A Argentina e os Estados Unidos reconfirmaram sua visão estratégica comum para uma região mais segura: enfrentar a influência negativa da China, do Irã, da Rússia e do narcotráfico, que impactam a região e ameaçam a estabilidade da democracia na América Latina, disse a rede de notícias argentina Infobae.
“Esses países comunistas trabalham juntos […]. Quando podem, tentam fazer parcerias e desmantelar e minar a democracia e as instituições democráticas”, disse à Infobae a General de Exército Laura J. Richardson, do Exército dos EUA, comandante do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM). “Há muitos desafios na região em termos de organizações criminosas transnacionais […], que criam instabilidade e insegurança nos países, e essas redes criminosas assumem o controle.”
“China, Irã e Rússia alavancam seu poder econômico, incluindo o investimento estrangeiro direto e a entrada em seus mercados, para obter benefícios estratégicos na América Latina, obtendo acesso aos vastos recursos econômicos da região, como minerais de terras raras, petróleo, gás natural e outras riquezas, bem como economias ilícitas”, disse à Diálogo, em 10 de abril, Andrés Martínez-Fernández, analista sênior de políticas para a América Latina, do think tank norte-americano The Heritage Foundation. “A ameaça de perder o acesso aos investimentos e mercados chineses é uma ferramenta muito eficaz para Pequim coagir os governos da América Latina para que aceitem uma cooperação política, econômica e militar mais profunda e comprometedora.”
Por isso, a Estação Espacio Lejano, localizada na província argentina de Neuquén e operada pela China, com base em um acordo assinado em 2012, durante o governo de Cristina Fernández (2007-2015), continua a causar preocupações quanto ao seu uso militar. Em meados de abril, o governo de Javier Milei inspecionou a estação para garantir o cumprimento do contrato, informou a agência de notícias espanhola EFE.
A Gen Ex Richardson advertiu que este tipo de instalações espaciais “poderiam se traduzir em capacidades militares globais para apoiar o rastreamento, a vigilância e a conversão em metas de nossas forças armadas”, informa o jornal argentino La Vanguardia.
“Os laços militares da China na América Latina vêm com várias condições. Uma presença militar chinesa cada vez mais profunda inclui ligações entre militares e investimentos em infraestrutura econômica/militar de uso duplo”, enfatizou Martínez-Fernández. “Isso aumenta as tensões ou os conflitos, ao mesmo tempo em que permite que Pequim intimide os governos latino-americanos, com ações ou inações que eles devem [implementar], mesmo contra seus próprios interesses.”
A Argentina também sofreu com a infiltração do Irã na região: 32 anos se passaram desde o ataque à Embaixada de Israel e 30 anos desde o atentado à Associação Mutual Israelense-Argentina (AMIA), que foram atribuídos ao grupo terrorista Hezbollah e que continuam impunes, informou a cadeia CNN.
“Infelizmente, a Argentina foi vítima dos dois piores ataques terroristas antes de 11 de setembro. Ninguém pode dizer que essa ameaça desapareceu”, disse ao jornal argentino La Nación, em 31 de março, Marc Stanley, embaixador dos EUA na Argentina. “O Hezbollah ainda está presente, a Al Qaeda ainda está presente, o Irã ainda está presente. Na verdade, um avião venezuelano aterrissou recentemente aqui [talvez], com ex-membros da Al Quds [Guarda Revolucionária Islâmica]. Portanto, estamos comprometidos e em contato com a Argentina e outros países da região para trocar informações e melhores práticas com o objetivo de combater o terrorismo.”
Unidos por uma visão
O crime organizado está perpetuando a instabilidade e a violência na região. Pelo menos 117.500 pessoas foram assassinadas no hemisfério em 2023, detalhou InSight Crime, em seu relatório de 21 de fevereiro de 2024.
Diante dessas ameaças, os Estados Unidos mantêm sua posição de parceiro confiável e continuam a investir no desenvolvimento das capacitações na região, para combater esse flagelo. Como prova do relacionamento duradouro com a Argentina, o governo dos EUA doou uma aeronave Hércules C-130H TC-60 para a Força Aérea Argentina. A doação, avaliada em US$ 30 milhões, faz parte de um pacote de assistência dos EUA para ajuda humanitária e de segurança nacional, informou a Embaixada dos EUA.
“Os laços entre nossas forças armadas são tão fortes e profundos quanto os laços entre nossos povos”, enfatizou a Gen Ex Richardson durante a entrega da aeronave, em 3 de abril. “Temos o compromisso de trabalhar em estreita colaboração com a Argentina, para que nossos esforços colaborativos de segurança beneficiem nossos cidadãos, nossos países e nosso hemisfério de forma duradoura e positiva.”
O Ministério da Defesa da Argentina confirmou que a aeronave facilitará as operações aéreas e a conexão com a Antártica.
“As alianças devem estar ancoradas em uma visão comum do mundo e não devem se submeter àqueles que atacam os valores do Ocidente”, disse o presidente da Argentina, Javier Milei, durante a entrega da aeronave. “Nossa aliança com os Estados Unidos, demonstrada ao longo de meus primeiros meses de governo, é uma declaração ao mundo de que, após décadas de discursos bombásticos e pactos espúrios, a Argentina decidiu retomar o papel de liderança que nunca deveria ter abandonado. Essa nova política externa nos permitirá promover a prosperidade econômica de nossos povos, um requisito indispensável para garantir a soberania de nossa pátria.”
Durante o ano fiscal de 2024, os Estados Unidos alocarão mais de US$ 625 milhões para a cooperação em segurança com a Argentina. Os recursos se concentrarão no desenvolvimento profissional e de capacidades, na defesa cibernética e preparação para desastres, informou a Embaixada dos EUA em Buenos Aires. Com mais de dois séculos de relações diplomáticas, as duas nações continuam a fortalecer seus laços políticos, de segurança, econômicos e culturais.