A subsecretária de Estado do Escritório de Defesa Nacional de Honduras, MBA Heidi Carolina Portillo Lagos, é a primeira mulher em seu país a ocupar esse cargo. Diálogo conversou com a subsecretária Portillo sobre os avanços de gênero e a questão dos direitos humanos nas Forças Armadas de Honduras, entre outros temas.
Diálogo: A senhora é a primeira mulher em seu país a atingir essa alta posição. Qual foi o impacto do seu cargo para as mulheres das Forças Armadas de Honduras?
Heidi Carolina Portillo Lagos, subsecretária de Estado do Escritório de Defesa Nacional de Honduras: As mulheres quebramos paradigmas diariamente. Antes de ser nomeada vice-ministra, ocupei vários cargos na Secretaria de Defesa Nacional (SEDENA), e me lembro que ouvíamos rumores que diziam “vão nomear o novo vice-ministro da Defesa”, pois esse posto estava acéfalo durante quase sete anos. Acho que nem sequer pensei que essa posição seria um dia atribuída a uma mulher, porque os costumes faziam supor que esse seria um cargo exclusivo para homens. Muitas das mulheres que integram as Forças Armadas de Honduras já me expressaram a satisfação e o orgulho que sentiram ao saber de minha nomeação, pois isso representa uma grande conquista para todas elas, porque permite que se reduzam as lacunas de gênero dentro da instituição militar.
Sou consciente de que falta muito trabalho por fazer nessa questão, mas até o dia de hoje temos conseguido que as forças armadas em seu mais alto nível visualizem o papel que as mulheres desempenham, visto que demonstramos ter as mesmas competências ou capacidades dos homens, e muitas vezes até as superamos. As mulheres que integram nossas forças armadas são excepcionais e merecem ter seu esforço, seu sacrifício e sua coragem reconhecidos. Como diretora de Direitos Humanos, tive a oportunidade de trabalhar com a temática de gênero, e agora como vice-ministra tenho a obrigação de fazer com que a equidade para as mulheres seja um tema prioritário nas Forças Armadas de Honduras.
Diálogo: Qual é seu principal objetivo nesse cargo?
Subsecretária Portillo: Meu objetivo principal é continuar o trabalho junto ao ministro da Defesa, General de Exército (R) Fredy Santiago Díaz Zelaya, para que a partir da SEDENA criemos ações para garantir que as forças armadas possam contar de maneira oportuna com os recursos econômicos e com a logística necessária para o cumprimento de nossa missão. Uma de minhas prioridades é dar continuidade ao desenvolvimento de alianças com os organismos que queiram colaborar para o fortalecimento das capacidades da instituição e consolidar o trabalho e os avanços em matéria de direitos humanos, obtidos com o apoio do escritório de Direitos Humanos do Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM) através da Iniciativa de Direitos Humanos.
Diálogo: Qual é o seu maior desafio?
Subsecretária Portillo: Tenho vários desafios, entre eles realizar uma modificação orgânica da SEDENA, para estabelecer uma estrutura mais sólida e funcional que nos permita promover o crescimento pessoal e profissional de nossos colaboradores, para que possam acompanhar desde a área administrativa o trabalho realizado pelas forças armadas. Outro de meus desafios é [continuar] a política de direitos humanos que vimos trabalhando com o SOUTHCOM, estabelecer as bases para criar uma política de defesa nacional e abrir um centro de capacitação de direitos humanos dentro das forças armadas, para que seja uma referência regional.
Diálogo: Em sua opinião, como está evoluindo o papel da mulher nas Forças Armadas de Honduras?
Subsecretária Portillo: A participação da mulher nas Forças Armadas de Honduras começou em 1996 e, desde então, vem evoluindo. Nesse momento, a patente mais alta que as mulheres alcançaram é a de coronel. A primeira geração de mulheres foi orientada para a área de serviços e não das armas e nossa legislação estabelece que para ascender ao grau de general é preciso ser da linha das armas, e atualmente temos mulheres que estão progredindo nessa linha. Quando as mulheres demonstramos que temos o nível profissional e a mesma capacidade que têm os homens, o gênero fica de lado, porque conseguimos que deixem de existir diferenças entre nós. Temos uma cultura mais aberta que permitiu que as mulheres avancem em suas carreiras dentro da instituição. Há muito trabalho a ser feito, e devemos continuar rompendo os esquemas e trabalhando nos regramentos que garantam que as mulheres possam ter maior equidade institucional.
Diálogo: Como sua experiência profissional como diretora de Direitos Humanos e Equidade de Gênero da SEDENA a ajuda a administrar a questão dos direitos humanos dentro das forças armadas?
Subsecretária Portillo: Em 2016, tive a oportunidade de criar a direção de Direitos Humanos e Gênero, uma experiência enriquecedora que me permitiu profissionalizar-me nesse tema e ser testemunha do profissionalismo das Forças Armadas de Honduras e do compromisso dos soldados nessa matéria. Com a temática dos direitos humanos e de gênero, nós já avançamos a partir das máximas autoridades, da junta de comandantes, que assumiram como parte de seus compromissos fazer com que as forças armadas estejam capacitadas para que nenhum integrante de seu pessoal cometa uma falta ou violação aos direitos humanos, seja através de uma ação ou omissão.
Diálogo: Como tem sido a relação de trabalho com o Instituto de Cooperação para a Segurança do Hemisfério Ocidental (WHINSEC, em inglês) e o SOUTHCOM, por exemplo?
Subsecretária Portillo: O WHINSEC e o SOUTHCOM nos ajudaram muito porque investiram muito em nossa educação. Com o WHINSEC, a experiência tem sido constante, já que todos os anos nossos soldados são capacitados ali, o que lhes permite conhecer outras estruturas e linhas de pensamento para fazer mudanças positivas em sua educação, formação, cultura e disciplina militar. Também trabalhamos no WHINSEC com um grupo de advogados, nas providências para estabelecer o grupo de assessores jurídicos operacionais em nossa força armada. Com o SOUTHCOM, sempre trabalhamos juntos e eles nos apoiaram muito com suas capacidades, não apenas no âmbito militar, mas também no educacional. É uma relação de trabalho e de amizade que permite que Honduras continue crescendo e profissionalizando-se.
Diálogo: Qual é a importância de ter estudado no Centro William J. Perry de Estudos Hemisféricos de Defesa?
Subsecretária Portillo: O Centro Perry nos permite ver a estrutura no âmbito regional e aprender com as experiências de outros países para poder criar mudanças em nossas instituições. Frequentei seus cursos, e em um deles falamos das estratégias de defesa e dos ministérios de defesa, e isso permitiu que eu tivesse outras visões regionais e pudesse implementar algumas dessas experiências na SEDENA, para ajudar com mais eficiência nossas forças armadas.
Diálogo: Qual será sua maior contribuição para as Forças Armadas de Honduras?
Subsecretária Portillo: A maior contribuição é abrir os espaços para que as mulheres possam escolher qualquer posição que desejem. Quebrar os paradigmas ajuda não apenas as mulheres, mas também os homens, porque lhes permite adotar novas tendências, novas linhas de ação e trabalhar de maneira mais eficiente e transparente para o crescimento institucional.