de grande importância para o USSPACECOM. Nós nos engajamos em parcerias que se baseiam nos valores comuns de um comportamento responsável, transparente e seguro. Embora não seja exclusivo, eu sugeriria que uma das principais maneiras de apoiar nossos parceiros do SOUTHCOM em termos de capacidades espaciais é através de conexão, alerta, orientação e informação de capacidades para combater a pesca ilegal, a mineração e o desmatamento.
Diálogo: A liderança dos EUA declarou que a China é o desafio número um; o que o SPACECOM está fazendo para garantir que estamos superando a concorrência?
Gen Bda Tedman: A recentemente lançada Estratégia de Defesa Nacional tem como eixo central a “dissuasão integrada”. O USSPACECOM está desempenhando seu papel para realizar esta integração, trabalhando estreitamente com aliados e parceiros para construir resiliência, incrementar a capacidade e impor custos aos nossos adversários. A Estrutura de Parceria Espacial do USSPACECOM está projetada para desenvolver a capacidade espacial e a dos parceiros de forma progressiva e flexível. Trabalhamos bilateral e multilateralmente para, em última instância, conseguir operações espaciais combinadas.
Como a RPC adota uma abordagem mais coerciva e agressiva no domínio espacial, o SPACECOM está trabalhando com aliados e parceiros para assegurar que prestamos serviços à Força Combinada e Conjunta, e protegemos e defendemos nossas capacidades espaciais: ninguém é melhor do que todos nós. Juntos somos mais fortes.